Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
“FÁBULA OU HISTÓRIA Um dia, magro e sentindo um real desfastio Um macaco com a pele de um tigre se vestiu. O tigre fora malvado, ele tornou-se atroz. Ele tinha assumido o direito de ser feroz. Arreganhava os dentes, gritando: eu serei O heroi dos matagais, da noite o temível rei! Como malfeitor dos bosques, emboscado nos espinhos, De horror, morte e rapinas, escureceu os caminhos, Degolou os viajantes e devastou a floresta, Fez tudo o que faz aquela pele funesta. Vivia no seu antro, no meio da voragem. Todos, vendo-lhe a pele, criam na personagem. Gritava e rugia como as feras danadas: Olhem , a minha caverna está cheia de ossadas; Olhem para mim, sou um tigre! Tudo treme, Diante de mim, tudo recua e emigra; tudo freme! Temiam-no os animais, fugindo com grandes passos. Um domador apareceu e tomando-o nos braços, Rasgou-lhe a pele, como se rasga um farrapo, E, pondo a nú o heroi, disse: Não passas de um macaco!”
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“FÁBULA OU HISTÓRIA
Um dia, magro e sentindo um real desfastio
Um macaco com a pele de um tigre se vestiu.
O tigre fora malvado, ele tornou-se atroz.
Ele tinha assumido o direito de ser feroz.
Arreganhava os dentes, gritando: eu serei
O heroi dos matagais, da noite o temível rei!
Como malfeitor dos bosques, emboscado nos espinhos,
De horror, morte e rapinas, escureceu os caminhos,
Degolou os viajantes e devastou a floresta,
Fez tudo o que faz aquela pele funesta.
Vivia no seu antro, no meio da voragem.
Todos, vendo-lhe a pele, criam na personagem.
Gritava e rugia como as feras danadas:
Olhem , a minha caverna está cheia de ossadas;
Olhem para mim, sou um tigre! Tudo treme,
Diante de mim, tudo recua e emigra; tudo freme!
Temiam-no os animais, fugindo com grandes passos.
Um domador apareceu e tomando-o nos braços,
Rasgou-lhe a pele, como se rasga um farrapo,
E, pondo a nú o heroi, disse: Não passas de um macaco!”
[Victor Hugo, Jersey, Setembro de 1852]
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