Prossigo esta perversa série, ainda no primeiro ponto dos três que propus aqui.
1. Pontos discursivos. Suponhamos - vou usar um exemplo comezinho - que um dos candidatos à presidência municipal de Quelimane coloca como tópico fundamental da sua engenharia eleitoral os buracos nas estradas da cidade e que, discurso após discurso, veemente, incansável, não importa onde e quando, vai dizendo que com ele os buracos irão desaparecer, que Quelimane é uma cidade que merece ficar bonita para sempre, etc. Sem dúvida que isso é muito meritório, todos devem preocupar-se com o mau estado das estradas, é um ponto de honra da cidadania urbana. Mas é especialmente meritório para quem? Eis um problema com pelo menos três faces: (1) que a cidade tenha buracos é provavelmente pouco relevante para os que não têm viatura, que andam a pé, por exemplo os habitantes e os mercadores do denso Brandão, os pescadores dos Bons Sinais, os vendedores ambulantes e os habitantes dos lodosos bairros das cercanias; (2) mas os buracos provavelmente já preocupam os que têm viatura, os do centro da cidade, as estruturas dos 4x4, os funcionários públicos em cargos de chefia, os funcionários de organizações não-governamentais, os comerciantes formais, os proprietários e condutores de bicicletas-táxi e de bicicletas em geral, os antigos da terra, etc.; (3) finalmente, há uma categoria de actores provavel e secretamente interessada nos buracos, constituída pelos proprietários de oficinas de carros e bicicletas.
Prossigo mais tarde nos "pontos discursivos". Foto reproduzida daqui.
1. Pontos discursivos. Suponhamos - vou usar um exemplo comezinho - que um dos candidatos à presidência municipal de Quelimane coloca como tópico fundamental da sua engenharia eleitoral os buracos nas estradas da cidade e que, discurso após discurso, veemente, incansável, não importa onde e quando, vai dizendo que com ele os buracos irão desaparecer, que Quelimane é uma cidade que merece ficar bonita para sempre, etc. Sem dúvida que isso é muito meritório, todos devem preocupar-se com o mau estado das estradas, é um ponto de honra da cidadania urbana. Mas é especialmente meritório para quem? Eis um problema com pelo menos três faces: (1) que a cidade tenha buracos é provavelmente pouco relevante para os que não têm viatura, que andam a pé, por exemplo os habitantes e os mercadores do denso Brandão, os pescadores dos Bons Sinais, os vendedores ambulantes e os habitantes dos lodosos bairros das cercanias; (2) mas os buracos provavelmente já preocupam os que têm viatura, os do centro da cidade, as estruturas dos 4x4, os funcionários públicos em cargos de chefia, os funcionários de organizações não-governamentais, os comerciantes formais, os proprietários e condutores de bicicletas-táxi e de bicicletas em geral, os antigos da terra, etc.; (3) finalmente, há uma categoria de actores provavel e secretamente interessada nos buracos, constituída pelos proprietários de oficinas de carros e bicicletas.
Prossigo mais tarde nos "pontos discursivos". Foto reproduzida daqui.
(continua)
Adenda: abordo múltiplos aspectos da engenharia eleitoral no seguinte livro: Serra, Carlos (dir), Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, 354 pp., confira especialmente as pp. 43-243.
Adenda 2 às 7:27: confira o "Diário da Zambézia" de hoje, aqui.
Adenda 2 às 7:27: confira o "Diário da Zambézia" de hoje, aqui.
6 comentários:
Está bem, mas precisamos saber se a gestão das eleições será transparente, este é um ponto fundamental.
E quem pode ser o árbitro independente com decisões respeitadas? Este problema ainda é mais complicado.
Árbitros independentes? Chineses?........
Escolham um grupo de mulheres lutadoras e elas irão controlar os malandros...
Os segredos dessas coisinhas têm suas flats nas noites e nos pcs.
Os que se preocupam com a buracada, sao os que comandam e dao de comer os que nao se preocupam com ela...
Enviar um comentário