10 abril 2010

Blanche/Malema: o roteiro de Jano (5)

Mais um pouco desta série.
Mas, como tenho procurado mostrar, Jano, porteiro do céu na mitologia romana, tinha duas cabeças: a do passado e a do futuro. No número anterior sugeri-vos a cabeça do passado. Vamos, agora, à proposta da cabeça do futuro. Prestai atenção ao vídeo seguinte, no qual Julius Malema, líder da ala juvenil do ANC da África do Sul, ataca e manda sair de uma sala onde se realizava uma conferência de imprensa, um jornalista da BBC, a quem chamou bastardo, na sequência de uma linguagem racializante:


O ANC, partido no poder na África do Sul, condenou fortemente o comportamento "agressivo e insultuoso" de Malema. A conferir aqui, aqui, aqui e aqui.Free Translation
No próximo número e a propósito da história sul-africana, procurarei falar-vos de uma expressão que uso com frequência: recursos de poder.
(continua)

21 comentários:

V. Dias disse...

Ontem na SIC o grupo do malogrado Blanche disse estar a armar-se para, primeiro, defender-se de eventuais casos de agressão, segundo, criar instabilidade no país, aproveitado-se do mundial que se avinzinha.

Aqui está mais um aviso à navegação de que os problemas da África do Sul, de cariz racial e políticos, devem, antes que o pior aconteça ser resolvido na mesa redonda, sob pena do país mergulhar-se num caos cujos sintomas assistimos.

É uma prova também de que a África do Sul deve precoupar-se mais em resolver os seus problemas de base, que levou o ANC a pegar em "armas", nomedamente a segragação racial, que andar a acelerar o desenvolvimento de "mente limpa" julgando estar a dinamizar a economia. Vimos no Zimbabwe que aquilo que foi construido em 20 anos, tornando este país um dos principais celeiros da África Auastral foi derramado em 6 meses.

Claro, tudo isto deve-se atribuir a culpa a dois lados, primeiro aos indomáveis que seguramente destruiram a economia zimbabweana com sanções e outras medidas adjacentes, segundo pela teimosia de Mugabe em não querer seguir as orientaçãoes, digo, coselhos se Samora de mais tarde de Chissano neste aspecto.

Zicomo

ricardo disse...

Este "comrade" esta a pisar o risco. Quem viver vera!!!

Eu apenas gostaria que os mocambicanos, COMO EU, pensassem no novo fardo que teremos de transportar por causa deste irresponsavel.

Por causa deste tipo, dos seus amigos da COSATU e da Liga Juvenil do ANC, vimos ainda alguns meses atras, estrangeiros, muitos dos quais mocambicanos, a serem linchados nas townships. E o mesmo problema, com matizes diferentes, cujo combustivel de revolta e permanentemente alimentado pela mesma FONTE!

Nao percamos a atencao disso.

Porque alguns dos participantes neste debate, estao solidarios com Malema, por ser negro como eles. E por Terre'Blanche ser branco. A alguns meses atras escreviam IRADOS contra a xenofobia na RSA, perpretada pelos mesmos autores desta confusao!

E eu estou farto de ser bom-samaritano.

Abdul Karim disse...

Ricardo,

As posicoes da COSATU parecem me substanciancialmente diferentes. E nao sei se sao alimentadas da mesma FONTE.

"xenefobia" nao foi "organizada" pelo malema, tem causas muito proprias...

E os mocambicanos tambem nao foram so vitimas, la... houve problemas comportamentais muito proprios nossos...

Voces da historia ( ciencia exacta como dizem ) nao deviam ignorar deteminadas FONTES... se nao depois a historia pode sair deturpada, tambem com vossas suposicoes e misturacoes.

ricardo disse...

Karim...

Tenho de discordar. Quem disse aos operarios sul-africanos que nao haveria aumento salarial, porque os estrangeiros estavam dispostos a trabalhar por menos foi a COSATU. E essa declaracao, antecedeu aqueles fatidicos acontecimentos.

Se me diz que a Xenofobia nao foi organizada por Malema, entao, a xenofobia tem raizes no seguinte:

1. Falha da GEAR (Growth, Employment and Redistribution);
2. Deriva do progressismo para o neoliberalismo por parte do ANC;
3. Falha do Black Economic Empowerment;
4. Diminuição da dependência dos países industrializados em relação aos minerais sul-africanos;
5. Minas mais improdutivas. Maiores custos de producao;
6. Novas tecnologias, retiram trabalho bracal e menos qualificado;
7. Idade da industria extractiva. A exploracao e cada vez mais profunda, logo, mais dispendiosa;
8. Crise energetica, devido ao aumento exponencial de novos consumidores que a abertura pos-apartheid possibilitou, sem a devida planificacao estrategica.

Causas que Arao Valoi, desenvolve aqui: http://arao.bloguepessoal.com/215360/Um-olhar-sobre-as-causas-da-instabilidade-na-RSA/

Como percebera, Malema e parte do problema. E nao da solucao. Se nos ativermos na causa # 3, rapidamente chegara a esta conclusao. Porque Malema e hoje um milionario, mas nem por isso essa opulencia traduziu-se no bem-estar de quem ele diz representar. Por outro lado, as causas # 1 e 2 radicam no imperativo nacional de se criar uma burguesia negra, que Malema tambem endossou na primeira hora. Finalmente, a ultima causa, e o resultado da incompetencia em planficar o desenvolvimento de um pais uno e com cidadaos com direito iguais. Incompetencia, claro esta, que deve ser atribuida a quem esta a governar a RSA actualmente. Porque aqui, o interesse cingiu em "dar luz a todos os sul-africanos". E ninguem quiz saber quem e que iria produzir essa energia...

Quando Malema e seus acolitos viram agora os seus canos para a Agricultura, depois de terem tomado a industria extractiva, que se revela um presente envenenado pelas causas em epigrafe, podera estar a satisfazer os anseios da sua novel elite negra. Mas repete os erros anteriores que levaram a probreza de muitos sul-africanos. E nessas altura, e muito simples escolher estrangeiros, ou individuos de racas diferentes para justificar o deadlock que nascera do questionamento similar " dar terra a todos os sul-africanos". Mas que ira alimenta-los a todos?

Sao questoes dificeis que nem sempre o coracao, mas sim a razao, obrigam a adiar.

Quando leio pessoas a dizer que em Mocambique resolveu-se logo o problema. Eu pergunto para que? Serao os camponeses mocambicanos tao donos das suas terras como o foram em 1975? Logico que nao!

Portanto, voces das ciencias humanas, no lugar de fazerem citacoes estrondosas dos vossos idolos e poesia de combate, deveriam pensar antes de agir...

Porque, certamente, nunca me ira encontrar neste forum a dizer coisas sem antes as ter estudado.

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Xeque FONTES alternativas... existem nao 'e ?

"xenefobia" coloquei entre aspas porque quiz colocar assim... foi deliberado.

"xenefobia" 'e termo discutivel, tambem.... por aquilo que aconteceu na RSA...

e as suas "conclusoes" em relacao as raizes da dita "xenefobia" pecam por carecer de fundamento, metodologia e credibilidade, assim como as das suas FONTES....

Sugiro que aumente as horas de estudo. Invista menos em inventar estoria, nao esta resultar, e 'e bem capaz de aumentar as suas inquetacoes.

Linette Olofsson disse...

Mau exemplo para a juventude do ANC, como para outros jovens!
O Poder subiu-lhe a cabeça e daí a arrogancia!
Tudo que tem um início, tem um fim!
Faz-me recordar de algumas atitudes no País depois da Independencia.
Movimentos de libertação....

Abdul Karim disse...

Pra contribuir na investigacao,

http://www.research4development.info/news.asp?ArticleID=50386

ricardo disse...

Estudei o link que me sugeriu e rapidamente percebi porque nao estamos alinhados. E que eu privilegio as CAUSAS macro (estruturais) como principio de analise:

"1. Falha da GEAR (Growth, Employment and Redistribution);
2. Deriva do progressismo para o neoliberalismo por parte do ANC;
3. Falha do Black Economic Empowerment;
4. Diminuição da dependência dos países industrializados em relação aos minerais sul-africanos;
5. Minas mais improdutivas. Maiores custos de producao;
6. Novas tecnologias, retiram trabalho bracal e menos qualificado;
7. Idade da industria extractiva. A exploracao e cada vez mais profunda, logo, mais dispendiosa;
8. Crise energetica, devido ao aumento exponencial de novos consumidores que a abertura pos-apartheid possibilitou, sem a devida planificacao estrategica."

Simplificando, os recursos sao escassos. Mas tem de ser divididos por todos. De que modo deverao se-lo? Eis a questao. Este e o mundo material em que vivemos.

Enquanto que V.Excia defende o uso de paliativos para debelar EFEITOS micro (localizados):

"1 .Develop interventions to promote accountability and counter a culture of impunity;-- Mas na RSA sempre existiu um primado da Lei!

2. Put in place resources and mechanisms to encourage existing civil society organisations to support the rights and welfare of non-nationals along with other marginalised and vulnerable groups; -- Sem empregos nem riqueza, deverao ceder o que tem aos outros, porque?

3 . Promote positive reforms to build inclusive local governance structures;
-- deriva do ponto anterior

4 . Open up more channels for legal migration;
-- concerteza, mas isso implica em humanizar o trabalho assalariado na RSA indiscriminadamente aos estrangeiros e nacionais. Ora, ai reside a diferenca: os nacionais sao sindiclaizados e protegidos por lei. Os estrangeiros sujeitos a lei do mais forte

5. Support government to address xenophobic and discriminatory practices in public institutions;
-- decorre dos pontos anteriores

6. Promote a human rights culture among the people of South Africa;
-- estamos de acordo. Mas comissao da verdade nao resultou? Teria sido melhor um Julgamento de Nuremberga?

7. Conduct ongoing, systematic inquiries into anti-immigrant and anti-outsider violence and the political economy of township life;--propoe-se um estudo a uma economia informal & com ligacoes ao crime organizado. Diga-me se isto e fisicamente realizavel?

8. The government to work together with International Organisations (e.g., IOM, UNHCR, OCHA) and civil society to develop early conflict and disaster warning and management systems; -- Dar emprego a "consultores", essencialmente...

9. Sensitise and capacitate media to undertake responsible reporting on migrants and migration issues."-- Ah, pois concerteza! Este e um ponto importante. Porque a media construi muitas ideias, mas tambem muitos "Malemas" pelo numero de segundos que lhe concede. Veja o caso de Dhlakama. Desde que a imprensa se "esqueceu" dele tem sido motivo de debate?

Na minha visao, e simplismo conceber que esta falta de informacao seja produto da ma (in)formacao ou falta de cidadania.

E dai a nossa aparente diferenca de opiniao.

Aparente, porque nada mais e do que uma incorrecta interpretacao da Lei de Murphy aplicada aquele pais.

Porque na RSA, perante a fatalidade de se ter de errar como os outros paises vizinhos ja o fizeram, poderiam muito bem faze-lo pela metade das vezes. Mas isso, so advira das próprias escolhas dos actuais sul-africanos.

Disse

Reflectindo disse...

Quero acreditar que o percurso político de Julius Malema no ANC tenham chegado no seu fim. Que Malema se prepare para criar um partido da extrema esquerda!

Mas uma nota, temos muitos Malemas e Blanches em Mocambique. Cuidemo-nos deles!

Abdul Karim disse...

As "macro estruturais" tambem estao representadas no documento, investigou pouco, e outra vez saiu "concluindo"....

O link era so uma pequena contribuicao...

Investigue. Com calma, e depois volte.

Nao se preocupe, a situacao esta controlada.

ricardo disse...

Karim...

Se estao no documento, entao sao tao irrelevantes que nao mereceram destaque de conclusao. Bem dito ate, nem sese quer la estao, porque ja no inicio, adverte que o estudo descarta as hipoteses economicas para a determinacao do problema. Por isso e que eu digo que estamos a usar perspectivas diferentes. Eu nas CAUSAS. Voce nos paliativos para os EFEITOS.

Esta passagem...

"...expressed hopes that the current political leadership would help to rid the community of foreigners. They believe the former government protected foreigners because most of the cabinet members had been in exile...they were holding ‘Mbeki Papers’ that were no longer valid now that Jacob Zuma was heading the ANC..."

da-lhe os azimutes do viveiro de MALEMAS xenofobos!

E so inferir o resto.

Bem, mas o que e que vou fazer? Nao adianta estar sempre a falar no mesmo, quando estamos perante dogmas.

E alem disso, ha outra coisa. Essa "receita de bolo" que o site do DFID acolhe, assemelha-se em muitas coisas (fazendo um paralelismo) a estrategia de luta contra o HIV. Que apela extensivamente ao uso de estereotipos...

1. Moralizacao;
2. Popularizacao do Condom;
3. Assistencia social ao domicilio;

etc.

Mas se aparecesse alguem a problematizar assim:

1. Contribuicao da industria do alcool na expansao do HIV;
2. Contribuicao da industria do alcool no aumento receita fiscal do pais;
3. Contribuicao do HIV na diminuicao da receita fiscal no pais;

etc.

Certamente seria aconselhado a estudar melhor o assunto. Lei de Murphy, pois claro.

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Nao percebeu que as recomendacoes sao macro. E considera irrelevante o conteudo dum documento duma Universidade Africana, sobre um fenomeno que afecta os Povos Africanos...

Sr Ricardo,com o devido respeito, o sr esta-me a sair uma peca surprendente...

Mas tudo bem,... Vamos deixar rolar... e observamos, 'e metodo tambem, observar.

ricardo disse...

Como e que pode dizer que as recomendacoes sao MACRO, se as suas conclusoes cobrem o extracto das townships?

Sendo a RSA uma sociedade profundamente racializada, poderiamos generalizar e aplica-las aos suburbios mesticos da area de Cape Town, onde ciclicamente ressurgira o fenomeno PAGAD?

Poderiamos aplica-las, ao contexto dos descamisados brancos das diferentes matizes (anglos & boers)?

Indo mais longe ate, poderiamos aplica-las a novel elite negra que pugna pela saida dos estrangeiros?

Estamos a falar de 51% da populacao da RSA.

E evidente que nao. Trata-se de um estudo localizado, nao pode ser generalizado. E nao e por ser universitario que merecera menores reparos.

Por isso, baseado no que li, nao considero uma abordagem MACRO, em contraponto com as hipoteses que avancei, as quais atingem transversalmente todos os sul-africanos.

Abdul Karim disse...

Continue...

A COSATU ja se apresentou, no post acima.

ricardo disse...

Veremos se depois do Mundial 2010 a sua posicao nao se altera...

Abdul Karim disse...

Combinado.

magumane disse...

Vejam isto também

Caso oposto de Malema?

V. Dias disse...

Na há teorias x nem y sobre a situação na RAS, o que há por fazer é dividir o bolo por igual.

Zicomo

Reflectindo disse...

Caro Magumane,

Eu escrevi que AWB = Julius Malema.

E não pode haver confusão.

Anónimo disse...

Não sei se pregunto algo absurdo, mas será que Moçambique não poderia realizar um acordo com a África do Sul para distribuir terras que estejam sub aproveitadas em Moçambique e dar assim um impulso a agricultura no nosso país?

Note-se que não falo de distribuição de terras para farmeiros brancos apenas (como se tentou no passado em Niassa e Manica), falo de toda a gente com capacidade de praticar a agricultura rentável.

Enrique

umBhalane disse...

Sr. Enrique

O Sr. acaba de colocar uma questão de primordial importância, e de mero bom senso.

Nasci numa plantação de cana-de-açúcar, propriedade de capitais maioritariamente maiores, mais grandes, Britânicos.

No escritório geral/sede da SSE flutuava ao vento, ao tempo, e ao lado da Bandeira Portuguesa, a Bandeira do Reino Unido.

Não, não era o pavilhão da SSE, era mesmo o Union Jack Flag - e escrevo tudo isto para alguns muanas aprenderem.

E tenho noções de agricultura, nomeadamente a extensiva.
Mas não me fico por aqui (extensiva).
Adiante.

De agricultura, percebo só de agricultura (e sua produtividade/economia/rentabilidade).

Agora, de agricultura branca, preta, castanha, amarela...

nunca estudei, nunca pratiquei, não sei mesmo fazer - vou ter que fazer uma reciclagem, uma capacitação.

E tudo isto, não é de forma alguma brincar com o Sr., entenda bem, por favor.

Apenas referir que o Sr. teve a necessidade de ressalvar de imediato, para esses não, só para esses, não (brancos).

E o grande problema agrícola, na África Austral, começa aí.

A sua questão é pertinente, actual, mas há assuntos mais importantes na agenda.

A LIMPEZA ÉTNICA.

Verdade inconveniente?