17 agosto 2011

Série Tete em fotografia (4) - Igreja de Boroma

Prosseguindo esta série fotográfica sobre Tete, da autoria do jurista e ambientalista Carlos Serra Jr. A cerca de 20 quilómetros da cidade de Tete está a Igreja de São José de Boroma, construída em 1885 e em processo de triste deterioração. Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.

18 comentários:

Salvador Langa disse...

Mas que bela pintura! Mas vê-se que há partes estragadas. Tudo deverá ser feito para evitar perdermos este monumento.

ricardo disse...

Impressionante. Ate parece a Basilica de Yamoussoukro...

E mesmo a proposito de missionarios e penetracao colonial, uma versao História da Colonização de Moçambique escrita por portugueses. Um artigo muito interessante, para ser lido nas horas vagas:

http://www.revistamilitar.pt:80/modules/articles/article.php?id=344

Anónimo disse...

Um fresco admirável.
Cruz

Muna disse...

Sem duvida uma arquitectura Manuelina.

A pintura exalta o simbolismo religioso, propria da epoca.

Igual obra de arte pode ser vista na Ilha de Mocambique, alias, a nave tem alguma semelhanca com a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, tambem em estado critico de conservacao.


Zicomo

ricardo disse...

De repente, uma ideia louca. Ja que os brazucas da VALE estao ali por perto, que tal erguer uma cidade cinematografica usando a Igreja como plano central. Eu imagino que novelas da Globo, Record no estilo "Chica da Silva" dariam para reunir os cobres necessarios para sua reabilitacao e conservacao monumental...

Mas para isso, e preciso ousadia. E nao o pessimismo habitual que nos caracteriza quando e preciso tomar decisoes.

muna disse...

A ideia é boa mas insustentavel a curto prazo no nosso pais. Para haver essa rentabilidade tinha que se assinar um acordo entre a igreja e o Estado, e porque?

1. Para evitar que a igreja diga que o monumento em causa é nosso e os dividendos devem ser pagos a igreja;

2. Por outro lado, o governo dira, tambem com alguma legitimidade, que a igreja deve pagar impostos.

Portanto, vai ser um pingue-pongue sem fim. Solucao, um acordo entre as partes. Ontem dei exemplo de Portugal, hoje dei uma vista de olhos nos meus manuais e vi que toda a Zona Euro procede assim.

Ha uns meses atras, recebi de um ministro e de um embaixador duas respostas que me deixaram triste:

O primeiro disse-me que nao cabe ao Governo socorrer edificios em estado de degradacao, salvo esse monumento ou sitio for simbolo da luta armada e / ou com apoios de organizacoes sem o comprometimento financeiro do governo; o outro disse-me que a maior parte dos monumentos simbolizava o COLONIALISMO .

Fiquei triste com estas DUAS respostas.

Zicomo

Xiluva/SARA disse...

Super beloooooooooooooooooo!!!! Como deixam estragar uma coisa assim????????Os padres lá fazem o quê????

Arune disse...

Olha Xiluva, desde longos anos que os padres já nao rezam missa ali. Quando é para haver reza católica, essa é feita noutro local. Aquilo abandonado ficou e bandonado ficará.É uma pena imensa!!!! Julgo e logo espero que o bom amigo fotografo autor desta serie nos mostre mais adentro daquela igreja, dai todos poderao ver o grau abandono.

Xiluva/SARA disse...

Pior ainda saber isso!!!! Agora eu tambem espero fotos do interior!!!!

Anónimo disse...

Importa ter presente que as escolas de artes e ofícios, bem como os postos de saúde das Igrejas foram nacionalizados e os padres corridos!

Só com o fim da Constituição Socialista as Igrejas começaram a reaver alguns dos seus patrimónios, a recuperar escolas, postos de saúde e as próprias áreas de culto.

Por muito que custe, também se entende que o Governo, entre afectar fundos para salas de aula e equipamento escolar (temos mais de um milhão de crianças, sem carteira) e reabilitação de obras de arte (religiosas ou outras, pelo país fora) priorize a educação e saúde.

Daí a importância dos registos fotográficos ... podem bem ser o que restará daqui a umas décadas.

Carlos Serra disse...

Arune: irão aparecer fotos do interior da igreja, mostrando sinais de uso. Aguardo que o autor das fotos diga algo. Abraço. Natenda.

Muna disse...

"No meio de vós sempre haverá pobres; ao passo que Eu não estarei sempre convosco». Bíblia Sagrada

Pobres sempre haverá, mas uma igreja como esta, de arquitectura rara, jamais o tereis.

É preciso ver as coisas para além do dinheiro e não só. Quantos milhões pode trazer o turismo em Boroma? Quantas crianças podem ser resgatadas da pobreza em Boroma se investirmos no restauro destas obras?

Há cidades no mundo que vivem, apostam no seu desenvolvimento económico e social, fazem estudar seus filhos e até apoiam os países de economias mais frágeis ATRAVÉS do património, da cultura, desses edifícios abandonados.

Há uma pesquisa interessante do músico Moçambicano Júlio Silva sobre o desaparecimento do nosso património Material, Imaterial e Integrado, sobretudo na zona Norte do país e que, concluiu ele, que grande parte dos problemas rurais tem a ver com o facto de se estar a marginalizar este passado.

O mais importante não é o Estado investir financeiramente, mas sim reconhecer a existência do património. O primeiro passo é a INVENTARIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO PATRIMÓNIO, esse trabalho foi interrompido no tempo de Machel.

Enfim, o meu papel é chamar atenção para isso.

Zicomo kwambiri

nachingweya disse...

Muito interessantes as fotografias, ideias e opiniões aqui colocadas a respeito do monumento. O meu contributo é que sim, é um imperativo a restauração desta relíquia mas primeiro tem de se conhecer o detentor do título de propriedade e apurarem-se os projectos que tem em relação ao bem.(As tantas pensamos que a ruina está abandonada quando já foi vendida à IURD! Acontece em Maputo)
O primeiro endereço natural é a Igreja Católica através do Arcebispado. Se a Missão tiver sido nacionalizada então deve estar sob jurisdição do Ministério da Educação por causa da Escola de Artes e Ofícios anexa.
Quanto a materialização de projectos de restauração e preservação não me parece que o Estado tenha sensibilidade para o valor que este património representa. Sou mais favorável à mobilização de sinergias entre os actores económicos do Vale do Zambeze. Acredito que motivados, a HCB,CFM, a Vale, a Riversdale, a Jindal, a Hidroeléctrica de Mepanda Uncua, de Lupata , Boroma, Camargo Correia, Insitec, Cesul etc. podem muito bem desejar ver o seu dinheiro associado a uma candidatura da igreja de Boroma a património da humanidade pela Unesco. A própria Santa Sé também.
Não passando fica um roteiro turístico aí a mão por estrada e pelo rio.
Com uns dinheiros até se podem colocar lá uns jesuitas reformados a fazer horta e contar a história da casa.
É preciso estruturar o projecto. Pelo que vejo os autores de comentários sobre esta matéria estão sintonizados e podem muito facilmente embarcar num abaixo assinado por esta causa.
Reitero que um Estado que:
-Não consegue equipar com carteiras as escolas do país apesar de apreender diariamente madeira cortada ilegalmente
-Tem a pretensão de Penhorar por 100 anos, 1 século, território equivalente a 5 distritos de Morrumbala (60 quilometros quadrados) a estrangeiros para manipular o PIB,
-Relega para ONGs e Igrejas aparentemente depauperadas a segurança alimentar de seus habitantes,
não pode possuir tacto para monumentos além dos que pressupõem contrapartidas imediatistas.
E não é uma questão de recursos ou prioridades, é uma questão de noção, de sensibilidade.

ricardo disse...

Simbolos do Colonialismo?!

Saberia o douto diplomata que um povo sem historia, e um povo sem alma. E que a historia, e tao so a propria vida. Tem tanto de bom, como de mau...

Ora essa. E sao tipos destes que representam 20 milhoes de mocambicanos no exterior!...

Muna disse...

Para finalizar:

1. Veja-se o exemplo de Cabo-Verde: o que é que aquele país tem que se iguale a riqueza do nosso país? Praticamente NADA.

Mas aquele "pequeno" país decidiu avançar na reabilitação e preservação do património cultural, hoje são alavancas do desenvolvimento do país.

No princípio, lembro-me como se fosse hoje, foi difícil o governo convencer a sociedade civil local para transformar, por exemplo, o 'Tarrafal' em local turístico. Está aí o resultado.

Hoje toda a gente vai e quer ir a Cabo-Verde. Até já há um Centro de Investigação Cultural liderados pelos professores José Mattoso e Themudo Barata. Que beleza.

Os exemplos são muitos. O mesmo não acontece no nosso país. Quantas fortalezas andam abandonadas em Tete?

Alguma vez pensou-se em aproveitar esses espaço transformando-os em locais turísticos, associativos, etc?

Quantos turistas vão anualmente a Ilha de Moçambique? Meia dúzia. Existe no mundo um lugar com a especificidade da história da Ilha de Moçambique?

Portanto, falo isso com conhecimento de causa. Existem dados publicados pela UCCLA, GULBENKIAN, UNESCO, etc., que apontam para a destruição desses valores.

Isto não é dizer só por dizer.

'ndamala' ("termino")

Zicomo

Muna disse...

Em Património usa-se o termo "RESTAURO" e não "restauração" que está ligada à hotelaria.

Zicomo

nachingweya disse...

Dicionário de Lingua Portuguesa
Porto Editora, 8ª edição revista e actualizada, 1999, J Almeida e Costa e A. sampaio e Melo pag 1426:
RESTAURAÇÃO- s.f. acto ou efeito de restaurar, reparar, consertar, renovar; reparação, restabelecimento de forças depois de fadiga ou doença, conserto, reaquisição de uma coisa perdida; periodo da historia de Portugal que começou com a revolução de 1 de Dezembro de 1640 e terminou com a assinatura de paz com a Espanha em 1668;periodo da história da França que decorreu desde a deposição definitiva de Napoleão Bonaparte até à proclamação da Segunda República (nas duas últimas acepções grafa-se com inicial maiúscula) ( Do lat. testauratione,«id»)
RESTAURO:s.m. restauração (Der. regr. de restaurar)

nachingweya disse...

Em nyanja Zicomo grafa-se ZIKOMO na mesma lógica que Kwambiri não se escreve CWAMBIRI