É simplesmente impressionante a construção de condomínios, de moradias e de prédios de rendimento na cidade de Maputo, especialmente na Polana, nas barreiras, na Nyerere, na cidadela junto à Universidade Eduardo Mondlane, na marginal até à Costa do Sol. Quase sempre de luxo, com cercamento electrificado, guaritas vigilantes e guardas privados, aqui e acolá em parceria com o casario pobre dos habitantes do desenrasca. Pouco a pouco, os pulmões verdes da cidade vão desaparecendo em favor de autênticos enclaves fortificados.Tenho cada vez mais a sensação de que Maputo é uma cidade diferente, uma cidade distante, uma cidade afinal rigorosamente dividida em duas: a cidade fortificada das elites nacionais e estrangeiras e a cidade dos bairros da lata e dos cortiços do povo desenrascador, ambas em crescimento desenfreado e sem regras, com duas zonas intermédias, uma do tipo habitacional digamos que no Alto-Maé e na Malhangalene e outra do tipo serviços centrais na baixa. O nosso jornalismo, a nossa romancística não elegeram ainda esses mundos como eixos de descrição, análise e enredo.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
2 comentários:
Ligeiramente igual, talvez seja o termo mais adequado.
Se à altura da Independência havia uma cidade Branca (toda a zona de Cimento, com excepção da Baixa, Malanga e Alto-Maé, que eram essencialmente habitados por mestiços, indianos e chineses). E uma cidade Negra, que compreendia todo o subúrbio.
35 anos depois, a situação pouco se alterou, porque a cidade Branca (ou o que resta dela) ainda lá está. A mestiça, indiana e chinesa idem. E a negra também. Com as mesmas regras, com a mesma traça.
O denominador comum em todas as épocas é o factor económico que municia e preserva determinado padrão de vida, que originalmente, por factores historicamente conhecidos, estava mais ao alcance da comunidade branca.
Os condomínios, respeitam o mesmo padrão, porque também apelam à capacidade económica de sustentar e preservar aquele padrão de vida. Inferindo-se daí que, os que lá vivem, têm posses. Esse, aliás, o critério de selecção fundamental.
Também, é a manifestação mais crua do aprofundamento do fosso entre ricos e pobres, amplificando as distâncias entre ambos.
Novas culturas urbanas, novas incubadoras sociais em ambiente estanque, onde tudo é perfeito, como no Primeiro Mundo, ante a postura atávica de alguns dos seus surpreendentes habitantes. "É a Globalização", justificam-se... perante os burgos do outro lado e em coro com os senhores feudais do Castelo lá de cima.
Maputo, uma cidade cada vez mais próxima de Luanda e do Rio de Janeiro...
Será por causa das novelas?!
Sim. Já aqui falei em São Paulo a propósito de Maputo. Infelizmente não temos, ainda, estudos de assimetrias sociais, entre as quais a habitação e a gestão do espaço urbano caberiam e cabem.
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