Em Moçambique, na Assembleia da República, deputados da Renamo acusaram o governo do presidente Guebuza de favorecer a nomeação de pessoas do sul do país (esta é um argumento tradicional no seio da Renamo).
Na África do Sul, sindicalistas acusaram a primeira-ministra da província do Cabo Ocidental, Helen Zille, de ter formado um governo com predominância de brancos (um pouco sobre a biografia de Helen, confira aqui).
Adenda 1 às 13:19: aqui está um mesmo tema, um mesmo problema, mas com dois embrulhos de cores aparentemente diferentes. Num caso invoca-se a origem da comunidade, no outro a origem da pele. O que está dentro de cada embrulho? Etnicismo em si? Racismo em si? Não: luta por recursos de poder, benesses e prestígio. É esta realidade que produz o apelo valorizador da identidade, regional num caso, racial noutro, apelo que surge como colhendo em si próprio a sua razão de ser ao mesmo tempo que situa a exigência de desagravo ao nível técnico-moral de uma mera injustiça nas quotas identitárias.
Adenda 2 às 17:12: a vingança identitária - verdadeira lei de talião - costuma funcionar em muitas pessoas com este pressuposto: "no dia em que eu puder, darei à tua identidade as mesmas dolorosas condições subalternas da minha".
3 comentários:
Os factos aí estão para confirmar tudo isso.
Parece-me ser verdade.
Mas há um porém, como se diz no Brasil.
Helen Zille já era bastante conhecida na província do Cabo Ocidental, e agora reganhou o governo provincial com reforço da sua legitimidade.
Basta olhar para ela, e TODA a gente vê bem que é branca...
Não si pintou, mesclou, disfarçou a cor para enganar o eleitorado...
Como se a côr tivesse muita importância, mas já que são colocadas assim as questões!
DEMOCRATICAMENTE, LIVREMENTE, CONSCIENTEMENTE
votaram nela, e ela, simplesmente
GANHOU.
É isso que não lhe perdoam - foge da hegemonia do ANC e sua aliança comunista.
É um sapo que tiveram de engolir, uma pedra bastante incómoda no sapato.
Se fosse preta estaria ao serviço do neocolonialismo, imperialismo, e outros usuais termos.
Mas o cerne da questão é que tem
LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA
e parece não ter quaisquer complexos.
Agora, ainda que mal pergunte:
- A Frelimo tem essa legitimidade democrática?
Helen Zille escolheu gente do Cabo para governar o Cabo, governo provincial.
Agora escolher gente provincial para governar o nacional,
é o oposto,
O CONTRÁRIO
è, ou não é?
Prof. Serra, parabens por trazer os dois factos que parecem semelhantes. Quem mais escreverá assim sem os separar? Tal iguail vimos na questão do Zimbabwe não há os que legitima a questão das nomeacões nacionais em Mocambique, mas acha ilegítimo a nomeacão do governo do governo local na África do Sul? Que se acha da ameaca do COSATU? Estes factos acontecem no momento próprio.
É uma velha tradicão no seio da Renamo?
Pode ser, mas isso seria apenas no contexto de exprimir sem medo ou receio, pois isso não fazer parte da disciplina partidária. Não nos iludamos, mesmo membros da Frelimo podem estar a lamentar sobre estas nomeacões de Armando Guebuza, embora em discurso público digam o contrário.
Em Mocambique há muito receio em se falar de questões de inclusão, equilibrios regionais e étnicos, assimetrias regionais, zonas rurais e urbanas e até pobre e rico. Se a pessoa levanta isto é logo rotulada como perigosa, irresponsável, etc, etc,
Para mim, os dois casos são essencialmente étnicos, sendo um ao nível nacional e outro local e são comparável no nosso país.
Agora uma pergunta: qual é a legitimidade do COSATU em promover greves na província do Cabo? Pergunto isto por duas razões. 1. COSATU é uma organizacão central e não propriamente local, isto é de Cabo Ocidental. 2. COSATU é aliado do ANC e durante a campanha eleitoral exortou aos sul-africanos a votarem no ANC, portanto, nenhum desses que ameacam agora à Helen Zille votou nela. Comparando, em Mocambique seria legítima uma manifestacão da OMM contra o Conselho Municipal da Beira (o único hoje fora da Frelimo)?
e agora????
'e culpa de RENAMO!
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