No México, ao estilo dos cartéis da droga, comandos armados mataram 24 pessoas, na sua maioria jovens. No Iraque, uma mulher-bomba matou 46 peregrinos xiitas e feriu 122.
Notícias desse tipo percorrem os canais de informação quase todos os dias, pertencem ao mundo virtual. Certamente provocam, aqui e acolá, surpresa, sofrimento e denúncia.
Mas a multiplicação banalizada desses espaços de sofrimento amortecido e ritualizado põe em causa todo aquele mundo sensorial de piedade que se alimenta da realidade próxima. É como se a piedade estivesse a ou pudesse perder o real e diversificado palco da vida sofredora.
Por hipótese, se sofrimento surge, provavelmente tem, já, apenas, uma natureza estética, um tecido teorizável em permanência, lá onde o écran televisivo e o jornal virtual se tornam unicamente pretexto para o já visto no espectáculo.
Adenda: talvez um dia possamos criar uma linha de pesquisa virada para o estudo do sofrimento, da piedade e da denúncia em nosso país.
4 comentários:
Talvez pudessemos a acrescer o exemplo do Haiti, analisando o tipo de jornalismo feito no local por dois gigantes da Televisao: a CNN e a AlJazeera. Enquanto que a primeira estava mais preocupada em destacar os esforcos que o mundo ocidental "estava fazendo" para responder a tragedia. A segunda mostrava "in-loco" o que se passava nas ruas caoticas de Port-Au-Prince entrevistando toda gente. Enquanto que a primeira mostrava as levas de desgracados a lutar por comida. A segunda entrevistava herois anonimos vindos de todo o mundo que levavam ajuda humanitaria ao interior da capital e arredores, sem serem violentados, enquanto se especulava na sede da ONU "as precarias condicoes de seguranca" para se ajudar as vitimas do sismo.
E como vimos, pessoas foram salvas 15 dias apos o terramoto. Se aquela gente toda tivesse avancado mais cedo, muitas mais vidas teriam sido salvas. Mas qual foi a media que EXPOS esta vergonha?!
O Sensacionalismo e que manda. O jornalismo da sem-mascara para expor a realidade esta em extincao.
E a opiniao publica e moldada pelo que ve, ouve e le nos media, por isso, esta e um canal de transmissao privilegiado para difundir causas justas ou injustas, custe o preco que custar.
Excelentes exemplos.
Talvez seja exatamente por causa dessa banalização do sofrimento, da cauterização da nossa mente e das nossas emoções ante ao horror e a dor, que tais notícias só chegam a nos chamar atenção quando anunciadas com sensacionalismo. Parece mesmo que anunciar um dado, um número, um fato trágico ou alarmante não faz mais ninguém refletir ou sentir algo.
Nós somos as aves de rapina que se alimentam de carniça, não a mídia. Nós e eles somos o mesmo, afinal.
Pois é Prof. Também acredito que essa linha de pesquisa seja iniciada, especialmente para tentarmos perceber porque é que quando algumas pessoas decidem abandonar uma competição após um atentato que deixou mortos e feridos graves, estas são sujeitas a penas pesadas. Falo do caso do Togo que foi suspenso por 2 campeonatos africanos e ainda sujeito a uma multa em dinheiro. Será que já nao temos o direito de chorar os nossos mortos?
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