-"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
Mais um pouco desta série.
4.2. Emissão de representações e de causas a cargo do centro; o pronto-a-pensar (para recordar o sumário desta secção, confira aqui). Falei-vos na luta das causas no número anterior. Mas em que contexto social se inseriu e se insere a produção das causas de uso corrente? No centro, para pegar numa ideia de Edward Shils. O centro não tem a ver com a geometria ou com geografia, mas, antes, com as crenças, com os valores e com os símbolos que governam a sociedade. Como ele escreveu, "a zona central participa da natureza do sagrado"*. Por outras palavras e dando-lhe eu agora o meu sentido, é no centro que habitam os órgãos políticos de domínio social, é lá que, para usar uma expressão de Marx e Engels, são produzidas e reproduzidas as ideias dominantes. Foi e é nesse centro que surgiram e surgem as ideias dominantes sobre as manifestações de 1/3 de Setembro em geral, sobre os habitantes da periferia em particular. Mesmo se divergindo, mesmo se produzidas por actores não originários do centro, essas ideias foram regra geral sobre os e a propósito dos Outros - havidos por antisociais e perigosos - e não sobre o sistema social que produz um centro e uma periferia, que produz sempre uma determinada visão dos Outros. Uma parte significativa das descrições e das análises concernentes a esses outros foram e são ancoradas num pronto-a-pensar cómodo. Aguarde a continuidade da série (foto reproduzida daqui).
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
Mais um pouco desta série.
4.2. Emissão de representações e de causas a cargo do centro; o pronto-a-pensar (para recordar o sumário desta secção, confira aqui). Falei-vos na luta das causas no número anterior. Mas em que contexto social se inseriu e se insere a produção das causas de uso corrente? No centro, para pegar numa ideia de Edward Shils. O centro não tem a ver com a geometria ou com geografia, mas, antes, com as crenças, com os valores e com os símbolos que governam a sociedade. Como ele escreveu, "a zona central participa da natureza do sagrado"*. Por outras palavras e dando-lhe eu agora o meu sentido, é no centro que habitam os órgãos políticos de domínio social, é lá que, para usar uma expressão de Marx e Engels, são produzidas e reproduzidas as ideias dominantes. Foi e é nesse centro que surgiram e surgem as ideias dominantes sobre as manifestações de 1/3 de Setembro em geral, sobre os habitantes da periferia em particular. Mesmo se divergindo, mesmo se produzidas por actores não originários do centro, essas ideias foram regra geral sobre os e a propósito dos Outros - havidos por antisociais e perigosos - e não sobre o sistema social que produz um centro e uma periferia, que produz sempre uma determinada visão dos Outros. Uma parte significativa das descrições e das análises concernentes a esses outros foram e são ancoradas num pronto-a-pensar cómodo. Aguarde a continuidade da série (foto reproduzida daqui).
(continua)
* Shils, Edward, Centro e periferia. Lisboa: Difel, 1992, passim.
Sem comentários:
Enviar um comentário