08 outubro 2010

Causas e características das manifestações em Maputo e Matola (24)

-"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
-"(...) a opinião pensa mal,  não pensa (...)"(Gaston Bachelard)
Regresso à série, entrando agora no ponto 4.5., intitulado "proposta de corpo analítico", o qual contém os seguintes subpontos:
4.5.1. Lógicas (para além do visível e da descrição)
4.5.2. Consciência imediata e consciência social
4.5.3. Produção do sentido dos actos e dos fenómenos
4.5.4. Recursos de poder
4.5.5. Significado de causa e de hipótese
4.5.6. Pergunta, problemática e hipótese
Vamos então avançar, esforçando-me por fornecer aos estudiosos do social algumas ferramentas analíticas que podem, eventualmente, ter alguma utilidade na pesquisa em geral e na pesquisa sobre as manifestações de 1/3 de Setembro em particular.
4.5.1. Lógicas (para além do visível e da descrição)
O que acontece, o que se vê, o que pode ser fisicamente identificado, o que se condena, o que se lamenta, o que se comenta, as palavras que se dizem, as fotos que se fazem, as pessoas que executam actos e emitem pensamentos sobre a forma de palavras e de símbolos - tudo isso é um conjunto importante, rico, fundamental, de indicadores, mas é unicamente isso, é apenas superfície, é apenas matéria-prima, não é analisar, não é o processo cognitivo de busca da chave do que está digamos que à retaguarda dos fenómenos, que é o seu êmbolo, o seu enzima, a sua alma. Existem ao nível dos órgãos de informação muitos registos das manifestações, registos fundamentais que devemos colocar no nosso laboratório analítico para análise, existe muito trabalho de campo a fazer. Análise é produzir a ruptura com o observável e com o aparente, análise é decompôr e recompor, análise é ir para além do visível e audível, é ir para além do fumo dos pneus em chamas, dos fóruns de debate apaixonado, das críticas da violência, dos combates opinativos e normativos sem fim, dos artigos de jornais. O estudo das manifestações de 1/3 de Setembro deve ser produção analítica feita com a matéria-prima observada e registada, o estudo deve consistir em encontrar a chave da produção social em geral, de certos actos e de certos fenómenos em particular, o estudo deve consistir na nossa habilidade (que não se encontra nos manuais, mas que pode ser treinada) em encontrar a lógica ou as lógicas que presidem à construção social da vida e ao conjunto das representações que dela fazemos, no caso que nos interessa que habita ou que habitam as manifestações de 1/3 de Setembro. Prossigo proximamente (foto reproduzida daqui).
(continua)

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