28 janeiro 2010

Dois linchados este mês

Recomeçaram (se o termo for correcto) os linchamentos péri-urbanos. Assim, sob acusação de roubo, um jovem foi há dias linchado no Bairro da Munhava, periferia da cidade da Beira; um segundo e pela mesma razão, foi-o na madrugada de ontem no Bairro 7 de Setembro, periferia da cidade de Chimoio. Abaixo, livros cuja leitura sugiro:

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6 comentários:

Sir Baba Sharubu disse...

Que estratégias poderiam ser implementadas para tentar travar essa epidemia de linchamentos ?

Sera que MOZ ja experimentou no terreno algumas dessas estratégias ?

Se sim, quais foram os resultados ?

Carlos Serra disse...

O ano passado foi anunciado um plano de emergência. Ignoro, porém, se foi criado e aplicado. Tanto quanto se pode perceber pela imprensa, regularmente surgem porta-vozes da polícia dizendo que não devemos fazer justiça pelas próprias mãos.

ricardo disse...

Todo o homem e uma guerra civil (Jean Larteguy)

Professor...

Sem querer ser simplista e intrometer-me em conversa de especialistas no assunto. Ha coisas que saltam de vista nestas manifestacoes de ira colectiva:

A "falta de credibilidade de quem e encarregue de velar pela seguranca das populacoes", pois todos dizem que a Policia prende, mas solta logo os meliantes a troco de dinheiro. E a policia diz que apenas cumpre a Lei, pois julgamentos, compete aos Tribunais, o que e verdade. Mas tambem ha prisao preventiva para politicos da Oposicao sem culpa nem suspeita formada, mas porque e que nao se aplica identico criterio aos presos de delito comum, que sao a maior parte destes ratoneiros? Os Tribunais por sua vez, soltam-nos porque dizem que a Policia nao sabe instruir um processo. O que tambem e verdade. Mas de quem e a culpa? Do Governo do DIA obviamente. A ele e que compete inverter esta situacao. Porque responsabilidades nao se dividem, assumem-se!

A "o valor minimalista (quase simbolico) daquilo que cataliza o linchamento". Ate uma caixa de fosforos pode levar alguem para a cova. Por isso, nao e o valor do bem que esta em causa. Mas sim, a oportunidade de catarse colectiva de uma sociedade que vive em medo permanente de si propria. Que nao confia na sua propria sombra. Mas isso, e tambem reflexo de seus governantes. Aqueles em quem (teoricamente) a populacao CONFIA a resolucao dos problemas comuns. E a partir daqui podemos estudar estudar os efeitos multiplicadores adicionais do espectro de violencia que muitas vezes resultam indirectamente de estimulos do exterior. Quando um BANCO MUNDIAL manda o Governo deste pais fechar fontes de renda primaria, ou adoptar medidas draconianas em nome de uma suposta "modernizacao do ambiente de negocios", muitas vezes, nao passa de um tapete vermelho onde o Capital espezinha arrogantemente que lhe atravessa o caminho. Pergunta-se, alguem se lembra dessas pessoas "insignificantes" nesses momentos? O empreendimento PORTUCEL e um dos muitos exemplos tipicos de catalizadores de novas bombas sociais. Mas tambem a especulacao dos terrenos em Mulotane, etc. Porque esta claro para NOS, os esclarecidos, que aquelas pessoas virao a ser encurraladas em ghettos de pobreza, logo mais linchamentos sucederao. Se nao for por roubos. Sera por "parar a chuva". E se chover muito , sera tambem por isso mesmo. Porque Pavlovianamente domesticando populacao pauperrima e ignorante, com pseudo-argumentos racistas contra as minorias raciais, os governantes destapam outro tubo de escape. Na rua, emboscados, dispara-se certeiramente "patrao estou com fome". No mercado do peixe, o que se vende a 20 MT a um negro, vende-se a 200 MT a um nao negro. Nao importa a nacionalidade. Nos fora mundiais amplificam-se "sofremos de pobreza absoluta...". E domesticamente sentencia-se "...Temos de ser ricos. Porque somos originarios...". Sao mensagens destas as catadupas, vindas de todos os quadrantes da sociedade que se convertem em chagas geneticas nos descamisados, que esperam e desesperam por solucoes, enquanto os seus governantes fintam-nos com delirios chauvinistas ate se auto-fagocitarem.

ricardo disse...

Este e que o problema de fundo.

A Beira, Chimoio, Quelimane e outros lugares que pude conhecer em tempos recentes, tem todas condicoes para a germinacao de "bombas sociais" destas.Ja tentei exemplificar neste blog, so que...

A estrategia para conter isto e obvia e resume-se numa palavra: Governar com accountability a todos os niveis (nao sei qual e a traducao Portuguesa mais adequada a este termo anglo-saxonico. Se calhar o problema e esse) e ser governante patriota e nao patrioteiro, com coragem de dizer NAO. Ou entao, explicar ao seu POVO porque e que ELE DEVE AJUDA-LO A DIZER NAO! Educar a sua populacao, dando-lhes instrucao para compreender o mundo e nao, instilando odios, tornando-os refens de si proprios. Mas como faze-lo, se o dominio da sua governacao se alicercou ate hoje na ignorancia e no obscurantismo?

Podera alguma estrategia funcionar neste remoinho sociologico?

Carlos Serra disse...

O linchamento é um acto de barbárie, sem dúvida. Mas é, iminentemente também, um exercício de desconfiança em relação aos órgãos oficiais de justiça, não importa onde ele tenha lugar, do Bali à Guatemala, passando por Moçambique e pela Tanzania. A questão é que ele já se naturalizou e se privatizou enquanto instrumento popular de resolução de conflitos.

ricardo disse...

Justamente Professor, porque perante o vazio de solucoes, as sociedades humanas escolhem os paliativos que estao ao seu alcance.

Assim tem sido desde os primordios da Humanidade.

O linchamento e uma das suas formas extremas. Mas tambem ha os massacres. Os sacrificios humanos, a Inquisicao, a Jihad, etc.

Apenas no sec. 18 e que se tentou inflexionar para o lado racional. E a justica sao dois pratos numa balanca segurada por uma dama de olhos vendados. Basta que se coloque um contrapeso errado para a dama se desnudar publicamente e toda moral e bons costumes ser postos no caixote de lixo da memoria. Por isso, e responsabilidade de quem compete conduzir as sociedades preservar a bitola adequada.

Mas eu percebo a V. inquietacao, principalmente por ter sido o povo Mocambicano sempre considerado pacifico e solidario.

Mas isso eram outros tempos.