11 agosto 2011

O espírito do trabalho que é suposto faltar-nos

"Deus chama cada um para uma vocação cujo objetivo é a glorificação de Deus. O pobre é suspeito de preguiça, a qual é uma injúria para com Deus" - João Calvino
Nas muitas veredas pelas quais se reverencia o que é suposto não termos, está uma palavra mágica: trabalho, o idílico trabalho. Num texto publicado no Mozahub, o presidente da Bolsa de Valores do nosso país, Sr. Jussub Nurmamadé, é citado dizendo que "(...) os chineses têm uma atitude em relação ao trabalho que nós não temos e é por isso que, em alguns casos, tem surgido alguns problemas. O chinês quando vai trabalhar é mesmo para trabalhar e muitos de nós não temos esta cultura de trabalho que os chineses têm; o chinês quando entra às sete tem metas e é isso que faz com que a China seja diferente." Por sua vez, o empresário Amad Camal também é citado afirmando que "Os chineses trabalham até aos fins de semana, trabalham nos feriados, trabalham em turnos, ou seja, o trabalho como um processo não pára e isso pode ser visto nas obras em que eles estão envolvidos, onde se trabalha em turnos." Aqui.
Observação: o trabalho surge, assim, como numa categoria amorfa, mágica, independente das relações sociais e da história,  incrustada como que por geração espontânea em certos povos (chinês, por exemplo) e ausente noutros (moçambicano, por exemplo). É preciso trabalhar sem parar, não importa como, quando ou por quanto tempo, mesmo se se está doente ou subalimentado. No registo discursivo político do nosso país abundam as maneiras directas e indirectas de dizer que os Moçambicanos são preguiçosos, que deviam trabalhar mais. Antes de 1975 também as elites coloniais pensavam dessa maneira. Por outras palavras, para recordar uma frase do velho Marx: a história repete-se duas vezes, à primeira como tragédia, à segunda como farsa. Este é um tema que merece uma pesquisa, o tema das representações sociais concernentes à suposta preguiça moçambicana, acoplado ao tema do apetite voraz do Capital e dos inúmeros acenos dinheirais que fazemos à China. Finalmente: sugiro recorde a minha série em 15 números intitulada Os Moçambicanos são preguiçosos?, aqui.

4 comentários:

Salvador Langa disse...

Professor com capitslismo os senhores da massa e seus intermediários só conhecem dos trabalhadores a tal preguiça, é assim que eles inventam essa "doença".E nós estamos interessados em ouvir os tais "preguiçosos"? A grana chinesa anda por aí em grande, logo...

Xiluva/SARA disse...

Será ´síndrome de Estocolmo´?????????????

Anónimo disse...

'Dezenas de empresas chinesas abriram unidades de produção na África do Sul e em outros países do continente africano nos últimos anos atraídas pelo custo de mão de obra mais barata do que na grande potência asiática. Todos os dias, às 6h30 da manhã, cerca de 6 mil funcionários se dirigem ao polígono industrial de Newcastle, leste da África do Sul, para trabalhar nas 70 fábricas chinesas estabelecidas em um dos principais pólos têxteis do país.'

http://www.administradores.com.br/comunidades/financas-pesquisa-e-ensino/717/forum/alheia-a-sindicatos-industria-chinesa-busca-mao-de-obra-barata-na-africa-epoca-negocios/7984/

nachingweya disse...

Talvez não seja dificil encontrar 6 mil excepções à regra em 40 milhões de entes. A busca de custos de produção mais baixos resulta da conta que busca maximizar lucros. Por esta mesma razão são poucas as empresas ocidentais que sobrevivem sem estar a produzir na China.
Porque não vieram logo para África se esta é até mais barata que a China? Por causa do continuado analfabetismo tecnologico africano. O que a china descobrie em Newcastle? Que os seis mil não criam e não atrapalham mas podem repetir que nem uma máquina sobretudo se forem maltratados.
Aqui entre nós, os chineses descobriram que o alcoól motiva os moçambicanos. E é assim que nas obras quando há necessidade de trabalho extraordinário o chinês compra 'Tentação'