"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht).
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
-"Quanto mais conhecermos as causas da violência social, mais capazes seremos de a prevenir. A violência social não se combate com cruzadas de falsa moral nem com tiradas de criminalização barata, mas com o conhecimento rigoroso e honesto das infra-estruturas sociais e mentais que a ela conduzem ou podem conduzir. De nada serve mostrar continuamente em inúmeras instâncias de debate e persuasão que a violência é desnecessária e nociva, se não forem continuamente desarmadas as condições sociais que continuamente armam as mentes ("mentes armadas", uma bela expressão do bispo Diniz Sengulane que usei como estímulo neste texto no qual fiz uso por três vezes do advérbio "continuamente")
O último número desta longa série, explorando mais algumas hipóteses, tendo em conta o sumário (continuo a pensar em todos aqueles que, eventualmente, decidam estudar e analisar seriamente as manifestações, de Fevereiro de 2008 e de Setembro deste ano, abandonando as opiniões preguiçosas).
4.7. Possíveis causas do peso manifestacional em Maputo e Matola. A pergunta é sempre obsessiva: por que houve manifestações em Maputo e Matola e não em outras cidades, em Lichinga, por exemplo? Se não quisermos atribuir ao acaso, à natureza e aos espíritos o peso manifestacional em Maputo e Matola, poderemos tentar colocar como hipótese que nessas duas cidades - afinal uma mesma cidade desdobrada em duas, em duas almas - estão concentrados de forma mais possante determinados factores percutores. É em Maputo - cidade cosmopolita, mas também muito representativa do país, com gente de todas as províncias - onde as fronteiras das relações sociais são mais flagrantes, mais visíveis, mais tocáveis, mais rudes, mais sentidas. Acresce que Maputo, muito ligada laboralmente à África do Sul, tem uma tradição de protesto social muito antiga, familiarmente transmitida. Porém, boa prática consistirá em testar, também, aqui, os tipos de causalidade anteriormente propostos.
4.8. Regresso aos leões de Muidumbe. Os leões podem, afinal, revestir mútiplas formas, em sua maneira de afectar os seres humanos. As manifestações de 1/3 de Setembro foram, afinal, para usar uma metáfora, contra a incapacidade demonstrada em arranjar espingardas para abater leões múltiplos, leões devoradores do presente e do futuro de milhares de pessoas, leões que afastam o futuro, leões que estão ao mesmo próximos e distantes, leões que apenas pensam nos outros em termos de gazelas.
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
-"Quanto mais conhecermos as causas da violência social, mais capazes seremos de a prevenir. A violência social não se combate com cruzadas de falsa moral nem com tiradas de criminalização barata, mas com o conhecimento rigoroso e honesto das infra-estruturas sociais e mentais que a ela conduzem ou podem conduzir. De nada serve mostrar continuamente em inúmeras instâncias de debate e persuasão que a violência é desnecessária e nociva, se não forem continuamente desarmadas as condições sociais que continuamente armam as mentes ("mentes armadas", uma bela expressão do bispo Diniz Sengulane que usei como estímulo neste texto no qual fiz uso por três vezes do advérbio "continuamente")
O último número desta longa série, explorando mais algumas hipóteses, tendo em conta o sumário (continuo a pensar em todos aqueles que, eventualmente, decidam estudar e analisar seriamente as manifestações, de Fevereiro de 2008 e de Setembro deste ano, abandonando as opiniões preguiçosas).
4.7. Possíveis causas do peso manifestacional em Maputo e Matola. A pergunta é sempre obsessiva: por que houve manifestações em Maputo e Matola e não em outras cidades, em Lichinga, por exemplo? Se não quisermos atribuir ao acaso, à natureza e aos espíritos o peso manifestacional em Maputo e Matola, poderemos tentar colocar como hipótese que nessas duas cidades - afinal uma mesma cidade desdobrada em duas, em duas almas - estão concentrados de forma mais possante determinados factores percutores. É em Maputo - cidade cosmopolita, mas também muito representativa do país, com gente de todas as províncias - onde as fronteiras das relações sociais são mais flagrantes, mais visíveis, mais tocáveis, mais rudes, mais sentidas. Acresce que Maputo, muito ligada laboralmente à África do Sul, tem uma tradição de protesto social muito antiga, familiarmente transmitida. Porém, boa prática consistirá em testar, também, aqui, os tipos de causalidade anteriormente propostos.
4.8. Regresso aos leões de Muidumbe. Os leões podem, afinal, revestir mútiplas formas, em sua maneira de afectar os seres humanos. As manifestações de 1/3 de Setembro foram, afinal, para usar uma metáfora, contra a incapacidade demonstrada em arranjar espingardas para abater leões múltiplos, leões devoradores do presente e do futuro de milhares de pessoas, leões que afastam o futuro, leões que estão ao mesmo próximos e distantes, leões que apenas pensam nos outros em termos de gazelas.
Assim termino a série, na expectativa de que possa ser útil a quem realmente deseja pesquisar. Mas bem mais do que isso, bem mais mesmo: que a pesquisa possa contribuir para que sejam desarmadas as condições sociais que armam as mentes, tal como escrevi na terceira citação em epígrafe neste trabalho (crédito da imagem aqui).
(fim)
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