17 abril 2010

Blanche/Malema: o roteiro de Jano (10)

O caminho para cima e o caminho para baixo são um único caminho (Heráclito)
O término desta série.
No número anterior, ficou a pergunta: então, o que é que Terre'Blanche e Julius Malema simbolizam?
Esse dois homens simbolizam a exigência absoluta, feita por determinados grupos, de uma África do Sul racializada para que seja também absoluta a gestão de recursos de vida e poder. Um exigiu isso no passado, o outro fá-lo hoje. São gémeas as cabeças de Jano, os carris pelos quais circula a história são os mesmos, ainda que em períodos temporais distintos.
O sistema excludente de relações sociais na África do Sul não foi alterado, mantém-se integral a sua matriz. Racialmente construído por certos grupos, é hoje vigorosamente defendido por outros grupos, em ambos os casos com formulação e justificação estatais, com múltiplos efeitos físicos, simbólicos, cruéis. Ontem chamava-se apartheid, hoje chama-se affirmative action. Tal como o capitalismo, o racismo (que é, para mim, um seu produto histórico) exclui.
Perversamente, o racismo assegura em pleno a perpetuidade do capitalismo, o monopólio dos recursos e o séquito de desigualdades e injustiças sociais.
E é justamente a propósito de desigualdades e de injustiças sociais que não devemos também esquecer o racismo sem raça, aquele pelo qual, dentro do mesmo grupo racial (desculpem-me o uso de semelhante expressão), fazem legião os que são excluídos e que não constam das preocupações sociais dos que, em seus púlpitos demagógicos, racializam com a raça como um para-raios para esconder e manter incólume a racialização sem raça.
Então, talvez sejam três as faces de Jano.
Adenda: sugiro a leitura de um trabalho de Alex Gallinicos, intitulado Capitalismo e racismo, que pode ser para alguns politicamente indigesto, mas que, em meu entender, contém numerosas coisas interessantes. Aqui.
(fim)

13 comentários:

Abdul Karim disse...

Mantenho,

1- os racistas estao identificados e tem pouco espaco de manobra ?

2- HIV 'e suficientemente relevante para a mudanca politica de africa ?

3- Serao necessarios mais mortos africanos para que os actuais governos africanos admitam que falharam ?

4- O Povo deve emitir a sua opiniao como ?

5- o que sao Patriotas ?

ricardo disse...

Vira o disco e toca o mesmo...

ricardo disse...

"...denda: sugiro a leitura de um trabalho de Alex Gallinicos, intitulado Capitalismo e racismo, que pode ser para alguns politicamente indigesto, mas que, em meu entender, contém numerosas coisas interessantes..."

Para mim e politicamente tautologico!

Ainda a momentos respondi um e-mail do trabalho cujo mobil se encaixa perfeitamente na situacao...

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Ja pedi desculpa,

Isso 'e tortura,

Quando me pediram para roubar, eu disse NAO,

Ta torturar inocente Ricardo, Mano Mais Velho,

Deixa-me la sair, ta quente isto,

Ja li mais do que a estrada nacional numero 1, isso antes do ocidente pagar a ponte, aquela que era pra ser de Unidade.

Abdul Karim disse...

Mantenho,

1- os racistas estao identificados e tem pouco espaco de manobra ?

2- HIV 'e suficientemente relevante para a mudanca politica de africa ?

3- Serao necessarios mais mortos africanos para que os actuais governos africanos admitam que falharam ?

4- O Povo deve emitir a sua opiniao como ?

5- o que sao Patriotas ?

V.Dias disse...

Sabe Karim,

Eu não compreendo patavina estas tuas análises em relação a este post! O que pretendes dizer mesmo? Pode me explicar?

Zicomo

ricardo disse...

Eu tambem nao. Estou cada vez mais intrigado...

Abdul Karim disse...

Mantenho,

1- os racistas estao identificados e tem pouco espaco de manobra ?

2- HIV 'e suficientemente relevante para a mudanca politica de africa ?

3- Serao necessarios mais mortos africanos para que os actuais governos africanos admitam que falharam ?

4- O Povo deve emitir a sua opiniao como ?

5- o que sao Patriotas ?

Tomás Queface disse...

Agora espera-se saber como será a África do Sul pós Terreblance. O assassinato de Eugene foi recebido como uma declaração de guerra por membros do AWB. Será que eles tem a capacidade para avançarem a um conflito racial? A economia sul africana é detida maioritariamente branca, e se no caso de houver um instabilidade eles serão os mais prejudicados. Portanto, eu acho que a probabilidade de um conflito é nula.

Reflectindo disse...

"O sistema excludente de relações sociais na África do Sul não foi alterado, mantém-se integral a sua matriz. Racialmente construído por certos grupos, é hoje vigorosamente defendido por outros grupos, em ambos os casos com formulação e justificação estatais, com múltiplos efeitos físicos, simbólicos, cruéis."

E o que posso dizer mais?
É problemático compreender o (um) problema. Nelson Mandela havia se apercebido disto, havia interpretado textualmente os princípios da luta contra o apartheid.
E o que diz Moeletsi Mbeki? Combatemos o apartheid mas aplicamos a política do apartheid; Combatemos os colonialistas mas queremos ser como colonialistas; somos opositores mas assumimos o que nos conduziu à oposicão, portanto, os princípios de quem nos opomos.

Continuo a acreditar que África do Sul não sobrevive com postura de Julius Malema e AWB. Esta postura é o inimigo da África do Sul. Os governantes sul-africanos têm que se preocupar pela nacão.

JOSÉ disse...

A tragédia da África do Sul é que para corrigir injustiças do passado cometam-se de novo outras injustiças baseadas na raça e discriminação.

A Polícia está a levar a sério as ameaças dos extremistas brancos. Vejam este link:

http://www.iol.co.za/index.php?set_id=1&click_id=13&art_id=vn20100418070852935C365398&singlepage=1


Para comprendermos a mente dos extremistas e os seus argumentos que estão a ser divulgados mundialmente, sugiro este link:

http://www.boycott-2010-world-cup.co.nr/

Muito lamentável e preocupante!

ricardo disse...

Eles sao poucos, mas sao eficientes. Batem onde doi mais: a FONTE.

Pela venda de bilhetes do Mundial 2010 comecamos a perceber melhor esta situacao. Com efeito, os cerca de 100 mil bilhetes excedentarios vendidos aos sul-africanos (90%) foram subsidiados (15US$ cada) pela organizacao da prova. O que significa que muitos turistas (europeus e asiaticos) desistiram compra-los para ir a RSA ou pediram reembolso dos mesmos. Com os avultados investimentos feitos por aquele pais para acolher a prova, o prejuizo comeca a ser evidente. E por tabela, os paises vizinhos, que tambem investiram em algumas infra-estruturas com o fito de aproveitar o "boom" do mundial, comecam tambem a fazer contas a vida.

Ainda ha esperanca das coisas se ajeitarem. Isto e, se conseguirem provar que Malema tomou definitivamente o seu devido lugar e nao havera recaida no futuro.

Mas duvido, porque nao se para uma tempestade com as maos.

Mocambique, pelas mais absurdas das razoes nao foi a tempo de construir um estadio e hoteis para receber as seleccoes mundialistas em estagio. Restam-lhe contudo, o Africano e o Mundial de Hoquei em Patins de 2011.

Caso para se dizer que ha males que vem por bem, pois ainda se vai a tempo de concluir as nossas infra-estruturas a tempo de recebermos condignamente aquelas provas desportivas e darmos uma licao de humildade e sabedoria ao colosso da SADC.

Isto e, caso nos nao...

Penso que todos sabem de que (e quem) eu estou a falar.

Disse

Anónimo disse...

São coisas dos mundiais. Também quando foi o mindia do Japão/Coreia do Sul, a organizacão também subsidiou parte dos bilhetes excedentários vendidos aos japoneses e coreanos. Os turístas também desistiraram de ir ao Japão, mas aqui foi pelo custo de vida (do turismo) lá das bandas, pelo facto de ser muito pra lá do oriente, etc, etc. Aos organizadores interessava ter assistência e ao subsidiar os tais bilhetes, conseguiu arrecadar umas claques para alguns dos países (africanos) cujos adeptos poucos meios tinham para marcar presenca no Japão/Coreia.

São coisas que acontecem e acho que no caso sul africano é só mais um.

AAS