Heroicizar os feitos de alguém parece ser uma característica permanente, uma necessidade imperiosa nos seres humanos. A escolha das figuras do ano talvez seja um exemplo. Interessante é a seleção política e politizada dessas figuras, generalizada em certos círculos.
Adenda: (permitam-me recordar um texto que escrevi em 2011, intitulado A teoria dos Grandes Homens; reprodução feita aqui): Há três coisas a considerar na teoria dos grandes homens. A primeira é que ela faz da história um colecção de actos movidos por pessoas consideradas excepcionais, sejam elas boas ou más. A segunda é que ela faz da correção da história - quando necessária - um processo de substituição de pessoas e não de sistemas. A terceira é que ela faz da história um caminho aberto por homens e não também por mulheres.
A crença na absoluta excepcionalidade dos grandes é, creio, generalizada. O homem excepcional (muito raramente se fala na mulher excepcional) é aquele que é suposto armazenar em si a capacidade inata de poder dar à história um rumo diferente, um rumo decisivo, bom ou mau.
A lógica da teoria dos grandes homens assenta em dados individuais e nunca em sistemas, em dados de pessoas e não de colectivos. Reparem, por exemplo, quanto a história das revoltas em África e Médio Oriente está cheia de relatos sobre Ben Ali, Mubarak, Kadafi, sobre a personalização do Mal, etc. Reparem como, entre nós, os partidos políticos, por exemplo, são regra geral colocados na penumbra em favor de pessoas com estas ou aquelas qualidades, apreciadas ou diabolizadas, de dirigentes, de grandes homens ou, se preferirem, de pequenos homens que alguns gostariam de ver grandes.
Adenda: (permitam-me recordar um texto que escrevi em 2011, intitulado A teoria dos Grandes Homens; reprodução feita aqui): Há três coisas a considerar na teoria dos grandes homens. A primeira é que ela faz da história um colecção de actos movidos por pessoas consideradas excepcionais, sejam elas boas ou más. A segunda é que ela faz da correção da história - quando necessária - um processo de substituição de pessoas e não de sistemas. A terceira é que ela faz da história um caminho aberto por homens e não também por mulheres.
A crença na absoluta excepcionalidade dos grandes é, creio, generalizada. O homem excepcional (muito raramente se fala na mulher excepcional) é aquele que é suposto armazenar em si a capacidade inata de poder dar à história um rumo diferente, um rumo decisivo, bom ou mau.
A lógica da teoria dos grandes homens assenta em dados individuais e nunca em sistemas, em dados de pessoas e não de colectivos. Reparem, por exemplo, quanto a história das revoltas em África e Médio Oriente está cheia de relatos sobre Ben Ali, Mubarak, Kadafi, sobre a personalização do Mal, etc. Reparem como, entre nós, os partidos políticos, por exemplo, são regra geral colocados na penumbra em favor de pessoas com estas ou aquelas qualidades, apreciadas ou diabolizadas, de dirigentes, de grandes homens ou, se preferirem, de pequenos homens que alguns gostariam de ver grandes.
A biografia é, afinal, o alimento predilecto das nossas histórias do dia-a-dia. Considerada a primeira coisa, passo à segunda. Aqui, a correção da história opera não através da ponderação dos sistemas nos quais vivem os chamados grandes homens, mas através da ponderação desses grandes homens, desses grandes homens em si. Se algo correu mal, se eles defraudaram as expectativas, se não foram capazes de ser os deuses terrenos que esperávamos, torna-se indispensável substituí-los por outros capazes de saciar a nossa sede de perfeição absoluta.
O problema cognitivo é suposto não residir nos sistemas sociais que produzem expectativas e crenças de um certo tipo, mas nas pessoas individualmente consideradas.
A biografia parece ser o êmbolo da história comezinha e dos sistemas de conhecimento imediato. Consideradas a primeira e a segunda coisas, resta abordar a terceira.
A história é, tradicionalmente, um caminho considerado aberto por homens, em seus génios e em seus feitos combativos, milhares de livros de história são disso testemunho. As mulheres têm-se quedado em espaços subalternos, apesar do seu combate pela visibilidade nas últimas décadas.
Biografia e androcentrismo são êmbolos da história comezinha e dos sistemas de conhecimento imediato, a primeira eclipsando a visão dos sistemas sociais, a segunda eclipsando o papel jogado pelas mulheres.
O problema cognitivo é suposto não residir nos sistemas sociais que produzem expectativas e crenças de um certo tipo, mas nas pessoas individualmente consideradas.
A biografia parece ser o êmbolo da história comezinha e dos sistemas de conhecimento imediato. Consideradas a primeira e a segunda coisas, resta abordar a terceira.
A história é, tradicionalmente, um caminho considerado aberto por homens, em seus génios e em seus feitos combativos, milhares de livros de história são disso testemunho. As mulheres têm-se quedado em espaços subalternos, apesar do seu combate pela visibilidade nas últimas décadas.
Biografia e androcentrismo são êmbolos da história comezinha e dos sistemas de conhecimento imediato, a primeira eclipsando a visão dos sistemas sociais, a segunda eclipsando o papel jogado pelas mulheres.
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