Já escrevi neste diário sobre a origem e sobre os pressupostos da sociologia.
Vou, de forma breve, retomar o tema.
Escreveu um dia o escritor inglês Herbert George Wells que a sociologia tinha por tarefa essencial a de fabricar utopias.
Na realidade, os primórdios da sociologia são exactamente isso mesmo, a produção de utopias.
A sociologia nasce como uma terapêutica, como um projecto de regeneração social, como uma tentativa para eliminar as térmites do corpo social. O sociólogo aparece em cena (cena exclusivamente urbana na altura) como um grande pontífice, um arauto messiânico. No século XIX, muitos dos sociólogos eram reformadores sociais.
Os seres humanos foram convidados a entrar no reino da razão, a abandonar de vez a emoção e a revolução e a pautarem-se por dogmas e por regras morais severas. O saint-simonismo foi efectivamente uma religião. Auguste Comte criou uma religião. Durkheim, um excelente sociólogo, nunca perdeu a sua veia de reformador social, de fabricante de sistemas morais e de inimigo das revoluções, de inimigo dessas crispações da emoção, da sem-razão.
Hoje ainda, muitos sociólogos continuam a guardar dentro de si a semente da reforma social.
Na verdade, ao perfil do sociólogo vivisseccionista (aquele que disseca o corpo social para o compreender) irmana-se o perfil do sociólogo reformador (aquele que luta por uma sociedade diferente). O primeiro trabalha no reino do "isto é assim"; o segundo enxerta nisso o reino do "isto deve ser assim".
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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2 comentários:
Põe-se a questão da advocacia e da suposta (impossível) imparcialidade que um sociólogo deve ter.
E qual diria que é então o papel do antropólogo?
O tema da imparcialidade é sempre muito controverso desde a "neutralidade axiológica" de Weber. No que me toca, devo recordar que existem neste diário muitas posições frontais, à minha maneira. Quanto aos antropólogos (os "antigos" sociólogos dos povos exóticos e/ou colonizados), não creio que os seus problemas sejam distintos daqueles que afectam ou podem afectar os sociólogos.
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