Como explicar o silêncio, a cumplicidade da quase totalidade dos membros da União Africana perante o que se passa no Zimbabwe?
No número anterior, coloquei três hipóteses: a do companheirismo africano, a do camaradismo político e a do parceirismo da mão estrangeira. Expliquei que tentaria meter-me dentro de cada uma delas e dos seus defensores públicos e privados, coisa que me parece bastante difícil, convireis. A primeira já foi apresentada. Passo à segunda.
O camadarismo político tem a ver, em primeiro lugar, com os laços especialmente criados nas lutas de libertação nacional e, em segundo lugar, com as afinidades de ideais políticos.
Não fizemos juntos - mesmo se uns mais à frente no tempo (FRELIMO em relação à ZANU, por exemplo) -, não trilhámos juntos a saga das lutas, não vivemos juntos alegrias e tristezas, vivos e mortos, não estivemos juntos na mata, em fóruns internacionais, não nos protegemos mutuamente, não contribuímos todos para que cada frente chegasse ao fim, derrubando o colonizador e alcançando a independência? Come on comrades!
E, depois, sejam quais forem as diferenças de percurso e de detalhe, não estivemos na mesma trincheira política, no mesmo baluarte ideológico, na mesma tentativa de construir uma sociedade diferente, mais justa, menos vergada aos ditames do capitalismo e dos príncipes das organizações inetrnacionais, FRELIMO ontem, ZANU hoje? Ok, a FRELIMO não tem mais nenhuma ligação com o socialismo, é cristalinamente capitalista agora, a ZANU quer tê-la, ao que parece (se é ou se parece, isso é irrelevante, comrades!), mas a diferença actual não invalidará nunca a nascente de onde viemos, o útero da luta em comum. Camaradas ontem, camaradas sempre. Come on comrades!
Houve, há problemas, haverá problemas? Pois claro que sim! Onde há luta há problemas. Vida é dialéctica. A vida ensinou-nos a força dos contrários, não é preciso ir ao baú do Hegel ou à oficina do Marx para descobrir o descoberto. Aqui em Moçambique, logo a seguir à independência, não apareceram partidos a disputar o direito histórico da Frelimo à gestão do país? Então, comrades! E depois tivemos outros problemas, produto da luta dos contrários, a acção do imperialismo, dos regimes racistas da Rodésia e da África do Sul, coisas que nos obrigaram a operações de recurso, a actos extremos como as chicotadas, os fuzilamentos, a operação produção, a luta militar contra o agente interno do inimigo externo, estão a ver, comrades? E depois, quando a tempestade amainou, lá para 1992, tivemos também alguns problemas nas eleições, coisa normal, claro que houve protestos internacionais com fraude nas últimas eleições de 2004, mas tudo se compreende, o nosso papel de libertadores continua em frente, somos camaradas não importam os problemas conjunturais e estruturais, sabemos bem de onde sopram os ventos e por quê. A luta continua. Vocês, ZANU, comrade Mugabe, ainda estão a atravessar o deserto, tempos melhores chegarão. Tendes aí essa gentinha dos Tsvangirais e dos MDCs. A gente compreende-vos profundamente. Mas nós estamos convosco, até ao fim, somos o mesmo lastro. Estamos certos de que vocês vão ter que fazer algumas mudanças cosméticas , nós também tivemos de as fazer, é a dialéctica, comrades.
Nós ajudámo-vos, albergámo-vos em nossa casa. Quando chegou a altura, o vosso exército nos ajudou contra a desestabilização. As nossas casas sofreram é verdade, mas os nosso sangues misturaram-se ainda mais. Por isso, comrades, sempre estaremos juntos, por isso compreenderemos os sacrifícios que tereis de fazer para convidarem para a vossa mesa os Tsvangivais e os MDCs. Não tivemos nós de fazer o mesmo com as RENAMOS e os Dhlakamas? Parabéns pela vitória eleitoral, comrade Mugabe! Come on comrades!
Sejam quais forem os escolhos de percurso, estamos juntos, o futuro pretence-nos, somos os libertadores, libertadores ontem libertadores para sempre, as pátrias de hoje são nossos produtos de ontem, pertencem-nos. Venceremos! E se vos acontecer passarem ao capitalismo (paciência, lá chegará a vossa vez) bem sabeis como agora somos bons nisso, por isso contem connosco, sempre. Come on comrades!
Nós ajudámo-vos, albergámo-vos em nossa casa. Quando chegou a altura, o vosso exército nos ajudou contra a desestabilização. As nossas casas sofreram é verdade, mas os nosso sangues misturaram-se ainda mais. Por isso, comrades, sempre estaremos juntos, por isso compreenderemos os sacrifícios que tereis de fazer para convidarem para a vossa mesa os Tsvangivais e os MDCs. Não tivemos nós de fazer o mesmo com as RENAMOS e os Dhlakamas? Parabéns pela vitória eleitoral, comrade Mugabe! Come on comrades!
Sejam quais forem os escolhos de percurso, estamos juntos, o futuro pretence-nos, somos os libertadores, libertadores ontem libertadores para sempre, as pátrias de hoje são nossos produtos de ontem, pertencem-nos. Venceremos! E se vos acontecer passarem ao capitalismo (paciência, lá chegará a vossa vez) bem sabeis como agora somos bons nisso, por isso contem connosco, sempre. Come on comrades!
Adenda: entretanto, sobre o Zimbabwe, sugiro-vos a leitura destes dois trabalhos estrangeiros, aqui e aqui. Se quereis ler em português, usem este tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio das referências. No que à prata da casa concerne, leiam este saboroso texto de Djenguenyenye Ndlovu, publicado no “Notícias” de hoje.
2 comentários:
Menos paternalista. Mais equilibrado.
Vamangue
Bela ironia, bem à maneira.
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