Vigésimo número da série. Trabalhando sempre com hipóteses, permaneço no quarto ponto dos seis pontos sugeridos aqui, a saber: 4. A concepção elitista do eleitor mata-borrão. Termino o quinto e último exemplo referido aqui: A tese do eleitor-estatística. Ciência fundamental, ciência que disciplina o espírito, a pesquisa e seus resultados, tem, porém, alguns riscos. Um dos riscos consiste em extrair os grupos-alvo das relações sociais concretas e da sua conflitualidade, atribuindo-lhes o estatuto de grupos homogéneos, quando muito diferenciados por parâmetros secundários como género, idade, local de nascimento, etc. Daí a origem de expressões do tipo "70% dos Moçambicanos acreditam que...". Mas não só. No nosso país, é frequente utilizar a estatística eleitoral para associar etnias (ou grupos "etno-linguísticos") e/ou regiões a áreas de suposta influência vitalícia de determinados partidos políticos. Este feiticismo etno-regional procura transmitir a ideia de um trabalho de pesquisa definitivo alicerçado em teses indiscutíveis, duplicadas da realidade e vestidas de números inflexíveis, como se a verdade estivesse nos números em si e não na concepção do investigador sobre os fenómenos sociais. Não há números que sejam estrangeiros às concepções que temos da vida em sociedade.
(vide Serra, Carlos [dir], Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, pp.43-243)
(vide Serra, Carlos [dir], Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, pp.43-243)
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