10 julho 2008

Apóstolos da desgraça e da graça

Em reunião do comité central do partido Frelimo, o presidente Emílio Guebuza vituperou aqueles que, segundo ele, são falhos de auto-estima e se comprazem na crítica e na alegria de verem os infortúnios do país. Parece que foi especialmente sobre a crise dos combustíveis e dos cereais (a crise é mundial, não moçambicana, defendeu o presidente) que ele "criticou os seus críticos" (como escreveu o jornalista Raul Senda do semanário "Savana" desta semana, p. 3; reacções críticas de Amad Camal, ex-deputado da Frelimo e de Eduardo Namburete da Renamo, encontram-se na mesma página). Que expressão Guebuza usou? A seguinte: apóstolos da desgraça.
A partir de agora e porque estamos muito próximos do período eleitoral (autárquicas em Novembro, legislativas e presidenciais próximo ano), além de estarmos mergulhados num cerrado debate sobre as virtudes e os defeitos do mugabismo, a expressão "apóstolos da desgraça" vai, creio, penetrar rapida e mimeticamente nos gabinetes estatais e políticos do País e transformar-se num ariete imediato e de pendor mackartista contra quem pensar diferente, sobre quem pura e simplesmente criticar, sendo de prever que as malhas da intolerância se tornem cada vez mais apertadas e musculadas.
Assim acontecendo, vamos ver multiplicar-se o campo político e politizado dos apóstolos da graça (sem dúvida, no sentido dos que são capazes de falar por inspiração divina), dos demiurgos da verdade eterna, daqueles que, iluminados, possuem a capacidade única de saber o que está ou não bem, dos únicos capazes de avaliar se as visões contrárias são ou não limitadas, úteis ou desagradáveis, sensatas ou insensatas, convenientes ou não ao status quo.

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