22 fevereiro 2010

África natureza

Não poucas vezes aqui tenho falado do turismo, da publicidade turística que exalta os nossos recursos naturais, as praias, os animais, as cores, etc. Não poucas vezes, também, os nossos governantes prezam-se em falar desses fabulosos recursos, lá fora exibem-nos com orgulho. A questão está, então, em fazer do nosso país um lugar paradisíaco, um céu na terra, um bush and beach incomparável. Mas não só. Igualmente publicitamos as nossas riquezas minerais. Contudo, o meu problema não está nos recursos em si, o meu problema está na metamorfose discursiva do social em natural, na apologia densa daquele estado de natureza a que Hegel se referiu quando sobre África escreveu. Natureza pujante e diversa: eis o menu que divulgamos por todos os meios. E se coisas ocorrem no social, é evidente que as fazemos circular pelo lado trágico, bizarro, folclórico ou anedótico. Somos, definitivamente, natureza que rende.

2 comentários:

Abdul Karim disse...

" bush and beach " 'e realmente incomparavel...

o slogan da mozambique em turismo diz...

" land of contrasts " ...

... onde o animal selvagem tem mais direitos que o humano...

ricardo disse...

Fado Tropical (Chico Buarque e Ruy Guerra)

Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."
Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa"
Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

musica aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=VHQFmBrjLCM&feature=player_embedded