Texto postado neste diário a 08 de Fevereiro de 2008: "Revolta popular contra a subida do preço do pão e das tarifas dos chapas. Sem dúvida. Melhor: parece não haver dúvidas. Mas o que é pão e o que é chapa (ou arroz e carvão e tomate)? São apenas coisas, o primeiro come-se, o segundo serve de transporte. Deixem-me enunciar um truísmo: pão e chapas são coágulos vivos de relações sociais, são repositórios de relações sociais. Então, a revolta popular não foi em última análise contra os preços do pão e dos chapas em si, mas contra relações sociais que favorecem uns e desfavorecem outros. Por isso os alvos da revoltas foram estradas, carros, bombas de gasolina, padarias, bancos. (...) pão e chapas eram apenas a ponta do iceberg. O iceberg é o compósito das múltiplas relações sociais crescentemente desiguais em Moçambique. É em Maputo onde as fronteiras das relações sociais são mais flagrantes, mais visíveis, mais tocáveis, mais rudes, mais sentidas. Os olhos são mais distraídos nas savanas e as almas mais sensíveis nas cidades (...)."
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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