Contava-me ontem um antigo estudante meu, hoje funcionário encarregado de fazer chegar água a quem dela carece, que numa determinada zona deste país organizaram-se as coisas para se construir um poço para uma comunidade carente.
Cerca de oito mil dólares, esse o custo da obra.
O problema é que a área escolhida tinha sido morada de um chefe tradicional, cujo espírito ali morava. Construir o poço iria perturbar o espírito.
Só após intenso processo negocial foi possível transferir as ossadas do chefe para um outro local e , mediante cerimónias propiciatórias, acalmar o seu espírito.
Essa história fez-me lembrar o nosso famoso slogan: vamos todos combater o espírito do deixa-andar!
E se, por razões que só a ignara razão conhece, combater o espírito do deixa-andar fosse para muita gente uma perigosa forma de combater milhares, milhões de espíritos deixa-andarentos, que se iriam revoltar? Não será por isso que tanta coisa anda ainda?
Belo enigma sociológico que joga pelo lado brincalhão o que, na outra margem, o lado sério não desdenha analisar. Concordam?
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
1 comentário:
Ahahahahah!!!! Boa maneira de colocar as coisas!!!
Lara
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