15 março 2009

O que é grande criminalidade para o povo?

A grande criminalidade no país, especialmente a grande criminalidade na cidade de Maputo, desperta invariavelmente uma grande comoção. Os jornais reportam-na em grandes parangonas. Um assalto a um banco, por exemplo, merece imediatamente uma primeira página nos jornais, uma destacada manchete na televisão. Mas lá nos bairros periféricos das nossas cidades, por exemplo, o que é grande criminalidade? Aí, a grande criminalidade é o pequeno assalto, a intrusão do ratoneiro de esquina, o gang de subúrbio, um assassinato por desconhecidos, um corpo sem vida numa ruela, a insegurança amarrada à sobrevivência do dia a dia, coisas que aparecem normalmente diluídas na secçcão de ocorrências do "Notícias", juntamente com informaçcões sobre os asmáticos que procuram os serviços hospitalares. Nas zonas rurais, a grande criminalidade é, também, o roubo furtivo, mas também o mau olhado, o efeito malévolo do feiticeiro traduzido - acredita-se - na morte de alguém de cuja malária ninguém quer saber.

Afinal, a vida parece ser como assim: a intensidade de um prisma.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Professor,

A semantica é uma das áreas de investigacao muito antiga e tem sido feita por vários cientistas durante vários séculos. A diferenca de percepcoes que as comunidades já comeca no que é criminalidade. É pertinete o tópico que aqui o Prof. colaca pois leva-nos a pensar como podemos ter uma estratégia de combate a criminalidade se nós temos diferentes percepcoes (significados) deste fenómeno (criminalidade). Espero os peritos que estao do Ministério da Justica e do Interior tenham estes aspectos ao formularem a estratéria do combate a criminalidade.

LM

Anónimo disse...

Combate a criminalidade-...com medidas administrativas...nao por amor de Deus... medidas socio-economicas...sim...sera que temos essa consciencia e capacidade...e ate diria ...sera que queremos mesmo isso? Bom da maneira temos vindo agerir a coisa so podemos ter a coisa como a temos.Mas nada de medidas administrativas so!!!!

Joaqum Macanguisse disse...

A magnitude de um crime na percepção de um individuo passa necessariamente pela capacidade de reposição dos danos a ale criado ,imagine o que significaria se alguém roubasse uma galinha que esta sendo cuidada desde de Julho para as festas de Dezembro? o efeito tornasse mais desastroso em relação ao roubo de pneu sobressalente ( exemplo do carro de Cristiano Ronaldo ,Samuel Etto ,etc. ).em suma o crime pesa-nos a medida das dificuldades de reposição dos seus danos .Mas a também daqueles crimes cujos danos são mais morais que materiais , ai temos que ver qual e a natureza social da vitima do mesmo. Varias vezes as pessoas vão a esquadra queixarem-se de um crime de difamação e logo a primeira a ideia do policia é que a muita coisa (que no seu entender sao crime ) por resolver que não seja deve receber queixosos de difamação .mas na Europa e muitas outras sociedades desenvolvidas a difamação pode lhe dar uma fortuna ,a tal coisa de auto –estima .
exemplo o linchamento é um crime publico e muito grave ,pois linchar é igual a matar .é muito provável que haja mais revolta publica quando se mata um inocente na via publica do que quando se "lincha " 50 pessoas baseados no crime de roubo de galinha , isto porque as pessoas assumem o linchamento como aliviou a pressão criminal ,é menos um bandido e dai o resto da moral é sou esquecer.
Recuando um pouco temos a historia recente em que Dr. Albano Silva pedia 10 milhões de indemnização por difamação ( isto é ele ajusta a sua imagem a este valor ),mas tenho certeza que para mesma ofensa um outro cidadão ficaria satisfeito com a indemnização de uns 2 mil

Anónimo disse...

 Entendo que a classificação de grande ou pequena criminalidade é tão sómente uma questão teórica de tipificação (agrupamento por afinidades, que se vai ajustando no tempo) das diferentes situações, tal como o Professor fez, e bem, para os linchamentos, agrupando-os em Tipo 1,2 e 3.

 Gostei da sua expressão “… a insegurança amarrada à sobrevivência do dia a dia…”, uma boa imagem da falta de infra-estruturas de base:

(i) dum aparelho de Estado sólido, que assegure ao cidadão o correcto funcionamento dos organismos económicos, da justiça e ordem pública, da saúde e educação,etc;

(ii) de saneamento do meio nas zonas urbanas e peri-urbanas (não confundir com latrina ou jornadas políticas de limpeza deste ou daquele lugar) parcelamento, drenagem, abastecimento de água e luz, transportes, zonas para a prática de desporto e lazer, etc.

> condições fundamentais para a redução da "insegurança amarrada à sobrevivência do dia a dia ..."

AM

Ainda sobre linchamentos por feitiçaria (amarra chuva) em Nicoadala:

 Curiosidade: Sabe o Professor o significado da palavra Nicoadala?
NICOA = Morrer; DALA = Fome, donde: Nicoadala = estamos a morrer de fome.

Carlos Serra disse...

Obrigado pela explicação, não conhecia o significado.