05 janeiro 2010

Espantar-me na rua (13)

Mais um pouco desta série sem fim.
Esta manhã, defronte de uma embaixada, numa rua algures desta hoje chuvosa cidade de Maputo. Dois avisos advertem os automobilistas de que não deverão estacionar as viaturas na zona reservada e muito menos nos passeios. Zona reservada e especialmente passeios estão ocupados com viaturas, vários 4x4. Surge de repente um Mercedes último modelo, uma avantajada senhora condu-lo, estaciona mesmo em frente à escadaria da embaixada, no passeio, dificultando ainda mais o acesso e a saída dos peões. A senhora sai com um cartão de banco para ir a uma ATM, sai devagar, pesadamente, sem olhar à volta, completamente à vontade em seu reinado de poder absoluto, hobbeseano. No carro ficou a sua enorme maleta de mão, cabedal puro, vidros fechados, um visível alarme ligado. Como sinto que por vezes a vida é leviatã!

2 comentários:

ricardo disse...

Retratos comuns da sociedade maputense.

Com efeito, a Polícia (Trânsito e Camarária) parece ter-se especializado mais em extorquir turistas na Quadra Festiva ou a multar ciclistas pasmados por circularem a 150 km/h(!).

Sempre me intrigou o modo selectivo como se reboca um infractor para o parque do Município num maranhal de veículos mal estacionados. Inclusive, já me pús a cogitar sobre quanto custa por todos os dias a "temível furgoneta" rebocadora a circular, 4 guardas armados, combustível e sobressalentes de lés a lés por Maputo inteiro, 365 dias por ano!

Mais valia usar bloqueadores de pneus, como aqueles do aeroporto de Mavalane, certamente mais baratos e fáceis de usar. Os quais, poderiam ser transportados por guardas em bicicleta ou até motorizadas.

Estou certo que o volume de receitas cresceria. E o respeito pelas regras de trânsito também.

Os parquímetros, para determinadas zonas a identificar pelo Município, também são uma saída airosa. Viver em cidade tem os seus custos. E quem tem carro, pode pagar. Quem não pode, anda a pé ou de transporte público.

Mas há outra faceta maputense que o V. relato mostra. O uso da ATM para encorajar o saque de NUMERÁRIO da Banca Comercial. Quando, em outros países, o Cartão de Crédito é o veículo preferencial nas transacções financeiras, uma vez que reduz o custo da emissão do Dinheiro pelo BANCO CENTRAL. Entre nós, a pouca fiabilidade do serviço, o vazio legal do mesmo e as taxas obscuras que aparecem no extracto bancário, afugentam o mais optimista dos clientes.

E porquê?

Porque a ATM viria a pôr a nú a falta de liquidez da nossa Banca Comercial. Mesmo com a limitação de quantias a sacar. O recurso ao "NÃO HÁ SISTEMA" é o que mais ordena, quando a procura é grande.

Quantas vezes é o dinheiro depositado " a la minute" que salva o dia dos desesperados funcionários bancários, que não sabem mais o que dizer a um funcionário público, exaltado, que naquela sexta-feira, pelas 15h30, é mandado voltar na segunda-feira, porque o Cartão está bloqueado ou ainda não foi entregue. Tudo por causa da liquidez deficitária da nossa Banca Comercial.

É uma situação que nenhum Banco moçambicano ainda é capaz de suster.

micas disse...

Que bom ainda se espantar com este tipo de situação. Isso é privilégio dos que ainda sonham. Dos jovens.Dos que acreditam que ainda é possível mudar determinadas situações.

Que bom Professor ainda se espantar.Felicito-o por essa sua capacidade sempre renovada