"Os protestos vêm de grupos que aceitam o fosso entre ricos e pobres, mas dizem que merecem estar no lado rico do fosso. Afirmam ter o privilegiado direito de compartilhar a riqueza que vêem estar disponível - porque são médicos, porque estudaram para mestrados, porque assinaram o acordo de paz em 1992 e concordaram em acabar com a guerra, ou porque arriscaram suas vidas em guerras."
O professor universitário e jornalista Joseph Hanlon comenta em inglês as greves dos médicos em Moçambique, aqui. Imagem reproduzida daqui.
O professor universitário e jornalista Joseph Hanlon comenta em inglês as greves dos médicos em Moçambique, aqui. Imagem reproduzida daqui.
6 comentários:
Diz certas coisas que não encontramos em mais nenhuma análise local, quer dizer diz coisas recordando que há grupos sociais. "É ou não é?"
As posicoes anarco-comunistas de Hanlon sempre foram conhecidas na nossa media. Por vezes, ate pecam por excessivo optimismo, tal como e o caso de um livro recente sobre o Zimbabwe. Caso para perguntar: em que parte do mundo e que uma classe medica esteve ao nivel da gente pobre, como estrato social, digamos?
Na antiga URSS? Em Cuba? Na China? Nos EUA? No Benelux? Nos paises nordicos?
Em parte alguma assim foi. E logo a partida, porque pobres foram poucos que chegaram la e gracas ao seu proprio esforco. Alem disso, a maioria dos signatarios daquelas reivindicacoes em algum momento geracional foram pobres, mas evoluiram. Mesmo na URSS, onde se pugnava por uma sociedade "sem classes", haviam os representantes dos grupos profissionais que na verdade, nao se diferiam muito destas que temos hoje na docencia, economia e obviamente na medicina. Sempre houve elites em qualquer sociedade. Independentemente da orientacao ideologica. Ate no Cambodja de Pol-Pot haviam elites. Porque para isso, basta que um grupo se aproprie do poder para se distinguir imediatamente dos outros.
No mundo ideal de Hanlon, estariamos, muito provavelmente a dividir sempre o bolo da riqueza por igual, sem nos importarmos com a contribuicao efectiva de cada um. No comunismo europeu, era assim. Salarios baixos, mas uma serie de beneficios sociais, que faziam do salario uma ajuda de custo familiar. Na antiga RDA, dizia-se, so era preciso nascer, pois a seguranca social do regime cuidava de tudo, ate da formatacao do pensamento. Tudo robotizado. Em Mocambique, nao foi assim, mas muita gente viveu bem gracas ao cargo oferecido de bandeja e a despreocupacao de nunca ficar desempregado. O Estado, impunha quotas a UEM para formar X profissionais do ramo Y a cada ano. Em suma, era sair do banco de escola para um gabinete "ad aeternum".
Mas o capitalismo triunfou e agora, dependemos de nos mesmos. Por isso, o nosso dever como gente mais informada, e ensinar como sobreviver nele!
Sendo assim, acho as consideracoes de Hanlon academicamente interessantes. Mas completamente inuteis para se enquadrar no problema pratico que temos em maos. E o problema em concreto e, para alem da justica salarial, organizar as contas do Estado e tambem, promover a produtividade na Funcao Publica, ao inves do carreirismo burocratico, porque esse, e que o caminho para a classe media sobreviver nos tempos conturbados de hoje. E dou um exemplo. No meio academico, ha hoje muitos mais doutorados. Mas a taxa de produtividade de ciencia e investigacao foi elevada com isso? Claro que nao. Inclusive nas faculdades de Medicina. Ora, eu sou de opiniao que a componente salarial aqui deveria ter tambem em consideracao este aspecto subjectivo na avaliacao de desempenho, convertendo-o em suplemento variavel. Coisa que nao ha hoje em dia. So assim e que se podera estabelecer um PRINCIPIO pelo qual todos se deverao bater.
Porque se nos concentrarmos apenas nas "revelacoes" do profeta Hanlon, ainda acabaremos por dizer que nisto tudo, o GOVERNO sempre teve razao!
As posições anarco-capitalistas dos Ricardos são sempre cristalinas como a água "pura" de fabrico capitalista. O seu ideal é a desigualdade e a injustiça. Imaginemos um texto a começar assim, seria uma chatice bué não é?
Sr. Professor Serra, os ataques "ad-hominem" do sr. Matsombe tambem. Fiel aos ditames sua ideologia psico-centrista, esta mais preocupado em atacar o mensageiro do que produzir inteligencia que valha para um debate que desconhece na totalidade...
Tenha ao menos o pejo de saber perguntar o que nao percebe. Nao adivinhe. Conteste, apresentando alternativas. Nao filosofe, para encher o ego. Seja construtivo. Por isso e que tem um curso superior pago com as injusticas do capital, que ainda lhe oferece um excelente ordenado ai em Angola em nome do anarco-capitalismo petroleiro.
Deveria mudar de pais e ir para a Coreia do Norte ou Cuba para la mostrar a sua insatisfacao existencial.
P.S.
Espero que nao me censure o direito a resposta, sr. Professor.
Sejam quais forem as nossas simpatias filosóficas todos reconhecemos a justeza da luta dos médicos e não deveríamos deixar o sistema esmaga-los como se está a preparar para fazer. O próprio sistema só ganha um punhado de médicos acobardados e profundamente revoltados. Todos perdemos a luta por uma cidadania que sabe fazer contas e perguntas. Já basta de terror. O meu apelo é para que sejamos cidadãos.
PS: se o jornalista percebeu o mandarim consta que já temos sucessor do PR o que me faz sentir povo secundário no meu país. Não sei como é com os outros mas eu acho que merecia saber destas coisas antes do presidente da China. A ser como os chineses traduziram não é de descartar o cenário russo( o taxista tinha razão dizendo enquanto percorria a Julius Nyerere "ninguém constrói aquilo para outro homem")
Noticia de hoje na STV. O FMI reconhece haver orcamento para se conseguir aumentar os salarios do pessoal da Saude. Gradualmente e certo, mas ha margem...
Ora aqui esta uma declaracao que nao afina no discurso oficial. Que se torna inusitada vinda de quem vem.
Noutro desenvolvimento, o Governo reconhece que tem reduzido a fatia orcamental com a Saude e Educacao. Mas nada esclarece por que aumentou exponencialmente para os servicos de seguranca do Estado e a Presidencia da Republica. E nem sequer porque as actualizacoes salariais e pensoes de deputados, ministros e outros estiveram sempre em crescendo...
Contas dificeis estas!
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