16 janeiro 2012

Kim Jong-il, multidões, desespero e problemas de análise (11)

Décimo primeiro número da série, dedicada ao estudo das reacções populares à morte do presidente norte-coreano e, em particular, de certas reacções na imprensa ocidental sobre a autenticidade das primeiras.
No número nove propus-vos mais quatro pontos destinados a orientar os textos seguintes. Prossigo no segundo, a saber: 2. Imprensa, "guerra fria", política e manipulação.
Parece-me razoável propôr que não há meios de comunicação independentes de linhas de orientação, de posições políticas, de adesão a certos princípios, de patamares ideológicos. Mas num clima de disputa acirrada de recursos estratégicos e de hegemonias mundiais ou regionais, os princípios orientadores dos órgãos de comunicação tornam-se mais agressivos, mais claros. É neste contexto que política e manipulação se dão mãos. A Coreia do Norte é, a este respeito, interna e externamente, um exemplo paradigmático. Prossigo mais tarde.
Nota: confira o seguinte título disseminado por muitos portais: Cenas de desespero no funeral de Kim Jong-il; confira os 181 comentários a um texto de Carlos Vidal, aqui; estude este documento aqui. Imagem reproduzida daqui.
(continua)

4 comentários:

Salvador Langa disse...

Se conferirem certos canais na net vão verificar que tudo o que vem da Coreia do Norte é por eles considerado mau e falso.

Marta disse...

Claro, o "perigo amarelo" de muitos ocidentais...

ricardo disse...

Sr. Professor, os pontos que avanca podem ate demonstrar uma certa rotulacao da Coreia do Norte pelos media no geral. Contudo, nao sustentam, nem negam o "porque" do ser norte-coreano, ou sequer, se o que vimos nos ecrans da TV e verdadeiro, ou encenado. A meu ver, e verdadeiro. Pese embora, eu afirme isto dentro dos devidos limites cientificos. E para tal, socorro-me da definicao behaviorismo (ou comportamentalismo) para explicar aquele e outros fenomenos que ao longo dos tempos tem caracterizado o modo de ser colectivo dos norte-coreanos. Com efeito, o termo comportamentalismo, que se usa muito pouco em psicologia, tem em outros dominios designacao mais geral, sendo a explicacao mais logica para aqueles eventos. Isto e, trocando por miudos, todo Homem pode ser moldado a medida dos estimulos que recebe de uma tabua rasa social, cujo comportamento sera tao ou mais homogeneo quanto mais aquela for. Ora, o sistema politico, a cultura e a primazia de Confuncio, criam condicoes naturais para que isto suceda na Coreia do Norte quase institivamente. Diria ate mais: ELES CONSEGUIRAM materializar o que Orwell imaginou no livro "1984" e assumi-lo como modo de vida. Para sinalizar, Chomsky sempre foi um critico acerrimo do behaviorismo. Mas tudo e dinamico na Historia da humanidade. Tempos virao em que a Coreia do Norte mudara, embora nao creio que o seu modo de vida fique identico ao da Coreia do Sul, cuja tabua rasa social ainda e moldada de acordo com o americanismo no auge da era McCharty, ainda que existam hoje muitos mais pontos de referencia para ofuscar o behaviorismo sul-coreano. Socorro-me tambem no caso alemao, onde mais de 20 anos apos a queda do muro de Berlim, os habitantes da ex-RDA com toda aculturacao e perseguicao federal aos antigos simbolos e valores da era Honecker, ainda cultivam os mesmos habitos culturais, musicais, gastronomicos e ate politicos!
Contudo, a Coreia do Norte tem estado em metamorfose constante desde a morte de Kim-Il sung. Isso e indubitavel. Existe uma perestroika "a chinesa" la, a semelhanca de Cuba, Vietname e Mongolia. Li com muita atencao o destaque que mereceu na KCNA a inauguracao de um supermercado em Pyongyang de uma cadeia chinesa, que vende produtos locais e importados (lembrei-me de episodio identico sucedido aqui com o SHOPRITE) e da curiosidade e interesse que isto criou junto do publico em geral, mas sobretudo na elite politico-partidaria. Mas meus senhores, trata-se somente de um pequeno supermercado para os padroes ocidentais. Na Coreia do Norte, e noticia do seculo. Eles tambem, criaram ja a sua versao local do "CPI" chamada Instituto de de Estudos do Sistema Capitalista (!). Portanto, metodicos e cuidadosos como sempre foram, estao fazendo as reformas a sua velocidade e a medida das suas capacidades de sobrevivencia politica.

Note-se porem, a contradicao dialectica entre o behaviorismo norte-coreano e estes dois exemplos sacrossantos do capital puro e duro com que foram obrigados a lidar. Esse e afinal o dilema de todos os ex-comunistas que passam a amar a acumulacao primitiva do capital. E sua perdicao tambem...

TaCuba disse...

'Mas, para muitos, o choro convulsivo nas ruas pode ser uma reação natural, segundo Kerry Brown, chefe do programa asiático do centro de estudos Chatham House, de Londres. Isto porque a morte do líder levanta entre os norte-coreanos questões a respeito de sua identidade, segurança e capacidade de sobrevivência. Para Brown, a Coreia do Norte é uma nação que se sente como se estivesse sempre em estado de guerra e sempre contando com a benevolência e a proteção de seu líder. Mas não sabemos mais a respeito dos sentimentos reais do povo norte-coreano do que sabemos sobre as lutas de poder na elite governante do país. "O controle de informação é tão grande que é possível que eles sintam um choque real. Então é histeria verdadeira, mas não sabemos se é o que nós, no Ocidente, chamamos de dor do luto", disse. Os norte-coreanos podem ter sido informados de que estão sob uma espécie de ataque constante dos Estados Unidos, acrescenta o pesquisador, e que as "grandes vitórias" do passado resultam da eficácia de uma forte liderança, então não seria de se estranhar que a morte do líder em um sistema tão patriarcal não repercutisse na vida das pessoas.
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http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/pranto-de-nortecoreanos-por-morte-de-lider-e-sincero/n1597418667521.html