02 janeiro 2010

Dhlakama: o texto e o intertexto (3)

Em todas as coisas humanas, quando se examinam de perto, demonstra-se que não se pode afastar os obstáculos sem que deles surjam outros." (Maquiavel)
Penúltimo número desta série.
Por hipótese, o presidente da Renamo jogou politicamente em dois sentidos: (1) apresentar-se como vítima do regime no poder, levando-o tacticamente a sitiar-lhe a casa com aparato e a vigiar-lhe ostensivamente os movimentos (ideia a passar: cerceamento de liberdade, golpe na democracia); (2) deixar na penumbra quadros do seu partido, disponíveis para organizar as manifestações (ideia a esconder: recuperação simbólica da guerrilha). Diagonal das duas ideias: criar as condições tácticas para forçar um acordo de partilha mínima de poder (hipótese moderada não apresentada à superfície dos pronunciamentos ruidosos) ou organizar novas eleições (hipótese radical amplamente publicitada para esconder a primeira).
O acórdão do Conselho Constitucional forneceu a Dhlakama "ilícitos culposos" (recorde aqui) em dose suficiente pare ele robustecer a ideia das manifestações e, no interim, aguardar (1) a eventual pressão de parte da comunidade internacional e (2) a possibilidade de "negociações de paz", numa espécie de neo-acordo de Roma desaguando, desta vez, na partilha de poder.
(continua)

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