05 dezembro 2008

Espantar-me na rua (9)

Vamos lá ver se tenho a capacidade de contar o que sempre amo contar: o que não tem importância, o banal. Sou sentidos, acreditem.
Amo beber café ali numa das cafeterias (deixem-me dizer assim) do Jardim dos Namorados, Avenida Friedrich Engels, cidade de Maputo.
Então olhem este registo de imagens, de sensações.
Um grupo de jovens sul-africanos barulha suavemente com sua conversa de coisas do dia-a-dia, coisas de sentir, sumos, celulares, polpa do desliza sem pensar. Do meu lado direito a habitual criança de olhar triste, filha de um guarda privado das redondezas, sapatilhas sujas, duas manchas no couro cabeludo, mira as duas crianças que brincam com o carro-feira com sua buzina e seu intermitente barulhar de carro electrónico. Dois vendedores de amendoim furadores do controle dos guardas privados do jardim tentam meticais para o fim-de-semana em seu jeito ágil de dizerem existimos. Um vendedor de lotaria lotaria-me e eu compro um bilhete escolhido ao calha. Passam jovens, todos, creio, da média burguesia maputense, eles ostentando bem-estar e músculos, elas em seu jeito de graça casadoira com suas pernas belas ostensivamente à vista. Ao fundo, nos bancos de tipo comunal-rural, uma jovem excepcionalmente bela e alta, calção curto e ombros demasiado hercúleos, procura namorar pela sexualismo expositivo um jovem de óculos, albino, do género calmo, mas persistente. Passa uma família creio que iraniana e, encastoada nela, uma senhora com botins negros em meio a este calor, seu cabelo é ruivo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Humm...
Obrigada pelo passeio. ;-)

Lisa disse...

Tb tenho esses momentos de registo de imagens, de sensações..

O meu foi este:

Alguns minutos de um momento vivido, algures aqui onde gosto de escrever e sonhar.

Uma decoração pôs-se, é-me familiar, plantei-o em cada acontecimento da minha vida.

Um homem, casaco de ganga sobre as costas, cabeça baixa, as mãos nos bolsos; estranho aquilo recorda-me alguém!

Anda como um coração solitário mas onde vai ele?

A um certo momento, vejo-o levantar os olhos, húmidos como o oceano que se estende na frente dele. Olha para mim.

A imensidade face a ele, vi que sentia no entanto um vazio, este vazio incessante que o prossegue.

O mesmo vazio que me prossegue também.

Quereria gritar a injustiça, não compreendia o que lhe acontecia; conseguirá ele um dia compreender?

De certo, mas poderá ser demasiado tarde!

De repente, uma brisa toca-o, tão suave, tão tranquilizante, tão terna, mas esta brisa transforma-se em dor e o duro regresso à realidade.

Volta a baixar a cabeça e fecha novamente as mãos.

Volta sobre o caminho da sua vida!


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Como você diz ,"não tem importância, o banal" mas naquele momento foram uns segundos comuns da vida diária de um homem comum que eu resistei na minha memória.

Abraço

Lisa