Prosseguindo esta série fotográfica sobre Tete, da autoria do jurista e ambientalista Carlos Serra Jr. A cerca de 20 quilómetros da cidade de Tete está a Igreja de São José de Boroma, construída em 1885 e em processo de triste deterioração. Repare-se bem nas teias de aranha que envolvem o crucifixo da fotografia, como se essa fosse a mais perfeita, mas também a mais cruel, imagem do abandono votado à casa de Deus. Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
16 comentários:
Extraordinária fotografia
Luis
Meu Deus!!!Tão lindo e tão triste!!!!!!Por favor não deixem a igreja morrer!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sem dúvida uma foto única.
Grande plano!
Imagens que envergonham o país.
Moçambique é provavelmente um dos poucos países democráticos do Mundo em que cada pedaço da terra representa um património cultural, por outro lado, é dos que menos tira dividendos com isso.
O Ministério do Turismo e da Cultura andam preocupados com aspectos políticos. Perdeu-se, no nosso país, o gosto pela história, pelos valores do passado, pelas relíquias da nossa história.
A igreja Católica sozinha não pode fazer nada. Além do mais, a igreja está preocupada e empenhada em duas frentes:
1. Dar de comer e vestir aos pobres deste país (estes surgem às carradas);
2. Dar uma boa educação moral ao povo (nas nossas escolas perdeu-se o leme da educação social, sexual, etc.) Este papel tem sido resgatado pelas igrejas (nem todas) em geral.
Talvez houvesse uma 'espécie' de Concordata entre o Governo e a igreja Católica por forma a que o Estado intervenha neste tipo de caso. Há meios.
Haja sentido de responsabilidade.
Zicomo
Esta tudo (em) boromado!...
Bem, nao podia ver e nao dizer coisa alguma, até porque nao é meu estilo dizer por dizer.
Porém, felizardo foi o autor da foto, mas infelizes sao todos os que da igreja se esqueceram. La perto está uma escola ( do Estado ), era/é de artes e oficios, logo podia-se fazer a limpeza. Outra coisa é a propria igreja tratar disso por si. O argumento de que anda preocupada com outras frentes nao pega, quanto a mim.
Arune Valy
A última vez quer visitei a igreja foi em 1968, como o tempo é perversamente rápido.
Senhor Arune Valy,
Sim, é verdade que a igreja católica tem uma grande responsabilidade na conservação do seu espólio, até porque a limpeza não depende da nossa condição financeira. É sujo, é sujo, pronto.
Também é do seu saber que a igreja católica não é uma instituição com fins lucrativos. Ela vive e sobrevive de caridade. Ora, nos dias de hoje a caridade é algo que perdeu cotação.
Num país como o nosso onde ainda existem bolsas de fome e outras "feridas", não é fácil manter estômago (s) vazios a cuidar (em) de fosse o que fosse por muito tempo, ainda que esses tivesse (em) fé do tamanho do Monte Binga.
Estamos a falar de inventariação, reabilitação e conservação do património e não, apenas, de varrer o pátio sujo. Isso requer especialidades. A igreja não tem orçamento para isso.
O orçamento da igreja católica vai todo para frentes sociais. Mas eu compreendo onde reside a dúvida. Se houvesse uma espécie de Concordata (insisto nisso porque vejo tenho o testemunho sobretudo de Portugal)em que o Estado interviesse no património decadente, dando a assistência necessária, garanto-lhe que noventa e nove por cento do espólio decadente não estaria como está hoje.
Por fim,
Através das Cáritas e de outros organismos sociais pode ver a tamanha ginástica que a igreja católica presta ao nosso tecido social.
É o que penso, "o ter a língua pequena não impede alguém de se lamber".
Zicomo
Meu caro!! Tenha onde quizer ter a sua razao. Conheço e sei da vida das coisas neste meu/nosso país. Conheço Boroma e aquela igreja de rara beleza e arquitetura. Já la estive, por dentro e por fora. É patrimonio mundial. Nao defendo nem ataco nada nem ninguem, apenas o que conheço e sei da verdade "MANYUNGWE". Sem querelas, mas com sentido realistico de quem é quem em relaçao ao edificio.
Makolokoto......
Arune
Artigo 22
1. Os imóveis que nos termos do artigo VI da Concordata de 7 de Maio de 1940, estavam ou tenham sido classificados como «monumentos nacionais» ou como de «interesse público» continuam com afectação permanente ao serviço da Igreja. Ao Estado cabe a sua conservação, reparação e restauro de harmonia com plano estabelecido de acordo com a autoridade eclesiástica, para evitar perturbações no serviço religioso; à Igreja incumbe a sua guarda e regime interno, designadamente no que respeita ao horário de visitas, na direcção das quais poderá intervir um funcionário nomeado pelo Estado.
2. Os objectos destinados ao culto que se encontrem em algum museu do Estado ou de outras entidades públicas são sempre cedidos para as cerimónias religiosas no templo a que pertenciam, quando este se ache na mesma localidade onde os ditos objectos são guardados. Tal cedência faz-se a requisição da competente autoridade eclesiástica, que vela pela guarda dos objectos cedidos, sob a responsabilidade de fiel depositário.
3. Em outros casos e por motivos justificados, os responsáveis do Estado e da Igreja podem acordar em ceder temporariamente objectos religiosos para serem usados no respectivo local de origem ou em outro local apropriado.
Artigo 23
1. A República Portuguesa e a Igreja Católica declaram o seu empenho na salvaguarda, valorização e fruição dos bens, móveis e imóveis, de propriedade da Igreja Católica ou de pessoas jurídicas canónicas reconhecidas, que integram o património cultural português.
2. A República Portuguesa reconhece que a finalidade própria dos bens eclesiásticos deve ser salvaguardada pelo direito português, sem prejuízo da necessidade de a conciliar com outras finalidades decorrentes da sua natureza cultural, com respeito pelo princípio da cooperação.
3. As autoridades competentes da República Portuguesa e as da Igreja Católica acordam em criar uma Comissão bilateral para o desenvolvimento da cooperação quanto a bens da Igreja que integrem o património cultural português.
4. A Comissão referida no número anterior tem por missão promover a salvaguarda, valorização e fruição dos bens da Igreja, nomeadamente através do apoio do Estado e de outras entidades públicas às acções necessárias para a identificação, conservação, segurança, restauro e funcionamento, sem qualquer forma de discriminação em relação a bens semelhantes, competindo-lhe ainda promover, quando adequado, a celebração de acordos nos termos do artigo 28.
Artigo 24
1. Nenhum templo, edifício, dependência ou objecto afecto ao culto católico pode ser demolido, ocupado, transportado, sujeito a obras ou destinado pelo Estado e entidades públicas a outro fim, a não ser mediante acordo prévio com a autoridade eclesiástica competente e por motivo de urgente necessidade pública.
2. Nos casos de requisição ou expropriação por utilidade pública, será sempre consultada a autoridade eclesiástica competente, mesmo sobre o quantitativo da indemnização. Em qualquer caso, não será praticado acto algum de apropriação ou utilização não religiosa sem que os bens expropriados sejam privados do seu carácter religioso.
3. A autoridade eclesiástica competente tem direito de audiência prévia, quando forem necessárias obras ou quando se inicie procedimento de inventariação ou classificação como bem cultural.
Artigo 25
1. A República Portuguesa declara o seu empenho na afectação de espaços a fins religiosos.
2. Os instrumentos de planeamento territorial deverão prever a afectação de espaços para fins religiosos.
3. A Igreja Católica e as pessoas jurídicas canónicas têm o direito de audiência prévia, que deve ser exercido nos ternos do direito português, quanto às decisões relativas à afectação de espaços a fins religiosos em instrumentos de planeamento territorial.
Fonte: CONCORDATA DE 2004.
Zicomo
Esta Concordata de 2004 (não é única) tem estado a permitir com que muito do passado português em estado decadente esteja a ser recuperado. Ainda assim, o Estado não consegue só por si salvar tudo.
O senhor Arune Valy diz e bem que a igreja de Boroma é "património mundial". Até onde sei, os patrimónios mundiais mal conservados podem ser desclassificados quando mal conservados. E isso é pode ser prejudicial para o nosso país em termos do turismo.
Por outro lado, concordo consigo que os PROBLEMAS DA NOSSA TERRA, DESSE NOSSO NHUNGUE ONDE NASCI E CRESCI, É A FALTA DE SENSIBILIZAÇÃO, O MESMO ACONTECE COM A ILHA DE MOÇAMBIQUE (O FISICALISMO). Há quem diga que não, é do berço... Recuso.
Zicomo
PS: Foi um prazer confabular consigo. Adeus
Bem, no meu fraco entender, acho que estamos a comentar coisa diferente. Na minha humilde ignorancia julgo que a igreja de Boroma está em Moçambique e salvo raras excepçoes o país guia-se por suas Leis. Em 1975 Samora Machel declarou independencia total e completa da colonia, passando a país. Como meu amigo está a "universitar" em Portugal, seria ideal lembrar que estou cá. Conheço a realidade viviva e sentida em pessoa. De toda forma agradeço a liçao de ler Leis no papel. de Direito tambem vejo algo.
Passe bem meu caro, alias os Manyungwes se entendem conversando
"kubverana nku ceza"
Sr. Arune Valy,
Rogo que leia o que escrevi.
Eu disse, repito, com uma espécie de concordata como acontece em Portugal, entre a Igreja Católica e a Santa Sé, é possível a recuperação do património cultural da Igreja Católica em estado decadente. Basta que haja vontade entre as partes.
Uma vez que a igreja não tem recursos para o restauro do edifício, o Estado pode, em defesa da relíquia, salvaguardar o património em causa. Vivi em Évora (património da humanidade) e sei o que lhe digo.
Foi por isso que trouxe para aqui alguns artigos da Concordata. Fi-lo apenas com o fito de fazer jus a minha tese. E mais nada. Tal como o Sr. Arune, também eu não estou em busca da razão, mas sim da solução para o problema apresentado.
Tsapano bverana? Tatenda.
Zicomo
Para terminar, sei que Moçambique é um Estado laico.
Agora pergunto-lhe, como pensa que a Igreja poderá recuperar este património de Boroma? E outros? Como? Sem verbas?
Dois cenários se colocam:
1. Intervenção da Igreja (esta está sem meios)
2. Expropriação por parte do Estado (com agravante das críticas que irá receber).
É um dilema. As leis não são estáticas, nunca foram.
Zicomo
'Ndaenda', (adeus).
Sabeis que no Miruro (missão do Miruro), do lado da Zâmbia, existe uma igreja do mesmo tipo, mas mais rica? Sabeis que fins do século XIX/princípios do século XX, missionários foram a pé até lá, partindo de Tete, passando por Boroma e Magoé? Que muitos morreram de malária?
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