Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
30 abril 2010
Do obituário dedicado a Orlando José
Predadores
"Porque só existem duas espécies de pessoas neste mundo: os predadores e os que pastam. Os primeiros chegam sempre ao cume, porque estão dispostos a lutar para lá chegar e não hesitam em destruir as pessoas e as coisas que se atravessam no seu caminho. Os outros não têm a genica, ou a coragem, ou a fome, ou a crueldade necessárias. Por isso o mundo é governado pelos predadores, que se transformam em potentados. E os potentados nunca estão satisfeitos. Têm de procurar sempre mais e mais a moeda do seu culto." - Forsith, Frederick, Os Cães da guerra. Lisboa: Edição Livros do Brasil, s/d, p.223.Sapatos
Fotografia na cidade de Maputo em fim de tarde a propósito de um casamento: vestem garridas, estão lindas, mas em seus pés levam sapatos de mil léguas, de bicos assustadoramente enormes. Quando andam, os bicos desses tenebrosos sapatos chegam meia-hora antes ao destino. Mas não apenas elas: eles também, reparei em dois varões com sapatos enormes, tipo ski. Talvez seja menos importante saber o que de kafkiano se passa nos criadores de semelhante tipo de sapatos pertubadores do que saber por que os consumidores os adoptam.Postagens na forja
A "hora do fecho" no "Savana"
Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, da qual ofereço, desde já, um aperitivo:* Os securocratas estão cabisbaixos. Vem aí o visto único para a SADC, o que é menos mola e corrupção para as sanguessugas que adoram o discurso da soberania e da segurança nacional.
Consultorias e externalização das ciências em África
Segundo um estudo feito em 15 países africanos (incluindo Moçambique) e divulgado em 2002, a pesquisa universitária não desapareceu em África, mas em muitos locais o seu modo de produção mudou devido ao impacto das consultorias. Eis algumas das suas características:- Cerca de 30% dos cientistas trabalham sob o acicate de uma encomenda externa e não nos carris integrais da carreira académica
- A actividade exerce-se em redes mundiais
- A procura internacional (e não mais nacional) regula as agendas de pesquisa
- A busca de benefícios (mais do que de saberes) tornou-se a máxima de acção
- É o mercado que, cada vez mais, regula e avalia a actividade dos pesquisadores, não os pares.
A esse cenário escapam, ainda, países como a África do Sul e alguns países do norte de África. Confira em francês aqui. Para traduzir:
29 abril 2010
"Samora Machel: atentado ou acidente?"
Contra a versão de um acidente intencionalmente provocado pelos serviços secretos sul-africanos, um livro do jornalista e historiador português José Milhazes - que deve ter sido hoje lançado em Lisboa -, com o título em epígrafe, atribui ao desleixo da tripulação a queda em 1986 do avião no qual pereceu o presidente Samora Machel (na imagem). Confira aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.Postagens na forja
Fibra óptica e TDM
Uma avaria considerada grave pelas TDM na fibra óptica entre Vilanculos e Beira está a afectar as comunicações no centro/norte do país, podendo a reparação durar cerca de um mês. Confira aqui. Para uma crítica ao monopólio e ao trabalho das TDM, aqui.Ciências sociais e verdade (6)

E nascendo, os seus autores fizeram-no com o objectivo de obter um saber sistemático e secular acerca da realidade social, que pudesse ser empiricamente validado.
Mas nasceram fundamentalmente sob a égide do Estado, cioso de conhecer e de controlar mais profundamente os seus cidadãos, de vencer de alguma maneira a opacidade social. O objectivo último é o de obter níveis crescentes de controlo político, normalizando e disciplinando corpos, pensamentos e reacções.
Conflito
Num dos seus livros, Michel de Certeau escreveu que o conflito é inerente à vida social e que toda a sociedade se define pelo que exclui, que toda a sociedade se forma diferenciando-se. Formar um grupo é criar, ao mesmo tempo, estrangeiros. Uma estrutura bipolar, essencial a toda a sociedade, cria um "fora" para que exista um "entre nós"; fronteiras, para que possa existir um país interior; "outros" para que o "nós" possa tomar forma. Temos assim uma lei, a lei do grupo - asseverou Michel - que é, também, um princípio de eliminação e de intolerância. União e diferenciação crescem e marcham de par (extracto das conclusões do meu próximo livro, a editar este ano).28 abril 2010
Postagens na forja
Magermane desfilam
Carlos Cardoso

Ciências sociais e verdade (5)

Na maior parte da vida da humanidade, os fenómenos sociais e naturais eram vistos como movidos por causas sobre-humanas, deuses ou espíritos. A pergunta fundamental aqui era: “quem fez mover isto ou quem provocou isto?”
A ciência clássica inverte esse estado de coisas. A pergunta fundamental aqui passa a ser a seguinte: “o que faz mover isto ou o que provocou isto?”
Este é um percurso longo, inacabado, mas que está umbilicalmente ligado à formação de um saber sistemático e secular, divorciado da tutela religiosa ou mágica.
27 abril 2010
Postagens na forja
Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:* Genéricos: Saiba da Zambézia e de Nampula através do "Diário da Zambézia" e do 'Wamphula Fax" (previsão, dada uma avaria na fibra óptica que afecta as zonas centro/norte do país); sobre o cientista guinense Carlos Cardoso do CODESRIA; questionários encerrados
Não sei
A convite de um jovem colega sociólogo, dei hoje, na tarde local, uma aula na sua Cadeira, Universidade Eduardo Mondlane, cidade de Maputo. No fim, na última pergunta de um estudante, respondi que não sabia responder. Senti, de imediato, a surpresa - como se um vidro que se partisse absurdamente - nos rostos das dezenas de presentes. Aqui está um problema: a convicção apaixonada de que o prof tudo deve saber, a certeza inabalável de natureza divina do prof.A preocupação de Amós

Ciências sociais e verdade (4)

Ora, o saber científico clássico constitui-se, lentamente, em ruptura contra esses dois tipos de saberes. Ele tornou-se, século após século, perfeitamente fagocitante a esse propósito.
26 abril 2010
Assassinado director das Alfândegas
Postagens na forja
Lupa do social
Lanche bem guarnecido neste fresco fim de tarde na cidade de Maputo, são três senhoras, duas muito jovens das quais uma grávida talvez de quatro meses, a terceira mais velha, eventualmente mãe de ambas, três crianças, das quais duas comem e a terceira brinca embirrenta num carrinho eléctrico, uma empregada impecavelmente assinalada em seu papel servil com uma bata e uma touca gerindo a embirrenta criança. Termina o apetitoso lanche, conta saldada, mundo de pé, uma das jovens senhoras e a empregada jogam guardanapos de papel no chão. Enquanto saem, caminhando devagar, em sua fala mansa, a empregada do restaurante, igualmente de touca, apanha os guardanapaos, de par com um colega que, risonho, retira os talheres.Ciências sociais e verdade (3)

O saber simbólico tem um princípio causal simples. Os fenómenos são movidos não por causas sociais ou naturais, mas por causas sobre-humanas. A pergunta do saber simbólico não é “O que provocou este fenómeno?”, mas, antes, “Quem provocou este fenómeno?”
Esse saber ora é analógico (atribuição de poderes sobre a natureza e sobre as relações sociais a seres superiores aos humanos), ora mágico (possibilidade de exercer um poder directo, benéfico ou maléfico, sobre a natureza e as relações sociais).
Sem DZ/WF
Ciências sociais e verdade (2)

Mais um pouco desta nova série.
Vou-me permitir escrever algo sobre dois pontos:
1. A origem das ciências
2. A ambição de rigor e a mimese nas ciências sociais
25 abril 2010
Postagens na forja
25 de Abril de 1974
Com essa canção, entoada pelo falecido José Afonso (popularmente conhecido por Zeca Afonso, que foi professor de português no ex-Liceu Pero de Anaia, hoje Escola Secundária Samora Machel, na Beira), foi dado o sinal para o fim do fascismo em Portugal, num movimento político importante que iria ter reflexos na independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975.
Ciências sociais e verdade (1)

Negócios em Moçambique

Santos de casa não fazem milagres? (7)

Táxi-ginga
Leia um trabalho sobre o táxi-ginga da Zambézia em geral e de Quelimane em particular, da autoria de Renato Caldeira, aqui.












