14 março 2015

Assassinato de Gilles Cistac: hipóteses sobre contexto, causalidade e consequências (10)

"O facto científico é conquistado, construído e verificado" [Gaston Bachelard]
Décimo número da série. Permaneço no terceiro ponto do sumário proposto aqui, a saber: 3. Consequências, ainda no subponto 3.2. Produção criminógena de medo. Propus no número anterior duas linhas de reflexão: uma de longa temporalidade, outra de curta temporalidade. A longa temporalidade diz respeito às guerras, às perseguições políticas, às mortes, aos ferimentos, à tortura e ao imenso e múltiplo sofrimento físico e moral de milhares de pessoas que, por etapas sucessivas, atravessam e marcam a história criminógena de Moçambique desde a fase activa do comércio de escravos [XVIII/XIX]. Pode suceder que a recordação de tudo isso sofra um eclipse físico sempre que morre quem sofreu, quem soube e quem comunicou, mas o legado geracional - com o seu peso de angústia e medo - parece não desfalecer, subindo sempre cada degrau do futuro. Ainda que escritas num outro contexto, recordo algumas das mais extraordinárias palavras escritas na história analítica da humanidade por Karl Marx: "Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem arbitrariamente, nas condições por eles escolhidas, mas nas condições directamente dadas e herdadas do passado. No cérebro dos vivos pesa com força a tradição de todas as gerações mortas." [Le 18 Brummaire de Louis Bonaparte. Paris: Éditions Sociales, 1969, p.15]. Se não se importam, prossigo mais tarde.

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