16 abril 2009

E se Deviz se obama? (5)



E vamos lá terminar esta série.
Permitam-me dar-vos conta de cinco fenómenos.
Primeiro: a ascensão política veloz de Deviz Simango como líder popular e claro vencedor de duas eleições consecutivas na presidência do município da Beira, derrotando dois poderosos adversários, os representantes da Frelimo e da Renamo.
Segundo: nascimento do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), presidido por Deviz, com um percurso rápido, possante, arrastando para si dissidentes de outros partidos políticos, especialmente da Renamo.
Terceiro: rápida capacidade do MDM para organizar delegações provinciais.
Quarto: construção de uma linguagem política inovadora, plural, claramente marcada pelo selo da campanha presidencial de Barack Obama, desembocando num portal original, fresco, diferente.
Quinto: imediata reacção e unidade estratégica de esforços entre Frelimo e Renamo visando atacar e descredibilizar moralmente primeiro Deviz Simango enquanto presidente do município da Beira; depois, o MDM, numa campanha sem tréguas que conta com o beneplácito de certa imprensa e de certos bloguistas para desqualificar, demonizar e minimizar a nova - e claramente ameaçadora para as duas clássicas e envelhecidas forças políticas do país - página aberta no livro político moçambicano.
O MDM e Deviz Simango vão potencialmente surgir nas eleições deste ano não como mais um partido nem como mais um presidente à espera de uma fatia do orçamento geral do Estado e de uma página propagandística no "Notícias", mas: como um partido diferente, reconfigurador de esperanças, um partido do género obamaniano we can (exemplo imediato: Para mudar Moçambique, Sim! Um Moçambique para todos é possível - tal como atesta a campanha 1 metical com programa reproduzido na primeira imagem desta postagem), capaz de ganhar a adesão, por exemplo, de uma importante faixa da juventude urbana; e como um presidente jovem, a versão moçambicana de Barack Obama, capaz de reduzir a percentagem de abstenção eleitoral (60% nas eleições de 2004) e de dar ao país - carente de honestidade, pejado de injustiças e de desigualdades sociais - o selo de novos sonhos e de novas esperanças.
Pode bem acontecer que na próxima Assembleia da República a maioria absoluta de um partido seja trocada pela necessidade de contar com o voto do MDM para as grandes decisões votais.
Sugestão: clique com o lado esquerdo do rato sobre a primeira imagem para a ampliar.
(fim)
Adenda: Deviz Simango e o MDM têm levado muitos de nós a preferir as categorias cómodas e orientadoras pelas quais, durante anos, nos habituámos a encarar aqueles partidos e aqueles políticos de OGE e com um lugar garantido na página 3 do "Notícias". Pura e simplesmente duvidamos que Deviz e MDM consigam fazer mais do que Yá-Qub Sibindy e o PDD. Um dia escrevi num livro meu o seguinte: "A multiplicidade fenoménica da vida obriga os seres humanos a produzir quadros e categorias simplificadoras do social. A vida humana é, em grande medida, uma constante disciplina do pormenor, da incerteza e da dúvida. Essa disciplina opera, normalmente, através de três movimentos: o movimento do julgamento retrospectivo (do género "se assim foi no passado, sempre assim será"), o movimento da indução simplificadora (trata-se do "efeito do corvo negro": se encontramos um corvo negro, somos tentados a supor que todos os corvos são negros) e o movimento infra-intelectual da precedência afectiva (primeiro os nossos, depois os outros). É com esses três movimentos que naturalizamos o que é socialmente produzido. E fazemo-lo apenas com alguns indícios, com alguns dados. Com meia dúzia de fragmentos enfrentamos o futuro, com o que temos atrás vamos ao encontro do que está à frente. Os hábitos são a chave que abre e domestica o imprevisto. Na verdade, face às coisas novas, somos tentados a reconduzi-las, rapidamente, às coisas velhas."

16 comentários:

Anónimo disse...

Ler blogs engana muito. Por serem frequentes os discursos encomiásticos a Daviz e ao MDM muitas vezes não reparamos que os autores são os mesmos em todos os blogs. Chegamos a pensar que em Malema, em Mabalane, em Ngauma, em Furacungo também se fala bastante desse Partido e do seu líder.
É importante não perder de vista que, mesmo em Sofala, a Renamo continuará a dar cartas. Beira não é Chibabava, não é Buzi, não é Machanga.
Placido Xavier

Reflectindo disse...

O Placido Xavier, tem dados sobre o que diz?

Apresente-os para compararmos com o que existe.

Anónimo disse...

Os delegados do MDM que vão aos distritos, em Sofala, estão a ter dificuldades de fazer trabalho público. As excepções são Nhamatanda, Machanga, Buzi e algumas áreas da Gorongoza onde estão a ter algum sucesso.
Veja-se que, para além da Renamo, opera com algum sucesso o PDD de Raul Domingos. Os três Partidos da oposição vão dividir os votos de protesto em Sofala. Uma vantagem relativa do PDD e, talvez, do MDM, é a eliminação da barreira dos 5%, um facto político a não ignorar.
Se em Sofala as coisas estão assim, podemos imaginar como estarão noutras províncias!
Plácido Xavier

Reflectindo disse...

1. E se essas dificuldades forem mais da responsabilidade do governo como foi relatado no Canal de Mocambique ontem?

2. E tiveres a consideracão que o MDM tem apenas um mês?

3. Queres dizer que os votaram antes pela Frelimo nunca mudam?

umBhalane disse...

Já eu encaro como muito positivas as opiniões do Sr. Plácido Xavier.

O MDM, os seus apoiantes activos, os seus dinamizadores, tem que ter em consideração alguma resistência das outras forças políticas.

Não pensem que vai ser um passeio!

Chegamos, e agora vai ser tudo nosso, podemos sentar!

Puro engano.

O MDM veio agitar, veio incomodar – e o que aconteceu?

As formações políticas preexistentes reagem, vão reagir, acordar do torpor em que estavam metidas.

Daí a luta pela conquista do eleitorado ser mais difícil.

Daí eu avisar constantemente.

É preciso trabalhar MUITO, essencialmente no TERRENO, no meio do POVO.

Dar-lhes a conhecer o projecto, trocar ideias, esclarecer - conquistar mentes e corações.

Conseguir adesões.

MANINGUE MABASSA.

Anónimo disse...

OS QUE VOTAM NA FRELIMO NAO VAO MUDAR COMPANHEIRO REFLECTINDO. A ACONTECER SERA NUMA ESCALA IRRELEVANTE. O VOTO FLUTUANTE SERA O DA OPOSICAO.
A ASSUMPCAO DE QUE TODOS OS QUE NAO VOTAM O FAZEM POR PROTESTO NAO RESISTIRIA AO MENOR TESTE. ERA PRECISO QUE OS VOTANTES, INCLUINDO OS DAS ZONAS RURAIS TIVESSEM UMA CONSCIENCIA CIVICA MUITO APURADA. NAO PARECE QUE A REALIDADE SEJA ESSA. DE MANEIRA GERAL, OS PARTIDOS VAO DISPUTAR O ELEITORADO DE SEMPRE. BEIRA, NAS ULTIMAS AUTARQUICAS, SERVE DE AMOSTRA PARA O QUE DIGO: APESAR DE TER SURGIDO UM NOVO ACTOR POLITICO, QUE ATE GANHOU O PLEITO, O COMPORTAMENTO ELEITORAL NAO FOI DIFERENTE DA MEDIA DE MOCAMBIQUE. TODOS OS ACTORES POLITICOS NAQUELA CIDADE DISPUTARAM O ELEITORADO DE SEMPRE.
PLACIDO XAVIER

Maquiti disse...

Concordo

Maning Mabassa o que não é fácil em tão pouco tempo,

Mas algo positivo irá acontecer!

M

Jonathan McCharty disse...

O amigo Placido diz que "os partidos politicos vao ter que lutar pelos mesmos eleitores de sempre"!

Esta informacao e' muito arriscada, se tivermos em conta que o actual PR foi eleito por apenas 30% do eleitorado!

A populacao do campo e' burra! Outro engano! Eles nao votam porque tem "baixa consciencia civica"! Continua la' a fiar-te nesses pressupostos e fique tranquilo que nestas eleicoes estarao em "disputa" apenas 30% do eleitorado!!

Anónimo disse...

Senhor Jonathan, falta pouco para as eleições. O que estamos a fazer não é futurismo gratuito. Vamos testar nossos respectivos pressupostos. Quero ver o MDM e Daviz a irem buscar os tais 70% que se abstiveram de votar no actual Presidente.
Quanto ao respeito ao nosso povo. Eu não pertenço ao grupo dos que abandonaram o país em 1974/1975 com medo de serem governados por africanos boçais. Fiquei aqui a aprender do nosso povo. Mas daqui, a afirmar que os nossos camponeses votam programas, votam elaboradíssimas estratégias de desenvolvimento vai uma enorme distancia.
Respeito não é igual a paternalismos e a populismos. Os determinantes de voto em Moçambique incluem factores como a intimidação, a manipulação, a etnicidade, a indiferença política e outros. Incluem também, em ínfimos sectores, a análise de programas e estratégias. Estes determinantes de voto não serão alterados pelo surgimento de factores subjectivos como por exemplo o discurso mais ou menos eloquente ou apaixonado de um líder ou Partido. Será preciso mexer a base social e económica para mexer em larga escala a indiferença dos eleitores.
Plácido Xavier

Anónimo disse...

1. No meu entender, o MDM deve projectar a sua intervenção nas próximas eleições em função de uma avaliação pragmática dos recursos que dispõe: humanos e financeiros.

> De contrário, arrisca-se a seguir o que fez o PDD: (i) micro comícios em passagens relâmpagos por localidades, tentando abranger (mal) o maior número possivel; (ii)distribuição de algumas camisolas e bandeiras ao longo das estradas; (iii) ilusão de grande adesão, quando a maior parte de quem se aproxima das caravanas são curiosos, jovens e crianças que não votam (vão aos comícios de todos os partidos para receber qualquer oferta, por mais insignificante que seja).

2. São necessários meios de transporte, combustível, ajudas de custo, material de campanha para oferta, etc.
A Frelimo, tem a grande vantagen de estar em Permanente campanha, com recursos do Governo.

> É fundamental uma presença forte nas Rádios locais (controladas pela Frelimo).

Nos distritos e localidades rurais, as rádios locais são um fortíssimo meio de fazer chegar as mensagens. A Net chega a um número muito reduzido de nós (uma grande parte sem idade para votar).

2. Por outro lado, entendo que importa que o MDM comece a detalhar alguns pontos do seu Programa, para que não sejam vistos como meras "boas intenções", comuns nos programas dos demais partidos.

> Não basta dizer que "é preciso fazer", que vai dar prioridade à área económica ou social, X,Y ou Z.

> É imperioso dizer o que vai fazer DIFERENTE da Frelimo e da Renamo, por exemplo: (i) na política habitacional, que tanto preocupa os jóvens; (ii) na política financeira rural, e no crédito às micro, pequena e médias empresas, etc, que o sistema financeiro nacional quase não abrange.

> O MDM tem de dizer, claramente:(i) o que a Frelimo não está a fazer,(ii) o que a Felimo está a fazer mal; (iii) o que o MDM irá vai fazer diferente.

AM

Anónimo disse...

Plenamente de acordo com a lúcida abordagem de Plácido Xavier

Reflectindo disse...

Aqui o debate continuou e da maneira muito interessante e até construtiva. Andei muito ocupado nas últimas horas e sobretudo sem acesso à net.

Caro, Plácido Xavier, agora e pelo teu penúltimo texto entendo o teu ponto de vista e é exactamente o que eu queria perceber. Os demais que não se cansam de dar dicas para que o MDM tenha sucessos já também disseram.

Concordo plenamente que é necessário muito trabalho e com gente flexível.

Bom, caro Plácido, 70 % para Daviz e 30 % para Guebuza, só será possível se a experiência de Changara, Tete (2004) dissiminar-se para todo o país. Mas assim seria a favor de Daviz Simango? Duvido. Na verdade o que o MDM deve fazer é lutar ao máximo para que coisa desta não aconteca, pelo menos em grande escala, porque vai prejudicar-lhe.

Porém, acredito que o número de votantes poderá crescer nas próximas eleicões, dependendo do trabalho político e cívico que os partidos e a sociedade civil fará nos próximos momentos. Até aqui está a animar, mas é preciso que se faca mais, para que isto seja visto como uma verdadeira competicão. Lembro-me que para muitos a participacão acima de 45 %das últimas eleicões autarquicas, surpreendeu porque nas anteriores tinha sido de 14 e 26 % (1998 e 2003) se eu não estiver em erro.

Por outro lado, as eleicões em Mocambique surpreendem muitas vezes, pelo menos em alguma zonas.

Reflectindo disse...

A propósito, coincidência ou cópia para confundir o eleitorado? O discurso de Guebuza hoje já anda com slogans semelhantes aos do MDM:

1. “País Construído por Todos e para Todos” Guebuza na Matola.

Isto retirando a Frelimo fez, faz e fará?

2. um Moçambique melhor para todos.

Estas expressões não do MDM??????

E vejam que é depois de ter nascido uma dita Frelimo-Renovada (UDM - União dos Democratas Mocambicanos)

O MDM tem mesmo que trabalhar duramente a contar com tudo isto!

umBhalane disse...

A coisa prometia, mas estalou o verniz.

Pena.

Não dramatizar é preciso. Acontece, e em muitos lados.

Uf!, escapei de novo.

Só saí em Julho / 1979 - e uma das campanhas que mais me "marcou" foram as latrinas, de Helder Martins,DR., "O latrineiro".

Tempos heróicos, do homem novo.

Agora, até o MDM temos para chatear!

E os campos de reeducação, de concentração...

Que saudades!

Jonathan McCharty disse...

Caro AM,
Excelentes contribuicoes!

Amigo Placido!
"Eu não pertenço ao grupo dos que abandonaram o país em 1974/1975 com medo de serem governados por africanos boçais"!

Este teu ponto vem contrapor ou explicar o que? Que tens algum complexo racial?

"Mas daqui, a afirmar que os nossos camponeses votam programas, votam elaboradíssimas estratégias de desenvolvimento vai uma enorme distancia."

De que "elaboradíssimas estratégias de desenvolvimento" estas concretamente a falar? Qual e' o sector onde tais estrategias se observam e o povo nao entende?
A formula do povo e' simples: "comida no prato"!

"Os determinantes de voto em Moçambique incluem factores como a intimidação, a manipulação, a etnicidade, a indiferença política e outros."

Concordo tacitamente contigo! Mas "indiferença política" e' um aspecto que deverias analisar melhor, especialmente as condicionantes que possibilitam a sua ocorrencia! Quem sabe, estas eleicoes que se avizinham, te esclarecam.

Um abraco

Anónimo disse...

"Maputo, Sexta-Feira, 17 de Abril de 2009"

"Notícias - Quadros da Frelimo reúnem-se hoje na Matola"

"CERCA de 2500 pessoas participam de hoje até domingo, na cidade da Matola, em Maputo, na VII Conferência Nacional de Quadros do Partido Frelimo, cujo objectivo é a procura de estratégias de participação da organização nas eleições presidenciais, legislativas e para as assembleias provinciais a decorrerem este ano no país".
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A Movimentação de toda esta gente exige, organização logistica e, mais do que isso, MUITO TACO! ...
que os "Sacos Azuis" do Governo facilmente asseguram.

WT