-Pára-brisa patrão, bom preço!
-Obrigado, já tenho.
-Coisa de limpar vidro, patrão!
-Obrigado, não preciso.
-Patrão bom pineu não furar!
-Onde está o pneu?
-Com meu primo lá lá [gesto largo, sorridente, apontando vagamente para a retaguarda] no Xiquelene.
-Obrigado, já tenho pneu.
-Vidro para pôr ali no frente, faz bom preço!
-Obrigado, já tenho vidro.
-Relógio mesmo coisa rolexi patrão, bom preço!
-Tenho relógio.
-Pedra-pome patrão dez faz preço um!
-Obrigado, não uso.
-Patrão capulana bom preço!
-Não quero.
-Bom batique dois faz preço um!
-Já tenho.
-Patrão caneta parquere bom preço compra dois preço um!
-Já tenho, obrigado.
-Patrão, guardar carro.
-Você quer guardar carro quando eu estou a sair?
-Patrão dá cinco mil!
-Hé wena famba teca timbuti, unga ni quatisse!!!!!!! (é homem vai buscar cabrito não me aborreça)
Há dias, devo confessar, em que não tenho paciência para ser sociólogo. O cidadão com úlceras gástricas proteínadas, ganhas nas ruas do bom-preço-patrão, eclipsa-o por completo.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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