Fui a um fotógrafo tirar fotografias para renovar o meu bilhete de identidade. Uma fila de pessoas. Serviço rápido. Cada pessoa, cada rosto sério, a foto pronta. Foi a minha vez de me sentar no banquinho. O jovem fotógrafo ajeitou o meu rosto e foi para o tripé. Eu sorri.
-Senhor favor não rir.
-Não posso rir?
-Não, a fotografia tem de sair com a cara sem rir.
-Mas há alguma lei que proíba o riso nas fotografias para bilhete de identidade?
-Isso não sei, o que sei é que não deve rir, ninguém ri, só o senhor quer rir, mais ninguém ri.
-Senhor fotógrafo, deixe lá eu rir-me. Também ninguém tem um bigode como o meu...
-Senhor, não vale a pena confusionar, não pode rir! Bigode é sua coisa, não rir é minha coisa.
_______________________
Sabeis, eu adoro a vida, eu adoro as pequenas coisas, as pequenas comoções. Tudo o que é modestamente pequeno, é espantosamente grande.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
13 comentários:
Duas iniciais!!!!!!!! O verdadeiro castelo de Kafka! E sempre à espera de Godot!!!!Vamos lá ver quando me chega a vez de ter o meu cartão..
Professor,
acho mt bem que para efeitos relacionados com os relacionamentos entre o cidadão e o Estado, ninguem que não tenha cartão, possa sequer esboçar um esgar que se confunda com sorriso e muito menos para o BI que tem validade de alguns anos!.
Ou não me diga que depois daquela noticia publicada hoje no Zambeze acerca do relacionamento entre as estruturas locais de Chemba e os ditos oposisionistas, não se aproxima o dia em que sorrir para o Estado vai ser interpretado como um sinal de completa desorganização mental?
Pois......
Confesso...ler este post deixou-me... muito bem disposta! Bjs meus
É pela janela do riso que muitas vezes compreendemos as coisas sérias e chatas.
O seu post fez-me pensar no momento em que parei de rir para as fotografias oficiais... Na primeira classe!
Nos tempos em que a emolucao socialista era um facto importante e estar no quadro de honra uma verdadeira honra, estive entre os escolhidos para constard ele. Entre todas as fotografias, de todos os honrosos representantes de cada classe a minha era a unica que expressava um sorriso feliz e aberto. O representante da segunda ou terceira classe, que num momento qualquer observava o quadro comigo perguntou-me:
- Porque estas a sorrir?
- Nao se pode? - perguntei, pensaondo na minha inocencia infantil se nao era afinal aquele um momento feliz na nossa vida?
- Nao ves que mais ninguem esta a sorrir?
Assim se socializa. Nunca mais sorri para uma fotografia! Acho ate que fujo de ser fotografada.
E bom saber que certas tradicoes ainda nao morreram e que posso continuar a nao sorrir e a sentir que ir tirar fotografias oficiais e uma experiencia tao traumatizante quanto uma ida ao dentista.
Nao se esqueca de nos avisar quando ja for permitido voltar a sorrir. Teremos que analisar os eventos sociais que conduzam a essa mudanca drastica no nosso comportamento social.
E no seguimento do comentario da Fatima, e tao bom estarmos num mundo de tecnologia, em que as maquinas vieram para tornar tudo mais rapido e eficiente.
Ainda me lembro do tempo em que devido a ineficiencia do trabalho manual se levava (3) longos MESES para se ter um BI. Agora, somos modernos, so esperamos o que, uma media de 300 a 500 DIAS.
Se nao tivessemos um estado que se quer tao eficiente como o nosso, nao sei onde estariamos. Certamente nao seriamos o coqueluche da comunidade internacional.
A...luta continua!!!!!! Abraços!
Perguntas fundamentais as suas, temas de pesquisa.
SUGESTAO para problemas como da FATIMA:
EXPERIMENTE IR AO BALCAO UNICO! Eu fui - nao ha' bichas, alguns funcionarios nunca estao (5 dias diferentes, a horas diferentes, tudo no horario certo), alguns funcionarios jogam no computador as cartas (sem se preocuparem em esconder ou disfarcar), existem pelo menos 11 guichets (11 funcionarios..), cada um tem computador,etc - que fazem? acho que nada - sao simpaticos, informam, mas...nem sequer reconhecem uma assinatura! Talvez seja um modo de diminuir o desemprego....
Professor
Que tal ver a ordem para nao rir como outra coisa? Nao sera' uma oportunidade, inconsciente, de exercer "poder"? O certo e' que o Prof. obedeceu, aquele fotografo "mandou", a sua liberdade de querer ficar a rir foi vencida...
O PODER parece hipnotizar.. manifesta-se nas coisas mais insignificantes...
Pois é...Por que não lhe deixar esse poder, ele que é "poderado" por poderes bem mais avassaladores?
A descrição do "balcão único" é, no mínimo, fascinante.
Enviar um comentário