Estou completamente consciente de que percorrer as estradas em seu sentido pleno, total, táctil, é uma aventura muitas vezes cansativa. Por isso compreendo todos aqueles grandes pensadores que sabem encontrar vias mais rápidas para chegar às grandes verdades, os pensadores corta-mato, como um tal Ducarla, autor de um livro com o título "O fogo completo" e que, tal como o Sr. Jourdain escrevia prosa sem o saber, descobriu que sabia tudo do fogo sem necessidade de o estudar: "As moléculas ígneas... aquecem porque são; são...porque foram...esta acção só deixa de verificar-se por falta de sujeito."
Quantos Ducarla não há por aqui?
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
3 comentários:
Linchamentos e acadêmicos: o império da doxa!
Não confudai o detentor de crêndecial de sociologo, com o Sociologo!
Não confudai o detentor de certificado de antropologo, com o Antropologo.
Não confudai o detentor de diploma de Filosofia, com o Filósofo.
As nossas universidades, infelizmente, multiplicam os primeiros e exterminam as possibilidades de existência dos segundos. E isso ocorre independetemente da origem social destes.
O problema, então, não esta em estes oferecerem respostas tipo “corta-mato”. O problema é estes não saberem fazer outra coisa se não oferecer respostas do tipo “corta-mato”. E nisso a responsabilidade não é de todo daqueles.
Com o crêdo que alimentamos de que a credêncial representa efectivamente conhecimento, projectamos nossas expectivas sobre os credênciados convencidos que estes adoptaram, durante os anos de socialização académica, a postura que os levaria além da legitimação da doxa. De preferência fazendo-se legitimar pelo título do que pelo mérito do argumento. Repareis e analisais os debates televisivos que ocorrem no país. Lides os nossos jornais. Ireis encontrar um espaço fertil para doxosociologos, doxohistoriadores, doxofilosofos e por aí em diante.
Recordais, a doxa não pensa. A doxa é senso-comunista.
O pior é quando esta se faz passar por conhecimento, envoltro em conceitos comuns no discurso acedêmico. A doxa aí faz-se passar por senso comum erudito. O tão caro “Combate pela Mentalidade Sociológica”, deve alarga-se a abertura de outras frêntes de combate. O combate pela mentalidade histórica, filosófica, antrolplogica etc. O dificil combate em todas as frentes só cessa quando tivermos no país massa crítica capaz de distinguir doxa, senso comum, mesmo quando eruditizado, de conhecimento. Quando formos capazes de incutir o principio epistémologico fundamental: Duvidai, Indagai e investigai!
As nossas universidades ainda estão na idade das trevas a esse respeito.
Nós temos um sistema de ensino superior que só permite multiplicar credências. Talvez seja altura de fazermos uma avalição séria do que andamos a reproduzir nas nossas universidades.
Opinião todo mundo pode ter, e não é mal nenhum não ter uma. Perguntemo-nos se é de universidades formadoras de doutores em doxologia que preciamos no país. Hoje já vamos com 23.
PL
De acordo consigo!
“O cancro dos cancros”
Um professor meu volta e meia fazia referencia aos “Tueurs des Chercheurs”. Na época esta expressão fazia-me sorrir... Verdade seja dita, era o meu lado naïf que se materializava no meu sorriso. Guardei os dentes qdo li a seguinte frase de H. Mendras:
“Certes le diplôme est nécessaire pour le recrutement, mais finalement le choix se fait à travers un réseaux de rapports personnels et d’influences ; il faut être bien avec Monsieur X pour se faire embaucher dans tel service »,
Assim, dei por mim cogitando: apesar de mto boa vontade, mta persistencia, existem “sujeitos capazes” que nunca poderao ser sociologos, arquitetos, antropologos, engenheiros ...
Tendo em mente que o papel das ciencias sociais é de contribuir para uma cada vez melhor formulação dos pensamentos, das ideias... Continuei refletindo sobre a frase supracitada. Deparando-me assim com aquilo a que eu chamo “o cancro dos cancros”.
O cancro é uma doença caracterizada por uma proliferaçao de celulas anormais...
Felizmente nos nossos dias mtos tipos de cancros já têm cura. Mas, o que ainda nao tem cura é o “nosso olhar” face às pessoas portadoras de tais doenças. E quando digo “nosso olhar” refiro-me à sociedade feita em valores e normas. Assim, “o cancro dos cancros” resulta numa proliferaçao de ideias preconcebidas, em torno de pessoas malfadadas por tal doença. Ideias essas que por vezes podem ter um efeito opressor e desestruturador. Noutros termos, “o cancro dos cancros” é a implicaçao social de tal doença. Exemplo, discurso de alguns profs.(com todo respeito pelos Profesores que nao têm comportamentos semelhantes) para um doutorando em sociologia a quem embora tenha sido diagnosticado um cancro, insistia em terminar sua tese:
1) “pode ser cruel o que eu vou dizer-te, eu tbem acho, mas nao se pode trabalhar com uma pessoa que tem sempre desculpas para nao cumprir os prazos... se nao tens capacidades vai fazer outra coisa”; 2)“Você trabalhava mto bem, ja produziu mtos artigos mas agora nao...nao podemos continuar a trabalhar consigo.” 3) “sejamos pragmaticos, nao importa o que ja fêz, foi um dos meus alunos mais promissores mas, a verdade é que ha cerca de dois anos nada faz absolutamente nada”.
Recordo que para certos cancros , os dois primeiros anos sao fatais, um outro periodo critico sao os 5 anos. Minha pergunta é o que impediria ao estudante em questao de continuar a trabalhar(nesses tres anos) no sentido de (pelo menos) poder obter a sua credencial? Acresce ao facto que tempos depois aquilo que seria sua tese foi publicado por terceiros.
... nao pretendo alargar-me nos comentarios, mas apenas queria reforçar a ideia que, de facto nao sao as credenciais ou os diplomas que fazem as profissoes. Ser sociologo, engenheiro, antropologo, ou la o que seja é tambem uma questao de “encontros”. Encontros que nos possam ajudar a caminhar por “estradas em seu sentido pleno”. Estradas essas, por vezes, cansativas e artilhadas de contrariedades...
A minha intervençao nao é no sentido de julgar os “pensadores corta-mato”, mas de chamar a atençao para outros factores impulsionadores do espaço para a acçao dos “pensadores corta-mato” ou “investigadores corta-mato”
Iolanda Aguiar
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