02 janeiro 2010

Dhlakama: o texto e o intertexto (4)

Em todas as coisas humanas, quando se examinam de perto, demonstra-se que não se pode afastar os obstáculos sem que deles surjam outros." (Maquiavel)
Último número desta série.
Um bocado pelo mundo as oposições fazem manifestações de protesto e o presidente da Renamo sabe certamente disso. Coisa natural. Porém, para certos sectores de opinião é politicamente útil passar a mensagem da loucura, da infantilidade, da criminalidade e da irresponsabilidade de Dhlakama, quatro ingredientes fast-food que impedem a leitura do comportamento político.
Por agora, o problema da Renamo em geral e de Dhlakama em particular consiste em saber (1) se e quando farão as manifestações e (2) se os seus deputados (não) tomarão posse.
Não fazer manifestações depois de tanta publicidade é resvalar para o ridículo definitivo; fazê-las, implica conhecer a alma da oportunidade e avaliar a espessura dos riscos (a Frelimo não fará qualquer tipo de partilha do poder, ainda por cima agora que está musculada com a "vitória esmagadora"). O tempo vai passando, as pessoas estão na ressaca das festas e muitas provavelmente sem dinheiro nem disposição para manifestações. Acresce que este é um mês de férias para as chancelarias. Tudo isso será um teste (1) à capacidade organizacional de Dhlakama e da Renamo e (2) à possibilidade, certamente muito desejada, ao nível da direcção, de disfarçar os problemas internos do partido. Provavelmente, se se realizarem, as manifestações irão acontecer no dia 12, quando da tomada de posse dos novos deputados da Assembleia da República.
Por outro lado, permanecer na cruzada de impedir os deputados eleitos da Renamo de tomarem posse é um risco sério, pois os proventos e os recursos de poder fornecidos pela Assembleia da República são demasiado sedutores para serem desperdiçados e poderão gerar descontentamento e uma crise partidária muito séria. Ser deputado da Assembleia da República é a ambição constante de muitos militantes (daí, por hipótese e muitas vezes, as conversões, as deserções e as reconversões partidárias) não importa de que partido (os arquivos dos curandeiros cura-tudo do país devem estar cheios de tratamentos propiciadores a esse nível).
Assim tentei mostrar que um intertexto é, em toda a sua complexidade, em suas múltiplas ligações, bem mais aliciante do que o mero texto simplista.
(fim)

1 comentário:

Beto disse...

Penso que a manifestação depois da posse oficial de Guebeuza vem muito tarde. O novo governo já está legitimado! A época oportuna passou!!!! Por essas e outras que esperamos a consagração de Simango como oposição séria.