10 agosto 2011

Confrontos nas cidades inglesas: pontos de análise

O sociólogo Tony Travers parece ter ideias muitas claras e, também, muito policiais, sobre o que passou e passa em Londres (tudo começou nessa cidade, mais concretamente no Bairro de Tottenham) e sobre como controlar os acontecimentos, a saber: todas as grandes cidades do mundo produzem desordens. Não podemos dizer que a população originária das Caraíbas seja responsável pelas desordens ocorridas em Londres. Na televisão havia muitos Brancos  (sic) entre os que pilhavam. Há muitos jovens desempregados e ociosos e a ociosidade leva ao mau comportamento. Para evitar o agravamento dos problemas, a polícia deve ir em massa para a rua, a pé, nada de helicóperos ou de carros, sem dúvida que essa é uma polícia cara, mas pelo menos gera a impressão de controlo. E deve igualmente vigiar mais atentamente as redes sociais como Facebook, Twitter ou as mensagens instantâneas da BlackBerry - em francês no conservador jornal francês Le Figaroaqui; para traduzir aqui; recorde deste diário aqui. Sobre as redes sociais e celulares, confira aqui e aqui.
Adenda: mais cidades inglesas foram afectadas, multiplicando-se os gupos de saqueadores. Confira aqui. Reacção governamental e criminalizadora aqui, aqui, aqui e aqui.
Adenda 2: mais uma leitura sociológica, desta vez em inglês, com enfoque no vocabulário utilizado para descrever e criminalizar os manifestantes, aqui; para uma leitura criminalizante aqui.
Adenda 3: extractos: "Londres, Liverpool, Birmingham, e outras cidades da Inglaterra passaram a ser palcos de distúrbios promovidos por jovens que protestam contra o assassinato do jovem negro Mark Duggan de 29 anos, pai de quatro filhos, cometido por um polícia e que até o momento não foi elucidado a contento, visto ao absurdo em que o crime foi cometido. (...) São centenas de policiais nas ruas reprimindo os jovens, mas o intento oficial não está sendo atingido. E os tumultos estão se espalhando por outras cidades e bairros com depredações e saques. Diria o filósofo Jean Baudrillard que é a massa silenciosa manifestando ao poder governamental e social que não é um objeto que reflete seus desejos institucionais. Não reflete o que o poder entende como objeto de domínio e consulta." Aqui.
Adenda 4: um trabalho de Judith Orr, em espanhol aqui.
Adenda 5: culpando o Grand Theft Auto, aqui.
Adenda 6: risco de atribuir a uma suposta malevolência de imigrantes as causas dos levantes; risco de xenofobia.
Adenda 7: "Muitas das pessoas envolvidas são de famílias de baixa renda e alto desemprego e muitos, se não a maioria, não tem um futuro legítimo. Eles sentem que podem racionalizar [suas ações] atacando grandes corporações. Sentem que estas companhias tem muito dinheiro, enquanto eles tem pouco."

11 comentários:

Salvador Langa disse...

Ora aqui estou hoje mais cedo. Sobre o que diz o Sr Travers, não tem consistência argumentar que as pessoas protestam só por estarem "ociosas", pois há muita gente no mundo que protesta estando ocupada, com empregos. Também acho estranho que um sociólogo dê receitas sobre como a polícia deve actuar.

Paulo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=kn_8CKu9toc&feature=player_embedded

ricardo disse...

Serei breve. A causa para isto e o actual sistema financeiro internacional sustentado em mentiras e especulacao...

E a resposta para isso e a sua destruicao fisica e moral!

E ponto final.

Carlos Serra disse...

Logo que possível volto ao tema.

Xiluva/SARA disse...

Muitas vezes a violência lembra ao poder que é preciso pensar nos pobres...estou enganada?

Muna disse...

Sempre que surgem manifestações nos países da União Europeia a primeira conotação que se faz, mormente pela imprensa estrangeira, é que as manifestações são organizadas e praticadas pelos EMIGRANTES (africanos e / ou seus descendentes). Processo de intenção de culpa.

A culpa é sempre dos EMIGRANTES. Não se interessam, os governantes, pelas causas das manifestações, pelas políticas de coesão ou cidadania em pique, porquanto a culpa mesmo antes do verdadeiro problema surgir, é atribuída, ciclicamente, aos EMIGRANTES.

Tornou-se 'hóstia' que é repartida por todos os governantes, acusar, acusar, acusar… É fácil acusar, difícil é tomar responsabilidades.

No caso concreto da Inglaterra, a fazer jus pelas imagens televisivas, mostram cidadãos (não houve nenhum censo para determinar se são EMIGRANTES ou descendentes destes que estão por detrás do alvoroto popular) a pilhar bens alheios o que condeno, mas também, num outro ângulo, vemos os mesmos cidadãos a exigir seus direitos.

Afinal houve, de facto, desvio de fundos destinados à juventude (estes foram entregues à estatística da crise, outro refúgio dos político, crise, crise, crise…).

Um pouco de atenção é possível ver no site da União Europeia (incluindo aqui a Inglaterra) que MENOS 5% dos fundos existentes são destinados à juventude. Portanto, é óbvio que estas e outras ‘explosões populares’ sejam normais dentro da normalidade.

Sabemos hoje que a morte do aludido jovem é mero pretexto para o alvoroto popular. A Inglaterra é hoje um Estado à beira da ‘hemorragia financeira’.

Os erros em política pagam-se caro. Quem priva a juventude dos seus direitos que se prepare para enterrar o seu mandato. Com a juventude não se brinca.

Lembro-me de uma história da época, os conselheiros avisaram a Suharto que a juventude é mais forte que o arsenal de repressão que a sua ditadura dispunha. Suharto ignorara este aviso e dias depois caiu.

Portanto, a situação da Inglaterra é seria e deve ser reflectida por toda a União Europeia. Primeiro foi a geração à rasca, em Portugal, segui-lhe a juventude grega e agora é a vez da Inglaterra. Este é o século das manifestações. Sem dúvida.

Zicomo

nachingweya disse...

É a já prevista implosão do capitalismo.
Qual será a resposta?

Anónimo disse...

Esta noite, na TVM o decano Marcelino dos Santos voltou a defender, veementemente, o regresso ao socialismo!

ricardo disse...

A resposta ao Nachingweya tem tres variantes possiveis:

Variante A): identificar uma nova commodity do sistema financeiro internacional e esperar que o Dolar se atrele a ela sem demora. Desvantagem: esta e a solucao que tem vindo a ser repetida de a 200 anos para ca. Contudo, nao ha duas sem tres.

Variante B): a Asia toma dianteira da economia real, e o Yuan passara a ser moeda de referencia de uma parte da Asia. O Rublo da Russia e de uma parte da Eurasia. O Euro da Uniao Europeia. E o Dolar de todas as Americas. Mas para isso, os EUA devem dar sinais de que vao comecar a pagar a sua divida.

Variante C): III Guerra Mundial. Comecando por pequenos conflitos regionais, outros sociais e muita fome e pandemias. Sera um conflito longo. Obama fala em 10 anos. Eu acredito que nao menos de 100.

E nao minha opiniao, se deixarmos, a variante C) sera a preferida dos EUA, pois sao a maior potencia militar do mundo. Eles e os seus proxies sao detentores de 80% do poder de destruicao global. A Emenda Platt, ou a guerra das bananas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerras_das_Bananas), tambem nasceu assim. Provando que em defesa do Dolar, os EUA vao ate onde e necessario ir. Vivem-se tempos muito perigosos no mundo.

nachingweya disse...

Dizem que, e eu subscrevendo concordo,:"Uma boa guerra é melhor do que uma má paz"

nachingweya disse...

Depois do nosso 5 de Fevereiro e 1 e 2 de Setembro deviamos começar a cobrar direitos de autor pelas réplicas no mundo inteiro.
O pão barato lixou a ideia da coisa, cá.
É a ideologia que vem da barriga...