Segundo número da série. Por que tenta a polícia transformar António Muchanga em herói? - esta foi a pergunta formulada pelo jornalista Paul Fauvet aqui. Ora, com base nessa pergunta, numa curta série, vou tentar apresentar algumas hipóteses sobre como, na história política mais recente do nosso país, Afonso Dhlakama tem sido produzido como herói e António Muchanga como mártir. Comecemos por Dhlakama. A 24 de Janeiro de 2010 Dhlakama deixou a sua residência oficial em Maputo, passando a morar na cidade de Nampula, em protesto contra os resultados eleitorais de 2009 que deram vitória a Armando Guebuza e à Frelimo. A 08 de Março de 2012, a Força de Intervenção Rápida cercou e atacou a sede da Renamo naquela cidade. A 17 de Outubro desse ano, Dhlakama fixou-se em Santungira, distrito da Gorongosa, província de Sofala. Aqui. Nesse período de 2010/2012, com constantes ameaças de retorno à guerra, foi construída em certos círculos a tese de que Dhlakama era um herói que tinha decidido viver fora de Maputo, viver lá onde o povo sofria, viver em prol da real democracia, sendo essa a razão, afinal, por que ele ("pai da democracia" - defendiam e defendem os seus seguidores) e o seu partido eram atacados pelas forças de segurança governamentais, como sucedeu em Nampula. À tese do herói colar-se-á, mais tarde, a partir de 2013, a do messias. Aguardem a continuidade da série.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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