13 dezembro 2009

Já nos descolonizámos? (5)

A mecânica da dominação tem duas componentes: o impulso e o aguilhão. O impulso é a ordem dada; o aguilhão é o efeito da ordem guardado no inconsciente do dominado (ideia de Elias Canetti)
Mais um pouco desta série.
Tal como escrevei no número anterior, o colonizador concebia o sobressalto social interno como produto de forças externas, jamais como produto de forças internas.
Ora, a nível de círculos produtores de opinião oficial, a nossa independência manteve inalterável esse padrão epistemológico.
Por exemplo, a Renamo foi sempre encarada como criação dos regimes da Rodésia do Sul e da África do Sul e não, também, como protesto social interno, como protesto moçambicano. O MDM é concebido como emanação da Renamo ao serviço de obscuros interesses estrangeiros. A revolta popular de Fevereiro de 2008 foi lida como obra de uma mão externa. Os exemplos poderiam ser multiplicados.
(continua)

1 comentário:

ricardo disse...

Os filhos sao moldados pelo comportamento dos pais, ainda que estes ultimos, sejam odiosos ou crueis.

Principalmente em Mocambique onde vivemos sempre enclausurados em "conventos sociais". Mas ainda nao o evidenciamos, porque Saramago nao nasceu ca.

Eis a diferenca capital face ao modo de ser perante os problemas, entre sociedades moldadas pelo protestantismo, que normalmente, e progressita, e as moldadas por outras correntes religiosas conservadoras, como e o caso de Portugal e suas ex-colonias.

Com excepcao do Brasil, que de 1822 para ca adoptou uma corrente mista, como soi dizer-se, com as comunidades italiana (norte de Italia) e alema a terem cada vez mais, preponderancia no processo de desenvolvimento socio-economico e ate politico, nao obstante ser o Brasil, ainda um pais conservador no que toca a religiao. O que na verdade, e uma replica do processo de construcao dos EUA, o exemplo planetario do progressismo social.

No tempo do Socialismo, na guiza do materialismo dialectico, o sobressalto social interno foi estrategicamente apartado do processo auto-critico revolucionario. E isto, nao so aconteceu em Mocambique, mas em todos os paises que escolheram aquela via politica. Pese embora, haver, mas so implicitamente, que esse era um factor omnipresente. Assim, seria possivel vermos grandes debates sobre milhentas maneiras para aumentar a producao de cereais ou do caju por exemplo, mas em momento algum se permitia o questionamento do quem, como e porque se deveria fazer isso. So que, repentinamente, os "inevitaveis" eram subitamente arrancado de cena!

E a nossa heranca e pesada.