Foi ontem inaugurado em Dakar, capital do Senegal, o Monumento da Renascença Africana, que terá custado entre 15 e 25 milhões de euros. A oposição protesta contra semelhante gasto e também contra o facto de o presidente senegalês, Abdoulaye Wade, exigir a propriedade intelectual da obra e 35% da renda gerada com o turismo - resumo de um despacho da Rádio Moçambique esta manhã, no seu noticiário das 7 horas. Entretanto, a panapress reportou que milhares de Senegaleses protestaram contra a estátua e o eurones usou a expressão "indignação da população". Aqui e aqui. Sobre os diferentes primas de interpretação da estátua (49 metros de altura, maior do que a do Cristo Redentor no Rio de Janeiro), sugiro consulte-se a BBCBrasil, aqui. Finalmente, saiba-se que dezanove chefes de Estado, incluindo o nosso, estiveram presentes na cerimónia. Fotos reproduzidas daqui e daqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
13 comentários:
Bem, a foto e elucidativa. Duas mulheres humildes, ladeadas por um montao de lixo acumulado de dias, senao de meses, serve de porta-retrato do monumento em causa.
Prioridades auto-estimais. E megalomanias. Ja Houphouet-Boigny construiu um Vaticano no meio da selva (Yamoussoukro: http://roadtoworldcup.com.pt/uma-capital-inventada-yamoussoukro-costa-do-marfim-11-e-12-de-marco-de-201). Sabe-se la porque...
Quando a imbecilidade tem sentido de Estado, ela justifica-se com PARPA's, de que Wade e o mentor!
O que é que vai na cabeca dos líderes africanos?
Percebo a discórdia criada não pela obra como tal, mas pela escolha priorizada. A segunda foto é bem ilustrativa no que toca ao conflito lixo vs. estátua e na má escolha das prioridade para um "povo".
O outro é o nosso vizinho Mugabe que gastou muitos dólares para comemorar o seu aniversário num momento que o Zimbabwe está de rastos. Quem será e o que será o próximo?
Assim vai a nossa Africa.
AAS
Visto. Anotado.
Passo.
Que mal têm uma estátua?
Como estudante de património cultural (em toda a sua plenitude) que mal têm isso?
Mugabe? Não comento.
Zicomo
Mal nenhum, se os senegaleses tiverem a brilhante ideia de derreter as toneladas de bronze para fazer enxadas, machados, candeeiros, charruas e outros meios de producao para mostrarem ao seu Presidente, mais do que um PARPA em papel (!@#$%^&#@&!??), propriedade intelectual(???) e uns 35% de royalties turisticos(!!!), o que eles realmente necessitam para serem ainda mais dignos e porque nao dizer MAIS AFRICANOS!
Mugabe? Mas quem e Mugabe, ja ouviram falar de ALGUEM com esse nome? Eu nao.
Ricardo,
Você não sabe muito de património. Um bom académico, nestas circunstância, houve de quem mais sabe. Você com esta teoria está a promover um sensacionalismo barato. Só você é que pensa assim, se não tiver adeptos, claro!
Se assim fosse, pode crer meu chamuale Ricardo, que o amigo não teria no país o chamado património construido, edificado, monumentos históricos, porque pobres havia na altura da sua construção.
Curioso: o chamuale até tem todo o prazer de cobiçar aquilo que há fora, quando fala de Roma, Grécia, França, será que lá não há pobres?Pobres e gentes a morrer de fomes não acabam nunca, jamais, são os males do mundo. Nasceram com o mundo e vão acabar com o mundo.
Um dos graves problemas da nossa actualidade resume-se neste pensamento do Ricardo. Transmiti isso ao Armando Artur, que pouca gente, pouquíssimq, percebe de património cultural. Razão pela qual temos tudo a apodrecer. Já foi a Ilha de Moçambique, ao Ibo, ao Zumbo, ao Manhinkeni, ao Magul, etc? Nada, nem há escrito nada sobre isso. Amigo, não fale do que não sabe.
Há Estados que vivem do turismo, do património cultural. Cidades como Évora, só o turismo aglutina uma bopa parte de receita e mata fome há muita gente. Lisboa, idem.
O turismo é uma grande alavanca para o desenvolvimento e progresso social. A agricultura, etc., há muito deixou de ser a solução imediata dos problemas do povo. Os Estados se privilegiassem o turismo, o património, pode crer chamuale Ricardo, esses estados estavam condenados ao progresso. Quantos castelos, baluartes, etc., temos e que não são aproveitados?
Você pode dar comida há mil habitantes, mas no dia seguinte vai precisar de dar há 20 mil habitantes. Mas se o monumento for bem conservado, bem cuidado, pode dar comida ao país inteiro, todos os anos, todos os séculos. Este monumento (atenção que é diferente de património histórico, v. F. CHOAY)vai dinamizar o progresso social onde ele está inserido. Creia-me.
Sobre Mugabe, amigo, dê volta que quiser dar, você está longe de ser brilhante como ele. Ele, Mugabe, em têm o povo ao seu lado.
Quando certos fulanos armam-se em historiadores, é só matrecada que sobresai.
Ora vejamos: Senegal tem a Ilha de Saint Louis que, como a Ilha de Mocambique, é um patrimonio mundial e uma fonte de receitas provindas do turismo, mas está a cair de podre. Existe um enorme PATRIMÓNIO em degradacão, mas não é desse património que "os historiadores" falam, mas sim das estátuas.
E que mal tem uma estátua? se tiver dois ou 49 metros, o que é que isso tem? se custou 1000 Euros ou 25 milhões de Euros, qual é o problema? não é so uma estátua? se está localizada no Senegal ou no Rio de Janeiro, será que há mais pobres no Senegal que no Brasil? Como é que se pode não contextualizar "uma estátua" e a sua localizacão?
Um sujeito que se diz historiador e que pense assim, é um historiador de "meia lata", penso eu de que!
AAS
Temos de tudo ate aqueles que acham que esbanjar dinheiro para construir uma estatua cara e ainda por cima ter-se que pagar o seu mentor (o presidente do senegal) no meio de tantas necessidades nao faz diferenca. E mais, quer comparar Roma com Africa. Acredito que nos tempos de hoje ninguem na europa faria o que se fez a centenas de ans.
Viriato é o grande conhecedor dos factos...pena não perceber patavina os contextos dos mesmos. Esse é pecado do chamuale Viriato, não consegue nunca situar-se!
Quando descutimos com loucos, sobretudo pessoas invisíveis, ou ficamos loucos também, ou então ignoramos, deixamos que as suas palavras falem por si.
Muitas vezes ouvi isso do Dr. Aloni. Ele mesmo, que adiante acrescentou: "não te vergues perante um ignorante. Isso nunca. Ouviste bem, Viriato?"
Felizmente ouvi, mestre Aloni. Simplesmente não ligo. Avança e não recua África Rainha, avança e não recua Senegal...
Depois ouvi do professor e muito amigo Dr. Carlos Brigola (actual director do Museu da Arte em Lisboa, que não há receita em património para impedir que não haja manifestação. Tinha razão.
Só a título pessoal e se isso interessar aos meus detractores invejosos, tive a segunda maior nota do ano à cadeira de património cultural na minha universidade, facto que ainda hoje tem merecido rasgados elogios por parte do corpo docente, inclusive do governo de Moçambique na pessoa do sr. Embaixador.
Zicomo
Viriato, Viriato...você não existe! Não sabes mesmo ser humilde! Penso que aqui discuti-se ideias e não titulos que muitas vezes não reflectem o verdadeiro saber, porque uma coisa é o canudo e outra é o saber praticar esse conhecimento e infelizmente poucos sabem-no! Viriato, Viriato...não é correcto chamar aos outros de ignorantes só porque não comungam das suas ideias... no meu entender isso faz de ti o ignorante! Seja mais tolerante com o diferente!
Antes eu mesmo fui chamado de louco, de ignorante.
A Gata apenas se refugiou no meu comentário e fê-lo as metades.
Zicomo
Esta mais do que visto que o governo errou nas suas prioridades.
Num país onde a maioria da população vive na absoluta miséria, construir um monumento que custou milhoes de euros?
Concordo com a revolta da população.
Não queiramos nos comparar com a Europa ou América, eles lá não importam tomate, batata, cebola, etc.
A aposta de qualquer governo, como sempre disse e continuo acreditando nisso, deve ser na educação do seu povo e na saúde, acreditem que o resto tudo vem por acréscimo.
Quantas escolas poderiam ter sido construidas com esse dinheiro?
Maria Helena
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