07 junho 2006

Corpo à mostra, passaporte para a prostituição e para a SIDA

Segundo o jornalista Victorino Xavier, do diário “Notícias”, líderes comunitários, mulheres, empresários e religiosos queixaram-se ao governador da província de Inhambane do facto de que as jovens activistas que tentam alertar as comunidades para o perigo da SIDA se apresentam muitas vezes com “roupas curtas” e “umbigo fora” (sic), violando “hábitos tradicionais” e suscitando a prostituição. Mulheres disseram que corpo à mostra é passaporte para a prostituição, pois os homens não resistem a isso. Que no seu tempo elas tapavam os corpos, com vestidos ou saias “até aos joelhos e as blusas bem largas escondendo todo o corpo” (“Notícias de hoje, p.2).
Não sei quantas pessoas realmente traçaram esse quadro sombrio.
Também fiquei sem saber o que são “hábitos tradicionais”.
Acresce que o jornalista é omisso sobre que critérios foram usados por quem falou para estabelecer a relação entre corpos desnudos e prostituição.
Seja como for e admitindo com sensatez que a descrição do jornalista corresponde ao que efectivamente foi dito, estamos confrontados com um choque de idades, de civilizações e de concepções da vida e do corpo.
Parece ser característica social dos seres humanos apontarem as suas épocas como repositórios dos verdadeiros bons costumes.
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O “Notícias” é um jornal muito oficial, muito governamental. Mas nas entrelinhas e, mesmo, em certos trabalhos colocados de frente, contém muita informação vital, muitas maneiras ricas de ler os fenómenos. É um excelente laboratório de estudo para os sociólogos.

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