01 dezembro 2008

Fraude e efeito tenaz (4)

Propus-vos, já, que, a propósito das tenazes, pensássemos num caranguejo e nas suas duas tenazes. É com elas que o bichinho captura e mata as presas. Aproveitemos essa tenaz realidade crustácea e chamemos efeito tenaz àquele que consiste em ficarmos reféns de duas teorias rivais de visão do social eleitoral. Rivais em relação a quê? Em relação à produção ideológica. O que se deve entender por produção ideológica? Por exemplo isto: "A produção de ideologia é (...) a produção de ideias dentro da estrutura intelectual das relações sociais existentes, de uma forma que obscureça a totalidade da qual fazem parte e, assim, a possibilidade de alterar essas relações."
Disse-vos que a primeira teoria tem a ver com a produção ideológica de fraude eleitoral a cargo de militantes da Renamo e/ou de seus aliados. A Renamo transformou e transforma a fraude no recurso exclusivo e primordial da luta política e do escamoteamento dos seus problemas. A concentração ideológica nesse recurso - nesses autênticos obuses discursivos - começa mesmo antes das eleições e irriga por inteiro o discurso retroactivo ("se não fosse a fraude nas eleições passadas...").
Mas vejamos, agora, a produção ideológica de anti-fraude eleitoral a cargo de militantes da Frelimo e/ou de seus aliados.
Sistematicamente, militantes da Frelimo e/ou seus aliados têem atribuído à fraude o dedo ideológico da Renamo, têem procurado escamotear os exemplos de fraude detectados desde 1994, ainda que ela não tenha afectado o geral dos resultados. Deslocando a fraude para o campo exclusivo da malevolência da Renamo, a Frelimo tem procurado vincar a transparência dos processos eleitorais e, por essa via, tornar evidentes e indiscutíveis os resultados dos sucessivos pleitos eleitorais ocorridos no país. Se o problema está com a Renamo, se são totalmente impolutos os mecanismos eleitorais, então a única coisa que se deve fazer é melhorar tecnicamente o sistema de votação. Porque, politicamente, o povo está com a Frelimo e, por isso, são inconsistentes as alegações de fraude - este é o discurso permanente nos porta-vozes mais em evidência do partido. O lema será, cada vez mais forte, o seguinte: o que parece não é. E se é, é fraudepatia da Renamo. Também neste caso o discurso retroactivo é e será simples: "a Renamo sempre falará em fraude para justificar as derrotas".
(fim)

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é professor a Renamo não se arrepende com as cabeçada que leva da frelimo. Na beira a Renamo se associou à Frelimo para derrubar Daviz homem importante que podia dar uma mão a Renamo, e agora se fala de intelectuais até o Mazanga haja que o Mussa, Colaço e Araujo têm culpa nessa bagunça do partido.

Anónimo disse...

Estão querendo tapar o sol com a peneira. A culpa de a Renamo ter caido na preferencia dos votantes é dividida: Uma parte cabe a desigualidade de meios para fazer politica, enquanto a Frelimo se vale da sua umbelical ligação ao estado, meios financeiros proprios e do empresariado, politica de exclusão aos que não são seus membros, aliciamentos monetários aos da oposição,jogadas baixas. propaganda barata contra o " inimigo" etc etc. A Renamo por seu lado pouco fez desde o fim da guerra para se tornar num partido coeso e com ligação permanente entre o topo e a base. Trabalhou pouco. Tomemos o exemplo das provincias do sul:Nada foi feito, em moldes cientificos para inverter o cenario de desagrado que este partido tem. As bases estão abandonadas. Por outro lado os municipios que estavam sendo geridos pela Renamo caíram nas mãos da Frelimo porque não existiu um trabalho sério de mobilização. Onde andavam os líderes da Renamo durante a campanha? queriam ganhar sentados? Muito antes das eleições muitos bloguistas vaticinavam uma pesada derrota e até davam dicas para atenua-la. Se leram, nada fizeram. Hoje se insurgem contra a ala intelectual da Renamo, tentam culpa-los da derrota. Que mentes tão tacanhas! Desde a prim legislatura, nunca a bancada da Renamo teve um comportamento como o verificado na actual. Temas bem apresentados, contestaçoes e debates bem equilibrados ao ponto de obrigarem o Chefe de Estado a recuar em algumas inconstitucionalidades. São os guerrilheiros que irão legislar de entre os poucos deputados que elegerão em 2009? se assim o preferirem, boa sorte. Lembrem-se do que escrevemos, não para vosso bem , mas sim do país pois pretendemos uma oposição credivel.