08 março 2009

Crise social e bodes expiatórios (4)

Mais um pouco da série.
Regressando ao trabalho do "Domingo", já citado anteriormente, para termos ideia (1) do contexto no qual nasce e medra a crença de que alguém amarra a chuva no céu e (2) a quem a administradora de Nicoadala atribui as culpas da crença: "Isso aconteceu na medida em que a população estava desesperada devido à falta de chuvas. Quando eles observam algumas pessoas que têm mínimas condições de vida, interpretam isso de forma supersticiosa. Dizem que aqueles que têm impedem que a chuva caia na machamba dos outros, foi desta forma que a administradora de Nicoadala, visivelmente chocada, descreveu o crime em Nicoadala. Para a administradora, a população foi enganada pelos macangueiros (adivinhos). Foram eles que fizeram as adivinhas, disse Sebastiana Lúcio, lamentando a morte de pessoas inocentes (....). De ressalvar que as reservas alimentares estão efectivamente a diminuir em grande parte das zonas atingidas pela onda de saques e mortes, problema que poderá agudizar-se durante os próximos dois meses. A região onde foram reportados tumultos por falta de chuvas tem a tradição de produzir arroz e coco. O coco debate-se com o problema do amarelecimento letal. Os coqueiros estão a morrer. As pessoas no momento em que as reservas alimentares se esgotavam recorriam ao coco. Levavam o coco, vendiam e compravam farinha ou peixe. Não havia nenhum problema, explica a administradora Sebastiana (...) Essa falta de alimentação não é de uma casa só. Se esses todos reclamam e vem alguém dizer olha vocês não estão a ver que quem está a comer é o fulano, o tal que esconde a chuva, as pessoas são facilmente enganadas, porque costuma-se dizer onde há fome todos ralham e ninguém tem razão, esclarece a administradora." (p. 19).
O jornal reporta que muitas detenções já foram efectuadas e que prossegue a busca policial a outros responsáveis pelos "tumultos ocorridos nos distritos de Namacurra e Nicoadala", província da Zambézia.
(continua)

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