16 janeiro 2015

Chitima e a lenda/boato da bílis letal de crocodilo (4)

- "Gente idosa e residente em Chitima acredita que nas mediações daquele povoado há rios povoados por Crocodilos e que apesar deste animal ser de difícil aquisição, um experiente premeditou este acto, tendo colhido e devidamente conservado partes de bílis deste animal, com o intuito de dizimar vidas. Esta asserção vem ao de cima por experiências amargas do passado e que virou lenda naquele povoado!" Aqui.
- "Na tragédia actual em Moçambique, não posso imaginar quanta bílis seria necessária para adicionar a 210 litros de cerveja de maneira a causar muitas mortes." Aqui. (agradeço ao RC o envio desta referência)
Quarto número da série. Prossigo sobre o crocodilo enquanto repositório do Perigo Absoluto, do Grande Mal, nas representações populares. Animal grande, animal perigoso, animal feio, animal assassino, animal traiçoeiro, animal coriáceo: é de múltiplas maneiras que o crocodilo surge nas representações populares africanas. Nos nossos rios há séculos que pessoas são agarradas, mortas e devoradas por crocodilos quando, inadvertidas, lavam roupa ou tomam banho. Tenha-se em conta, por exemplo, o Zambeze. Sobre os crocodilos foram construídos medos, presságios e lendas. Uma das lendas assenta na crença de que partes dos seus corpos possuem propriedades letais, como a cabeça e o fígado. A crença de que o suco biliar do crocodilo é venenoso é uma forma popular de traduzir o Perigo Absoluto, o Grande Mal, a Impureza Total desse réptil. Eis, agora, três perguntas:
1. É a crença cientificamente válida? (a entrar: posição de um farmacologista zimbabweano, Professor Norman Z. Nyazema; um trabalho sobre pesticidas de A. Ferrer e R. Cabral)
2. É ela objectivamente falsa, mas subjectivamente sentida como verdadeira?
3. Se é subjectivamente sentida como verdadeira, qual a razão ou quais as razões?
Aguarde o próximo número desta série.

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