07 abril 2010

Culto da personalidade (5)

Eis o término da série.
Uma terceira pedra angular do culto da personalidade é a busca do sagrado, do sagrado terreno, do sagrado profano, do sagrado pronto-a-usar.
Assim, seres humanos como nós são idolatrados como se deuses fossem, são ritualmente colocados em pedestais sacralizados, reverenciados como se de entidades supra-humanas fossem, cumprimos cega - e, quantas vezes, alegremente - as suas ordens, reproduzimos mimeticamente os seus dizeres. Seus escritórios, seus carros, seus adereços: tudo isso é matéria de culto ferveroso e permanente. Um mercedes último modelo, por exemplo, torna-se um altar em nossas almas sequiosas; o seu utente, um pequeno deus adorado.
Em múltiplas oportunidades da nossa vida diária, seja no contacto físico, seja através dos órgãos de informação, estamos confrontados com o incessante culto sacro-chefal. Esse culto tanto é produto dos mecanismos ideológicos (entre os quais está compreendida a produção do medo social) postos em acção pelas hostes burocráticas dos chefes, quanto das nossas necessidades e dos nossos interesses.
Por hipótese, quanto mais fraco é o coeficiente de crítica social, mais forte e indiscutível é esse culto, mais reverencial, mais idolatrante é a sociedade.
Falta iniciar um dia uma pesquisa a esse nível, somos completamente virgens nesse campo.
(fim)

2 comentários:

ricardo disse...

Virgens? Sera entao este culto de personalidade diferente daquele que vivemos na era Socialista?

Seriam gestos, vestimentas, aderecos diferentes?

Porventura sim. Porque a qualidade dos mesmos era inferior a actual. Todavia, o modus operandi era absolutamente igual.

Penso que a colocacao do problema deveria ser posta no sentido em como o estudo deveria ser feito. Ao inves de longos discursos de auto-critica em congressos de unanimidade questionavel, e tempo sim, dos mais competentes - os academicos - sistematizarem estes comportamentos que nos acompanham desde 1975.

Professor, ainda se lembra da proibicao, apos a independencia, da pintura de automoveis com a cor branca, porque esta cor era reservada para os veiculos do ESTADO? Que sacralizacao pictorica seria esta, senao a de patricios & plebeus? E eramos uma patria socialista!

Abdul Karim disse...

Concordo que somos virgens na critica social... ficando pior quando temos uma media nacional que nao pretende desvirginar-nos... ou seja, a nossa media, entende que nos tem que manter virgens na critica social, para permitir o culto de personalidade e idolatria a fim de justificar a fortuna de uns e miseria de outros.

os academicos e intelectuais sobraram muito poucos, ficamos bem abastecidos de "pseudo-intelectuais" e hipocritas escovadores e lambedores de botas.