Nós, Africanos, temos heróis, sábios, mas também temos espíritos vis. Com a cumplicidade de certos dos nossos antepassados, o tráfico negreiro prosperou. Temos a responsabilidade desse tráfico, tanto quanto os traficantes. Temos nas nossas culturas atitudes de exclusão diante de quem possui tatuagens, línguas e costumes diferentes. Hoje ainda, em África, nos interrogamos como os que vivem do outro lado do rio ou num outro lado da montanha podem ser Hutu, Tutsi, Bakongo, Balula ou Batéké. Cegos pelos prejuízos, que bem podem merecer o nome de nazismo tropical (sic), nós somos capazes, em certas circunstâncias, de nos lançarmos, machado na mão, sobre o vizinho e eliminá-lo, como se fôssemos feras à caça de presas pertencentes a uma espécie diferente.
Esse o pensamento de Henri Lopès, escritor congolês.
__________________________________
Lopès, Henri, Mes trois identités, in Kandé, Sylvie, Discours sur le métissage, identités métisses, En quête d´Ariel. Paris: L´Harmattan, 1999, p. 138.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
4 comentários:
Nao fara parte de qualquer cultura a caracteristica de excluir aquilo que lhe pareca diferente?Sera so o nazismo tropical que se sobressai? E os outros tantos? Ou nao existem?ou ainda...sao menos nocivos? Bjs. Tuchamz
Contra a identidade sempre plural em nós (para África existem textos brilhantes, como, por exemplo, de Elikia Mbokolo), optamos pela alteridade única, essencial. Nascemos plurais, anfibológicos, mas depois aprendemos a respeitar apenas o nosso "clã". Falo de etnicidade, de racismo.
Um óptimo autor, mas perdoe-me a nota, onde está prejuízos não deveria estar preconceitos?
Abraços
Nesta história dos prestes-a-pensar, existe uma panóplia de termos para identificar a imagem deformada que fazemos de outrem e, a este nível, podemos tomar preconceito e prejuízo por sinónimos, ainda que o segundo termo remeta para uma atitude concreta. Proponho que se leia, por exemplo: Lippmann, Walter, "Public opinion". New York, Pelican Books, 1946; Amossy, Ruth et Pierrot, Anne Herschberg, "Stéréotypes et clichés". Paris: Nathan, 1997; Fishbein, Harold D., "Peer prejudice and discrimination". Colorado/Oxford: WestviewPress, 1996. Acresce que em vários dos meus livros tenho abordado os processos de estereotipagem.
Enviar um comentário