25 junho 2006

Sempre mais fundamente

Sabes, sociólogo, neste social em que vives não é o que vês que é fundamental, mas o que não vês ou não podes ver ou não queres ver.
É sempre aquela pequenina coisa – que os seres humanos tornam grande, terrível, triste ou imensamente alegre – que nos escapa, que é rebelde ao nosso treino de faculdade e aos muitos manuais que soterram a nossa capacidade de espanto, embotam o nosso sentido arqueológico e amordaçam aquela alma fascinante que nos pode conduzir a procurar mais fundamente, sempre mais fundamente.

1 comentário:

PL disse...

Serra e a aventura epistemológica: E o que ‘vemos’ fica ao encargo de quêm estudar?

“Sabes, sociólogo, neste social em que vives não é o que vês que é fundamental, mas o que não vês ou não podes ver ou não queres ver.”(Serra, 2006)

Esta premissa é desconcertante, para mim! Desconcerto que se revela na confusão de pensamento que me sucitou e que, no entanto, não exito partilhar. Perdoaí-me, então, por pensar alto!
E o que vemos fica ao encargo de quêm estudar? E o que vemos, é mesmo o que achamos vêr? Como procurar o que não vemos ou o que não captamos com os nossos orgãos sensoriais? Não estariamos a procura de uma agulha no palheiro? Da agulha, temos pelo menos a idea. E do que não vemos no social, alguma ideia? Nada! Como procurar o NADA? Como fazer do nada, fundamental? Parece-me, as vezes, que é justamente porque vemos que o ignoramos! Por ser familiar, naturalizado como sugere a entrada abaixo!
Neste caso, qual a atitude epistemólogica recomendável? Procurar o que não vemos ou começar pelo que ‘achamos’ que vemos? A atitude epistemológica que advogo é, aquela de, questionar o que vemos! O que achamos que vemos! Assim como sugere a alegoria da Carverna de Platão! Comecemos pelas sobras... que vemos, pois é o único ponto de partida possível. Penso!
Como dizia algures E.M.: todo mundo sabe o que é corrupção até que nos perguntem. Para descobrirmos que não sabemos. Afinal o que queres dizer quando dizes corrupção? Penso, portanto, que devemos questionar o que vemos, achamos que vemos, pensamos, sentimos etc!
É meio caminho para descobrir-mos que o que achavamos que viamos, afinal, não é o que passamos a ver. Como dizia o velho Marx, cito-o de memória: “Se ciência e a aperência se confundissem, a segunda seria supérflua!

Patrício Langa
Cape Town
26/06/06