Oitavo número da série. Por que tenta a polícia transformar António Muchanga em herói? - esta foi uma pergunta formulada pelo jornalista Paul Fauvet aqui. Essa pergunta é o pretexto para esta série, que hoje termina. Prossigo com as hipóteses. Já escrevi sobre a produção de heroísmo e de messianismo em relação a Afonso Dhlakama. Falta agora escrever um pouco sobre a produção de martirismo no tocante a António Muchanga, porta-voz do presidente da Renamo, conforme prometido aqui. O Sr. Muchanga já foi detido duas vezes, uma o ano passado, outra este ano. A incitação à violência esteve na base das duas detenções, sendo a segunda detenção claramente ilegal pois não fora levantada a sua imunidade como membro do Conselho de Estado. As duas detenções foram motivo para, em certos círculos de opinião, ocorrer de imediato a transformação de António Muchanga em mártir da democracia, em vítima da violência política adversária. Temos, assim, de Dhlakama a Muchanga, um largo espectro politicamente construído no sentido de questionar permanentemente a validade do Estado e de legitimar não importa que apologia da violência política. Esse espectro contempla a defesa ostensiva (1) do exército privado da Renamo e (2) das múltiplas declarações de promoção de violência política, de ameaças castrenses e de separatismo regional. O Estado aparece como instigador da injustiça, a Renamo como pobre vítima. Longe parecem os tempos descritos e analisados por exemplo aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. (mapa abaixo reproduzido com a devida vénia daqui)
Adenda: leia o rescaldo da 91.ª ronda das negociações entre Estado e Renamo, ontem ocorrida, aqui.
1 comentário:
Quantos politicos e generais ja pagaram pela guerra civil ? Nenhuns.
Os unicos que continuam a pagar sao os moçambicanos mais pobres.
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