Sucedem-se as afirmações castrenses de membros do núcleo dirigente do partido Renamo, no sentido de que vão construir quartéis e promover manifestações até Dezembro a fim de colocar o partido Frelimo fora da gestão do Estado, sob argumento de que eleições e Estado estão frelimizados e só com ele, partido Renamo, o país pode andar bem.
Sob o acicate de uma clara, antiga e não correspondida exigência de redistribuição política de recursos de poder - este é o problema principal -, o núcleo dirigente vive a dureza de um duplo constrangimento: por um lado, a tentativa de escapar em permanência ao roteiro histórico da guerrilha através da modernidade política do partido e da frequência regular dos corredores urbanos da afirmação e da disputa política (Assembleia da República, mídia, viagens, seminários); por outro, a exposição constante e crescente à crítica, frequentemente severa, vinda do partido no poder, de alguma antiga oposição hoje completamente acomodada e de uma parte da imprensa. Em semelhante interim, recusando desde 1994 os resultados eleitorais desfavoráveis, o núcleo dirigente da Renamo oscila, como um pêndulo, entre a desguerrilhação pelo partido e a reguerrilhação pelo passado. Esse núcleo é um fac-símile daquele herói de um filme de Charlie Chaplin que, apanhado por uma tempestade de neve quando dormia na sua cabana, vê esta de repente na borda de um precipício. Ao acordar, quer sair. Mas se avança para o lado do precipício, a cabana tomba; se recua e pretende sair, a tempestade aguarda-o. O herói de Chaplin não pode nem habitar a cabana nem deixá-la. O núcleo dirigente da Renamo, com Dhlakama à cabeça, não pode nem habitar a guerrilha nem perder-lhe a memória.
5 comentários:
O cajú cai de maduro.
A Renamo não foge à regra, está a cair. O discurso belicista dos seus dirigentes num ambiente internacional desfavorável é apenas um catalisador dessa queda.
O poder tem consciência da aflição da Renamo e vê nessa queda a oportunidade de se vingar dos guerrilheiros que o vergaram para a mesa de conversações de Roma.
Mas o sistema está também num processo irreversível de maturação.
Os partidos politicos tambem envelhecem... digo, as suas ideologias ... quando o seu timoneiro amarra-se ao poder.
Zicomo
O discurso da RENAMO e compativel com a sua ideologia, e principalmente, com a sua genese. Se um dia chegassem ao poder, certamente mudariam de verbo. Passariam a ser sofisticados e calculistas como os seus compatriotas da FRELIMO e o MDM (que e a FRELAMO suave...). Muito do que ouvimos e lemos Dhlakama a dizer, pouco se difere na forma (mas nao no conteudo) dos "gloriosos tempos" de 1975-79, onde nos achavamos super-homens prontos para espalhar a nossa Luta dentro e fora de Mocambique.
Guerra Psicologica, competentemente gerida pelos estrategas da RENAMO. Porque a Paz dos Homens nunca foi selada em Mocambique. E nem sera, enquanto as condicoes que ditarem a sua assinatura, nao forem aceites por ambos os signatarios.
Por essa razao, desiluda-se quem imagina que mais uma ATOARDA da RENAMO implica o seu ocaso progressivo. Engano. A RENAMO retomou a sua forma original, para qual foi dimensionada em 1976 . E por causa disso, sobrevive.
Logo, a aparente vitoria da FRELIMO, a tornar-se novamente hegemonico, remete-nos para a situacao anterior de 1992. E assim sendo, as dificuldades voltarao a ser as mesmas quer para governantes, como para governados. Isto, enquanto a geracao "Ten Years" nao desaparecer de cena do Comite Central.
Os que tentaram ser diferentes e quica, urbanizados, (PDD e UD) tentaram afinal ser como a nova FRELIMO de 1992. Mas perderam-se, porque nao poderiam nunca ter sido como ela. Como e que o eleitorado iria identificar uma alternativa diferente da habitual?
Alem disso, nos tempos que correm, de crise financeira generalizada, qualquer rumor e o suficiente para levar uma multinacional ou Estado a bancarrota. E a pior coisa que poderia acontecer a qualquer governante do Terceiro Mundo era a opiniao publica do pais doador ou accionistas de uma multinacional ficarem com a impressao que vao perder dinheiro com mais uma guerra nos tropicos. Nem que seja de tiro aos pratos...
Se assim sucedesse, alguns lugares cativos no Governo e Comite Central da FRELIMO seriam imediatamente postos em causa. Ja vimos isso acontecer quando Chissano assumiu o leme. O que impede que isso suceda novamente com este ou outro Presidente?!
Quem na juventude suportaria a ideia de continuar a coabitar com uma ala ideologicamente enferrujada, que foi encostada num canto por Chissano, justamente por levar o pais a desgraca durante 17 anos. E que todavia, regressa novamente as lides partidarias, com os resultados bem a vista na actual governacao?
Nem por masoquismo.
Ele não é "maluco", maluco é o político que não luta por poder.
Recursos de poder, esse não é um dos problemas, mas o único problema.
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