08 abril 2016

Espírito do deixa-falar [4]

Número anterior aqui. Membros da equipa "Espírito do deixa-falar", da esquerda para a direita nas caricaturas em epígrafe: Sónia Ribeiro, moçambicana, professora de Biologia, Bairro Sansão Muthemba, cidade de Tete; Carlos Serra, moçambicano, coordenador, Bairro da Polana, cidade de Maputo; Geraldo dos Santos, moçambicano, historiador, Bairro da Malhangalene, cidade de Maputo; Félix Gorane, moçambicano, advogado, Bairro do Macúti, cidade da Beira; Joseph Poisson, francês, farmacêutico, Rue des Écoles (quarteirão latino), cidade de Paris. Sobre a história do surgimento do "espírito do deixa-falar", leia o que o Geraldo Santos escreveu em 2006, aqui.
Geraldo dos Santos: Olá a todas e todos. Tanto quanto percebi, temos agora duas visões: a primeira, defendendo que as manifestantes foram à Francisco Manyanga protestar contra a obrigatoriedade de uso de maxisaias; a segunda, defendendo que as manifestantes foram à Francisco Manyanga para exigir o respeito pelo corpo das mulheres independentemente do tamanho das saias. Então, se a forma como coloquei o problema estiver correcta, é lícito concluir que a colocação errada de uma questão gera uma resposta errada. Respeitosos cumprimentos.
Carlos SerraNo século XIX, Karl Marx escreveu num livro chamado Grundrisse o seguinte: "Nasce aqui a questão de saber se este problema não prenuncia já a sua falta de sentido e se a impossibilidade de solução não está já contida nas premissas da questão. Frequentemente a única possível resposta é a crítica da questão e a única solução é negá-la." Abraços.
Sónia Ribeiro: Caro Gorane, ninguém está a defender o corpo nu sem calças ou sem saias, ninguém está a defender a legitimidade da nudez no sentido que é o seu. O problema central consiste no respeito pela feminilidade, use a mulher a capulana, a maxisaia ou a minisaia. E esse problema é independente de culturas e nações, não é africano, asiático ou europeu. O problema, caro Gorane, não está no tamanho da roupa que cobre o corpo feminino, mas na nudez libidinal do androcentrismo que, no seu caso, é...africano. Bjos do tamanho do Zambeze.

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