01 março 2009

Mundo do Hip Hop em Moçambique

Percorri hoje montes de blogues dedicados ao Hip Hop no nosso país. Um mundo fascinante, com a sua linguagem peculiar (por exemplo: Sorry pexoal. O laptop da JUngle Musik foi abaixo. Por Ixo O blog tara off ate a makina voltar a operar), os seus anúncios, o seu entusiasmo, os seus cds, as suas esperanças. Tanto quanto julgo saber, não há ainda no nosso país uma pesquisa sobre esse mundo. Pessoalmente estaria interessado em conhecer os seus temas básicos, as suas palavras-ícone.

7 comentários:

Anónimo disse...

Adeus informalidade
28/02/09 00:01 | Lucy Kellaway

" Se os colaboradores do Google excomungaram a linguagem da Internet substituindo-a pelas fórmulas recomendadas no livro "Debrett's Guide to Etiquette and Modern Manners", é porque alguma coisa se está a passar (mudar?)."

" Decidi fazer pesquisas para perceber a dimensão do fenómeno da pontuação e obtive resultados surpreendentes. Analisei os últimos cem e-mails enviados pelos meus leitores e classifiquei-os em função do estilo, pontuação e grau de formalidade. Depois comparei-os com os textos que submeti a um teste semelhante numa crónica datada de 2000."

" O resultado foi contundente: o pêndulo oscila cada vez mais para uma linguagem mais formal e menos para o desleixo e informalismo que tomaram conta da linguagem nos últimos anos. Em 2000, mais de 25% dos e-mails eram redigidos numa linguagem descuidada. Nos cem que agora analisei, apenas um maltrata as maiúsculas. Ocurioso é que o seu autor não é um jovem imberbe e, sim, um indivíduo que trabalhou em Wall Street nos anos 60. Quero pensar, com base noutras trocas de e-mail em que o cavalheiro usou sempre uma linguagem cuidada e sem erros, que a ausência de maiúsculas neste e-mail se deveu a problemas com a tecla ‘shift'."

"Na minha primeira "auditoria" deparei-me com um vasto leque de abreviaturas, na sua maioria inestéticas. Uma das mais recorrentes era "bjs" que, para mim, amputa a beleza da palavra por extenso e me leva a pensar que quem me escreve está ocupado ou com a cabeça noutro lado para se dignar a teclar mais duas letrinhas, quando este esforço podia fazer as delícias do receptor."

"No grupo de e-mails de 2009 detectei somente um "bjs" e registei o regresso de fórmulas de despedida como "Cordialmente" ou "Seu sincero". Da mesma forma que celebro o regresso ao uso do apelido comparativamente a 2000, altura em que estava praticamente em extinção. Hoje prevalece a fórmula "Sra. Kellaway", ou o nome completo "Lucy Kellaway", muitas vezes antecedido da minha saudação preferida "Cara Sra.". Quero acreditar que voltou a estar na moda e que destronou saudações como "Olá" ou "Boas!", em voga nos primeiros anos de 2000 e que parecem agora condenadas a cair em desuso."

"Não me surpreende que o pêndulo tenha começado a oscilar neste sentido: tal como a recessão inspira os homens a usar gravata, também nos inspira a levar a elegância mais longe, usando mais e melhor a pontuação e as maiúsculas. Quando as pessoas estão em vias de perder o emprego tendem a ver no uso correcto da pontuação e na indumentária cuidada uma espécie de política de segurança contra todos os riscos... ...

Carlos Serra disse...

Bem...

Paula Araujo disse...

Boa noite Professor

Desta vez sou eu que estou com Xicuembo. Cada vez que quero escrever no seu blog, o meu pc prega-me uma partida. Vamos ver se é desta, tanto mais que o tema me é caro.

O Hip Hop é o herdeiro da tradição das canções de intervenção social dos anos 60 e 70. Infelizmente, alguns rappers optaram por assumir uma faceta comercial, ostentando sinais de riqueza nos clips, desvirtuando aquilo que outros rappers tentam manter como a genuinidade do Movimento.

A RTP e a organização católica Philos levaram a efeito há cerca de 3 meses em Portugal um espectáculo intitulado "Hip Hop Pobreza Stop" que confirma o carácter interventor do Hip Hop.

Paula Araújo
Orgulhosa mãe do rapper MC Dyze

Carlos Serra disse...

Oh, Paula...Espero que esse xicuembo suma rápido!

Anónimo disse...

Professor, creio que o Professor ainda vai se impressionar muito com este mundo do Hip-Hop. De facto ele é muito interessante, para quem presta atenção ao conteúdo das suas letras. Fala-se de tudo neste mundo, riqueza,fome,guerra.... Nem preciso apresentar Azagaia, mas temos muitos outros.

Anónimo disse...

Boa noite Professor. Lisboa em linha a dar o contributo para o seu blog.

Em primeiro lugar, e pegando naquilo que a Paula (minha orgulhosa mãe) disse, há de facto um movimento hip-hop que segue duas linhas distintas. Uma mais puritana, outra mais comercial. Ainda que ambas por vezes se cruzem, pois nem no hip-hop o mundo é preto e branco.

Este facto deriva sobretudo do boom financeiro que este estilo teve no final dos anos 90, beneficiando da morte dos rappers Tupac e Notorious BIG, ambos assassinados, tendo sido criados novos icones num movimento até então, marginalizado. Uma espécie de substituição ao fenómeno Kurt Cobain (Nirvana)

A partir daí, ou sobretudo a partir daí, passámos a ter rappers de várias cores, de várias camadas sociais, de todos os cantos do mundo, com vários estilos musicais e liricos. Isto introduziu uma variedade ao movimento que fez com que as editoras passassem a apostar mais neste estilo, sendo agora possível também atingir a chamada classe média com estes sons.

Mas, em meu entender, é também aqui que se dá a cisão do movimento. Atingir a classe média significa falar de assuntos com os quais estas pessoas se possam identificar. Ou seja, começa aqui o hip-hop comercial, para a rádio, para dançar, que mostra o champgne e as miudas semi nuas nos videos.

Ao mesmo tempo, a linha dura do hip-hop combate este mau caminho, continuando na sua luta politico-social, "excomungando" estes rappers do movimento. Podemos ter também uma linha dura do hip-hop menos preocupada com questões politicas, mas então obrigatoriamente virada para o break-dance, sem se deixar contagiar pelos dólares que geraram rappers como Puff Daddy, Nelly e outros desse género.

Uma coisa que noto, é que muitos rappers da linha dura acabaram por sucumbir à tentação dos dólares. Começaram por ser marginais, rebeldes, revolucionários, e hoje em dia fazem duetos com fadistas ou musicas pa abanar o rabo só porque as editoras e as vendas assim dão mais dinheiro. Mas também percebo que é preciso por comer na mesa. Mas se é pra por comer na mesa, então não é preciso o champagne, e os fios de ouro, e os grandes carros. Esses já são criticaveis (50 Cent, Mobb Deep, Boss AC são alguns exemplos) Venderam a alma...não os considero hip-hop (mas a MTV diz que sim ehehe)

Eu mantenho-me na linha dura. Não preciso do hip-hop pa comer. Trabalho noutra coisa, e faço hip-hop por amor, por consciência. Isso leva-me a ser um critico de muita coisa que se passa dentro e fora do movimento. Sou admirador de Azagaia, Valete, Immortal Technique, Dilated Peoples, Psycho Realm. Rappers que rimam a vida diária como um tormento, com o sonho de um dia a tornar melhor. Rappers que nos inspiram a combater as dificuldades sem nos vergarmos ao poder dos mais fortes, dos mais ricos...

Para mim, hip-hop é luta! E como diz aí um amigo noutro post, ainda não vimos nem metade do que este movimento pode fazer. Com a situação actual, com a classe média a roçar pobreza, o alvo do hip-hop deixa de ser uma pequena faixa da população para passar a ser a maioria. E aí todos vão perceber do que é que falamos...e já não nos vão considerar marginais!

Quanto ao palavreado e aos códigos do hip-hop, esse exemplo que pos no seu post não tem a ver com o movimento hip-hop mas sim com as mensagens de telemovel. Os jovens querem poupar uns trocos e energias e então abreviam tudo e começam a escrever mal. A internet e a televisão não ajudam pois esses meios começam também eles a adoptar esses sinais de comunicação.

O que pode considerar códigos de comunicação hip-hop é mais ao nível dos cumprimentos ou mesmo na linguagem gestual. Tendo em conta que muita gente no movimento hip-hop tem um passado ou presente em gangs, muitos dos sinais de rua acabam por entrar na comunicação desta musica.

Se eu chamar dog a um amigo, não lhe estou a chamar cão. Estou a dizer que ele é meu fiel amigo. My dog, my nigga, mi vato. Amigos, irmãos, etc.

Muitas vezes na despedida dizemos "peace". Significa que desejamos paz/tranquilidade para quem nos estamos a despedir, ainda que o termo esteja muito banalizado e muita gente já nem pense nisso quando o diz.

A maioria do vocabulário usado neste movimento é "importado" dos USA, pelo que para melhor compreender o variado vocabulário é melhor consultar um slang diccionary online. É verdade! Existem vários eheheh

Um abraço de Lisboa e muita paz
DYZE (o orgulhoso filho da Paula)

Carlos Serra disse...

Obrigado, Dyze! Espero que que o seu texto seja aqui lido. Farei uma postagem especial. Abraço!